quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Crónica de um dia no Museu


17 Anos depois eis que fui escalado no serviço do Museu da Carris. Não diria que seja o concretizar de um sonho, mas foi algo que sempre ambicionei, não só pela experiência em si, mas pelo gosto que tenho pela história da Carris e por poder contribuir para que, quem o visita, fique também a conhecer a importância da Carris na própria história da cidade de Lisboa, que cresceu à boleia da expansão da rede do centro para as periferias.

Ao longo dos anos que levo de Carris, tive a oportunidade de poder concorrer a outros cargos que não o de tripulante, como por exemplo o de controlador de tráfego, contudo o gosto pela condução levou-me sempre a deixar essas oportunidade de lado porque sempre achei que poderia dar mais de mim fazendo aquilo que realmente gosto e quando me perguntavam o que gostaria de fazer alem da condução sempre disse que tinha um gosto pela área da formação e pela área museológica da empresa, ainda que nunca tenha tido o devido retorno.


Tive no entanto, a oportunidade de nos últimos anos fazer parte da equipa que leva o museu às ruas de Lisboa por ocasião do desfile anual comemorativo do aniversário da empresa. E de imediato me apercebi que é junto dos veículos históricos que me sinto como peixe na água. Poder conduzir veículos, que se falassem, teriam imensas histórias para nos contar e que nos transportam a épocas passadas é de facto uma experiência enriquecedora, e que nos faz ver e perceber que quem criou estas máquinas eram de facto génios, porque elas continuam a transportar-nos no presente a verdadeiras viagens ao passado. 

Assim, esta quarta-feira tive a oportunidade, de em conjunto com a equipa fixa e administrativa do museu, fazer parte de... "um dia no museu" e não posso deixar de partilhar aqui convosco esta experiência.

Pelas 10h00 recebemos os primeiros visitantes, alunos do colégio moderno que vieram conhecer a história da Carris e como eram os transportes nos tempos em que os pais tinham as suas idades. À entrada para o eléctrico que os levaria ao núcleo 2, muitos já sabiam que quem os iria conduzir era o guarda-freio, fruto da atenção que tiveram à visita guiada pelo núcleo 1. Chegados ao espaço onde estão expostos os veículos, já estava mais um grupo a dar entrada no núcleo 1, e desta feita eram colaboradores e futuros colaboradores da Carris. 

Entre grupos e turistas tive também a oportunidade de trocar umas impressões com um reformado da Carris que com a esposa veio recordar outros tempos. Terminou a sua função na Carris como controlador de tráfego em 2004 e dizia-me com orgulho e brilho nos olhos que foram os melhores anos da sua vida. A esposa concordava e dizia que tinha "começado a trabalhar e no dia seguinte já estava em casa porque a empresa lhe tinha dado o dia de aniversário"

Num instante já estava a trocar novas impressões com um casal da Estónia que estava impressionado por visitar um museu e poderem viajar num eléctrico do século passado. Foram os visitantes que provavelmente demoraram mais tempo a visita onde contemplaram um por um cada um dos veículos expostos, talvez imaginando como seriam as viagens à época. 

De Inglaterra chegavam minutos depois, dois entusiastas interessados por autocarros de dois pisos e entre conversas de autocarros e eléctricos chegaria a pausa para almoço.

Ao longo do dia, as visitas foram aparecendo umas atrás das outras o que acabou por me surpreender e ainda bem, pois é sinal que ainda há muita gente interessada pelo mundo dos transportes e prova disso foi também a visita de dois colegas dos STCP que também desfrutaram de uma visita que acredito, tenha sido uma verdadeira viagem no tempo.

Virar o trolley, pegar nos manípulos e mudar de plataforma. Há mais quatro clientes para apanhar no núcleo 1. Chegam de Madrid e ao recebê-los dizem-me de imediato "estamos encantados por este museu", e quando os convido a subir ao eléctrico "São Luís", ficam surpresos com a viagem que os leva ao parque onde autocarros e eléctricos os aguardam. Deixo-os à vontade explicando o que se seguia e no fim da visita quando os apanho de regresso até à saída, o senhor diz-me que "maravilhoso é este espaço. Todos los tranvias circulam?", explico-lhe que os que estão na primeira parte ligados à rede sim e que saem anualmente durante o desfile comemorativo do aniversário da empresa, juntamente com o autocarro laranja e o verde de dois pisos. Ficou admirado!

Percebi que o senhor era mais que entusiasta pelo que me ia falando, sobretudo sobre autocarros e suas marcas, até que me diz que era responsável pelo parque de exposição do museu dos autocarros de Madrid, da EMT. Escusado será dizer que tivemos conversa até ao fim da visita cujo a temática foi claro está, autocarros. No fim agradeceram imenso e disseram que o museu estava muito bom. 

Até ao fim do dia, vieram ainda mais, um casal e um jovem entusiasta, que acompanhado da sua tia acabou por fazer uma visita rápida porque já é cliente habitual e talvez tenha aproveitado a oportunidade para ver a nova maqueta do novo eléctrico articulado da CAF, à escala 1/25 que já está exposta no núcleo 1 do museu.   

Chegava então ao fim um dia de trabalho diferente e naquele que considero ser o meu mundo. Não sei se lá voltarei ou quando voltarei, mas acho que cumpri e bem a minha missão, porque quando se faz o que se gosta tudo é mais fácil, mas não quero deixar de agradecer ao João Alberto, meu colega de formação que já por diversas vezes realizou lá serviço e me deu dicas importantes, assim como agradecer a toda a equipa administrativa do Museu, por tão bem me receber e deixar à vontade, no desempenho das minhas funções enquanto guarda-freio do Museu, pelo menos por um dia. 

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

E assim vão as viagens em dias cinzentos pelas ruas de Lisboa

Os dias passam, as semanas também e com eles os meses e os anos. No entanto actualmente vivemos tempos em que tão depressa parece que o tempo voa, como ao mesmo tempo parece custar uma eternidade a passar. A vida fervilha entre o vai e vem no meio de uma cidade cada vez mais caótica e sem regras, com obras e desvios, com atrasos que nos desgastam dia após dia. Dias emq ue cada vez mais trabalhamos para sobreviver e não para viver. 

Trabalho há 16 anos na Carris, faço algo que realmente gosto, conduzir eléctricos e autocarros, mas aquele entusiasmo e motivação que me fazia querer que as folgas passassem rápido, perdi-o algures por aí. Chego ao fim do serviço e só quero é regressar rapidamente a casa para descansar, e tudo do resto do dia, já deixou quase de ser história para contar, porque já ali estou apenas porque gosto do que faço, apenas isso.

Há dias li um comentário na página do facebook do Diário do Tripulante de um ex-colega com quem ainda trabalhei e que desde cedo foi lendo o que por aqui tem vindo a ser escrito e comentava ele numa das últimas publicações que "recordo-me de textos mais elaborados, com metáforas, trocadilhos, adornos, etc. Agora vejo reticências e isso deixa-me triste", disse. Também eu sinto essa tristeza, não uma, não duas, mas muitas vezes.

Continuo a "vestir a camisola" como sempre o fiz desde o primeiro dia em que entrei na Carris, continuo a gostar da Carris, mas hoje a Carris está diferente. Hoje não sinto aquela camaradagem que havia, não há por vezes um cumprimento entre colegas, não há motivação, não há muitas das vezes respeito, não há o que havia e que deixou de haver...

O que me prende? Gostar do que faço por muito que isso seja por vezes incompreendido por muitos, ou uma aversão para outros. Continuo a ser pontual, a não faltar, continuo a ser eu, como sempre me conheceram, mas que vale isso hoje em dia? Isso mesmo... nada. Há dias em que paro e penso, "será que vale a pena?" Sim vale sempre a pena, nem que seja pelo nosso brio profissional, pelo nosso sentido de responsabilidade, pelo nosso carácter.

Factores internos e externos são a causa de um descontentamento que nos faz até afastar da blogosfera. A cidade que em vez de facilitar complica os transportes públicos, com corredores bus a serem eliminados, com falta de policiamento, com falta de regras, com desvios e mais desvios, com supressão de linhas e encerramentos de ruas. Os salários desajustados sobretudo após a inflação verificada e que nos fazem ver que somos realmente mal pagos, mas que ninguém quer saber. Basta comparar os recibos de vencimento de 2007/08 com os de hoje.

E no fim disto tudo pergunta o leitor... "Então mas porque ainda continuas ai?" Porque gosto do que faço, porque dá-me gozo conduzir eléctricos e porque apesar de tudo gosto da marca e da história, sim da história da Carris. Porque estou perto de casa. Quanto ao presente, bem esse é um dia de cada vez e de preferência que passe bem rápido, porque as pessoas hoje em dia não são como eram, porque o serviço publico hoje em dia é mais serviço turístico e de pé descalço e porque são cada vez mais os números que interessam, seja ou não o serviço bem feito. 

E assim vão cinzentas como o tempo, as viagens pelas ruas de Lisboa...

sábado, 23 de setembro de 2023

Lisboa parou para ver a história desfilar entre Santo Amaro e Algés

Lisboa parou neste Sábado uma vez mais, para ver a história passar e recuar no tempo. Parte do acervo móvel do museu da Carris saiu à rua para assinalar os 151 anos da Carris e dar assim lugar ao desfile de Clássicos da Carris, onde eléctricos e autocarros de outros tempos voltaram a deslizar sobre os carris de Lisboa e a cruzar as estradas da capital, este ano com a companhia do novo eléctrico articulado que foi ontem inaugurado oficialmente e que faz parte do presente e futuro da Carris. Tal como nas edições anteriores os eléctricos temáticos da Carristur (Cortiça, Arraiolos e Bordado da Madeira) também  participaram na viagem entre Santo Amaro e Algés. As memórias de quem noutro tempo neles se transportava veio de imediato à conversa entre os visitantes e passageiros deste desfile que contou com duas partidas, uma pela manhã (10h30) e outra já da parte da tarde (16h), esta última com ligeiro atraso provocado por uma interrupção no Altinho, em Belém devido a uma viatura mal estacionada. 


Esta foi também a terceira oportunidade, enquanto tripulante da Carris, de conduzir as relíquias neste evento onde levamos para fora de portas um pouco da história, divertindo-me ao conduzir um eléctrico salão da série de carros que entraram ao serviço em 1906, com o número de frota 330, um carro oriundo de Filadélfia com lanternim no tejadilho, que faz parte do espólio do museu, e sobretudo divertindo quem neste e nos outros se transportava ou com quem, com eles se cruzavam. Inúmeros sorrisos, acenos, fotografias e conversas trocadas num dia recheado de momentos que mais tarde serão certamente recordados. Um dia memorável para quem realmente ama esta profissão.

Dos mais pequenos aos mais graúdos, foi um passar de testemunho deste gosto pelos transportes como aconteceu noutros tempos em que os pais de hoje eram os filhos de então. São gerações que viajam a bordo e que bonito é ver todos juntos a comentar e partilhar algo que pelo menos por um dia é de ambos. Entre os passageiros encontrei caras antigas da Companhia e alguns seguidores deste blogue, como aliás já havia acontecido no ano transacto. 


Hoje tive então a honra de fazer parte da equipa e por isso as fotos que consegui foram poucas, mas as suficientes para poder aqui deixar este registo, de mais um desfile, daqueles que são o meu transporte favorito, os eléctricos.

Agradecer por fim o carinho demonstrado por todos os presentes e pelos meus futuros sogros, que já considero família que, marcaram presença no desfile a bordo do 283. 

Não quero no entanto terminar, e uma vez que tudo correu bem, sem deixar de dedicar este desfile a alguém que no ano transacto orgulhosamente me via chegar à Praça da Figueira no 802, o meu Pai que, certamente onde esteja, foi uma estrela que me guiou hoje e que estará a celebrar comigo este evento, assim como dedicá-lo também ao meu formador dos carros do museu, "chefe" Gama que também certamente estará, onde quer que esteja, a celebrar a data. Uma palavra também de agradecimento aos conhecimentos transmitidios no ano passado pelo formador José Cardoso e ao inspector Luís Monteiro, pelo reavivar desses mesmos conhecimentos durante a preparação deste desfile.  

E por fim, agradecer uma vez mais a aposta na minha pessoa para o desfile e pedir desculpas por nem sempre dar a atenção merecida a todos os que me procuram na altura onde a concentração exige alguma atenção nos carris. Espero que todos tenham gostado do desfile, onde também estão de parabéns a equipa do Museu pela organização, a Banda da Carris pela animação e claro as equipas da manutenção que trabalharam e ajudaram a tornar isto possível e sem problemas. Um abraço do tripulante que termina desejando-vos uma boa viagem a bordo dos veículos da CCFL. 





A equipa do Desfile 2023


Foto: Vítor Soares

Foto: Vítor Soares

Foto: Vítor Soares

Venha o próximo desfile!

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Parabéns Carris: 151 anos a subir e descer colinas movendo a cidade de Lisboa

A Carris assinalou no passado dia 18 de Setembro de 2023 o seu 151.º aniversário. Contudo a data tem sido celebrada ao longo desta semana europeia da mobilidade, ainda que não seja muita a mobilidade devido ao trânsito caótico de Lisboa. Hoje, assinala-se o dia europeu sem carros e na Carris assinala-se também a entrada ao serviço dos novos eléctricos articulados, após mais de 20 anos desde os últimos eléctricos a serem apresentados. 

Numa cerimónia realizada em Santo Amaro, onde coube ao presidente da Carris a apresentação da nova frota de eléctricos, deu-se assim o ponto de partida para oficialmente se dar início ao serviço de transporte de passageiros nos novos eléctricos, que foram adquiridos através de um concurso ainda lançado na anterior gestão da empresa e da própria Câmara. Os primeiros eléctricos chegaram em finais de Abril, vindos de Espanha e desde então têem chegado a um bom ritmo ao car-barn de Santo Amaro, complexo este para o qual foi anunciado um investimento de 50 milhões de euros para acomodar a nova frota de eléctricos. 

Após a apresentação deu-se a viagem inaugural entre Santo Amaro e o Cais do Sodré onde entre os convidados, marcou presença o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas. Com 28,5 metros, os novos eléctricos permitem à Carris e à cidade um maior transporte de passageiros por veículo e aumentar a frequência da linha 15E para a qual se prevê igualmente uma expansão.

Mas nem só de frota nova se faz a celebração dos 151 anos de vida. À semelhança do ano anterior, a Carris, através do seu Museu, coloca este sábado, 23 de Setembro, nas ruas de Lisboa aqueles veículos que ajudaram ao logo dos anos a construir a história da empresa e o crescimento da cidade. No já habitual desfile de clássicos, saem às ruas os veículos que habitualmente podem ser visitados no museu da empresa em Santo Amaro.

As viagens  inicíam-se às 10h e às 16h entre Santo Amaro e Algés, com viagem de regresso. Os ingressos custam 10€ e é provável que possam esgotar as vagas disponíveis. Aos eléctricos juntam-se autocarros também eles ícones da história da Carris como o 301 e o 1001. Quanto aos eléctricos haverá modelos para todos os gostos desde standards a salões com dois ou quatro motores e há ainda os 700 temáticos decorados a cortiça, arraiolos e bordado da madeira. 

Se não conseguiu bilhete, não deixe de os ver desfilar pelas ruas de Lisboa e recordar tempos passados em pleno presente. 

Ainda no dia de hoje foi também apresentado um vídeo promocional da Carris à chegada dos novos eléctricos sob o tema "são tuas as linhas que nos definem", fazendo igualmente referência à decoração da nova frota da transportadora. 


Lisboa, são tuas, as linhas que nos definem

quinta-feira, 27 de julho de 2023

JMJ2023: Momentos de paz ou de reflexão?...

Muitos dos meus leitores habituais, perguntam por diversas vezes o porquê de não surgirem como antes tantos posts sobre o meu dia-a-dia, pensando alguns dos casos, que este blogue deu por terminada a sua viagem. Contudo isso não corresponde à verdade. O blogue permanece vivo e em viagem pelas ruas de Lisboa, contudo não com o mesmo entusiasmo de outrora é verdade. No entanto também foi referido anteriormente que muitas das situações iriam surgir na página "Diário do Tripulante", no facebook para que chegasse a mais pessoas, porque ainda há quem não adira a este mundo da blogosfera. 

No entanto como escrevi anteriormente, o entusiasmo não é o mesmo de outrora. Não porque tenha deixado de gostar de fazer o que faço diariamente, mas porque o ambiente que se vive hoje em dia numa empresa de transporte público é desmotivador, o que, se a isto juntarmos o caos em que está trabalhar em Lisboa, dá um resultado como podem calcular, de querer desligar do trabalho mal termina a jornada laboral.

Obras por todo o lado, horários impraticáveis, desrespeito pelos utentes da via, má educação por quem se transporta, desmotivação profissional, salários desajustados, enfim uma série de ingredientes que ajudam a elaborar uma receita cujo os resultados estão à vista. A Lisboa que tantos apregoam, como sendo uma capital virada para o turismo, que segundo dizem é a nossa salvação, mostra-se não estar minimamente preparada para grandes aglomerados. Sofre aquele que tem de se deslocar de transportes para o trabalho e sofre claro está, aquele conduz e que dá a cara pela companhia de transportes, mesmo que não seja reconhecido como tal. 

Que interessa ter uma frota renovada e vistosa se não lhes são dadas condições para circular? Muitas perguntas ficam sem resposta porque estamos cada vez mais num mundo de aparências, onde somos cada vez mais apenas um número mecanográfico. Onde o quilómotro impera em detrimento da qualidade. Não interessa se é bem feito, interessa é ser feito. E perante tudo isto, aqueles que gostam realmente do que fazem e de fazer bem feito, como se sentem? ....

Serviços onde até a caminho de um WC (quando há!) temos turistas atrás de nós a fazer perguntas, onde quando temos uns 5 minutos para comer, temos pessoas a tirar fotografias ou a perguntar a que horas parte. Bolas mas o horário está na paragem! Quando temos um vidro a separar uma cabine de condução e temos constantemente pessoas a perguntar como podem comprar o bilhete ou se passa em Belém, mesmo que o destino do carro diga "BELÉM"...

E depois... bem depois temos as Jornadas Mundiais da Juventude que se realizam em Lisboa. Milhões de jovens peregrinos são aguardados numa capital já por norma saturada de turismo. Fazem-se ginásticas com serviços e tenta-se cativar pessoal tripulante para o serviço extra nestes dias, onde até já temos os bares da empresa a funcionar após as 17h00!!. Lembraram-se agora e bem, que há motoristas e guarda-freios a trabalhar de noite, mas não se podem esquecer é que os há todo o ano. Será um milagre de Francisco? 

Afinal de contas aquele ditado de "com pápas e bolos se enganam os tolos" parece ser o mote para estas jornadas não da juventude mas as laborais para quem tem de transportar toda esta gente que vem pela fé. Só que a diferença é que não são pápas mas sim o Papa a quem não deixamos de dar as boas vindas a Lisboa. 

Á parte disto, os novos eléctricos têm chegado a uma velocidade interessante e já são 5 os exemplares que estão em Santo Amaro, realizando testes para que em Setembro entrem ao serviço do público. 


[foto: globalnoticias.pt]

sexta-feira, 9 de junho de 2023

[Off Topic]: Crónica de uma escapadinha a Valência

Junho de 2023, chega o momento de recuperar energias, de trocar os manípulos do eléctrico pelos bilhetes e de passar de tripulante a passageiro. De local, a turista. Numa escapadinha de 4 dias, o destino deste ano e após o interregno provocado pela pandemia, foi o nosso país vizinho. Valência foi a cidade escolhida e que bela surpresa. Há muito na lista, até porque era uma cidade com eléctricos, entre os quais constam os Siemens iguais aos que conduzo habitualmente na 15E.


Valência é uma cidade portuária que se situa na costa sudeste de Espanha, banhada pelo Mar Mediterrâneo com as suas águas agradáveis como pudemos comprovar nesta viagem que fiz com a minha namorada. Conhecida como Cidade das Artes e das Ciências, com edifícios e construções futuristas, Valência conta igualmente com praias e a sua população ronda os 790 mil habitantes. Dista aproximadamente a 1h30 de avião desde Lisboa e o custo de vida é muito semelhante ao nosso no que diz respeito ao comércio a retalho, contudo os salários são mais aprazíveis que os nossos. Diria que comparando com Portugal, aqui trabalhamos para sobreviver e em Valência trabalha-se para viver... 


Durante esta estadia, tive a oportunidade de conhecer a rede de eléctricos que é composta por quatro linhas (L4, L6, L8 e L10) que se juntam às restantes linhas de metro (L1, L2, L3, L5, L7 e L9), fazendo todas elas parte da Metrovalência, empresa gerida pela FGV - Ferrocarriles de la Generalitá Valenciana. Todas as linhas circulam numa bitola de 1000mm ao contrário de Lisboa com os seus 900mm de distância entre carris.

A informação ao público é clara e intuitiva. Comprar um título de transporte é fácil quer seja nos postos de atendimento ao cliente, quer sejam nas diversas máquinas instaladas em todas as paragens e estações. A validação dos títulos de transporte é feita nos pórticos de entrada do metro ou nas paragens de eléctrico antes de entrar a bordo dos veículos. Outra das surpresas é o sistema tarifário que permite num cartão recarregável, serem carregados dois títulos de transporte para dois passageiros, ou seja, numa viagem Aeroporto-centro com 3 zonas associadas no trajecto, um cartão de 1€ permite o carregamento de duas viagens (3.00€/passageiro), ando um total de 7€. Como funciona? o primeiro passageiro abre a cancela e passa o pórtico. O segundo passageiro volta a validar o cartão e passa o pórtico. Simples e mais económico e amigo do ambiente.


Os veículos encontram-se apresentáveis e limpos, sem vestígios de vandalismo, à semelhança de toda a cidade que se apresenta cuidada e limpa. Andar nas ruas é quase como que andar em casa na sua maioria, onde dificilmente encontramos dejectos de animais ou papeis no chão. 

Recheada de monumentos de interesse histórico e cultural, Valência dispõe de um cartão turístico à semelhança de Lisboa, nas opções de 1,2 e 3 dias, dando acesso a museus e transportes, e descontos em parceiros. A arquitectura dos seus prédios fazem-nos andar de cabeça bem levantada e de olhar atento, como são por exemplo os casos do edifício do Banco de Valência, da Estação do Norte, da Câmara Municipal ou da Catedral.

Valência tornou-se uma agradável surpresa e certamente que voltarei a visitar, por isso, não posso deixar de aconselhar uma visita. As pessoas são amigáveis e a comida é igualmente uma agradável surpresa, onde o destaque vai para a paella valenciana, mas onde outros pratos se destacam. 

E como não pretendo ser um spoiller das suas próximas férias em Valência, apenas deixo algumas imagens da cidade com destaque para o tema que se destaca neste blogue, os transportes públicos. Não quero contudo terminar sem fazer uma referência à empresa FGV/Metrovalência pela amabilidade com que me recebeu e pela autorização concedida para a captação de imagens durante a minha estadia no interior das suas instalações, assim como agradecer a simpatia dos colegas com quem me cruzei durante as viagens.
























quinta-feira, 23 de março de 2023

Sejam bem vindos a(o caos de) Lisboa 2023


Obras, manifestações, falta de policiamento nos cruzamentos, falta de respeito dos condutores, tuk-tuks nos passeios, desvios, transbordos, pára-arranca e uma autarquia que despreza a tão afamada mobilidade. Sejam bem vindos a Lisboa 2023. 

Em vésperas da recepção ao Papa nas jornadas mundiais da juventude, Lisboa mostra não estar preparada para eventos dessa dimensão. Os transportes não conseguem cumprir horários, as pessoas andam stressadas e descarregam no motorista ou guarda-freio que tem por estes dias de ser o muro das lamentações de quem quer chegar rápido ao destino, mas que demora uma eternidade. 


A baixa de Lisboa que devia estar interdita ao trânsito, tem sido por estes dias a concentração da poluição em massa com a quantidade de carros, motas, autocarros, tuk-tuks e mais não sei o quê em filas intermináveis. Obras desde Dezembro na rua da Prata, têm agora a companhia das obras da rua do Arsenal e na Almirante Reis com o plano geral de drenagem. A capital parece um autêntico estaleiro onde quem nela trabalha tem de fazer labirintos para chegar ao seu destino. 

Um trajecto que habitualmente demora 12 minutos hoje demorou 1h05. O Cais do Sodré é um autêntico caus, sobretudo quando não estão por lá os agentes da polícia municipal a lembrar os condutores que só devem avançar para o cruzamento se tiverem a garantia que o conseguem passar sem o bloquear. Hoje não sei se a polícia municipal esteve em greve mas o certo é que hoje o trânsito chegou mesmo a parar no Cais do Sodré. 

Junto ao cais das colunas... Outro cartão de visita da capital, com tuk-tuks em cima das passadeiras e dos passeios na tentativa de captar clientes e de estragar fotos da mais bonita praça da Europa. Já para não falar do congestionamento que causam com as suas inversões de marcha repentinas em plena passagem de peões, ou nas fugas repentinas ao agente da polícia que lá passa de moto, como que de um jogo do gato e do rato se tratasse. 

Depois as manifestações que estão novamente na moda em que todos os dias há uma sabe-se lá onde e para onde. A juntar a tudo isto os condutores de tvde's super concentrados no smartphone, muitas das vezes circulado em marcha lenta porque não estão a encontrar o cliente. Lisboa está intransitável e desgastante, está desprezada e saturada. 

E não é assim que se promove a mobilidade. Assim não dá para incentivar o uso do transporte público senhor presidente. Esqueça as conferências e pense na cidade, olhe pelos seus habitantes e em quem nela trabalha. Lisboa merece mais e melhor.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Até sempre amigo e "chefe" Gama!

Hoje despedi-me de um Amigo... Hoje despedi-me de um colega, de um formador, de um ser humano incrível. Foi aquele dia que nunca queremos que chegue, sobretudo quando se trata de alguém que gostamos e com quem convivemos. O chefe Gama, como carinhosamente era conhecido partiu, mas apenas fisicamente. Ele vai continuar para sempre entre nós, sobretudo entre a sua família, amigos e entre nós tripulantes e colegas que durante anos convivemos com ele, mas acima de tudo, que aprendemos com ele. 

Hoje em cada gabinete, em cada rua, em cada autocarro ou eléctrico há um pedaço do que ele nos deu, do que nos instruiu, da sua simpatia, do profissionalismo, enfim do bom Ser que era. Vítima daquela maldita doença prolongada, não pôde gozar como merecia a sua reforma. Um lutador, toda a vida onde com orgulho nos contava que tinha começado na Carris como limpa-vias. Foi humildemente progredindo terminando a sua carreira como coordenador da Formação.


Costuma-se dizer que as homenagens são para serem feitas em vida. Mas com o Sr. Gama foram feitas em vida e serão feitas sempre, porque jamais será esquecido. Entre as diversas mensagens que li pelas redes sociais de quem teve a honra de conviver com ele ou de quem com ele se cruzou, destaco uma. "Dizem que na vida não há insubstituíveis. É porque não conheceram o chefe Gama", subscrevo. 

Foi a pessoa que me recebeu na Carris em 2007, quando entrei na sala de formação para motoristas de pesados de passageiros. Ao longo dos anos foi não só partilhando comigo a sua paixão pelos eléctricos, mas também os seus conhecimentos em diversas acções de formação. Tive grande parte das formações com o Sr. Cardoso, mas com o Sr. Gama recordo a formação inicial dos carros históricos do Museu em 2019. De um conhecimento e técnica inquestionável, formou milhares de tripulantes que hoje são o rosto da Carris. Depois, bem... depois ia-me cruzando com ele nas ruas de Lisboa, onde sempre trocava aquele simpático sorriso de bigode farfalhudo perguntando sempre "Então Rafael como é que estás?" Sabia do meu gosto pela área da formação e perguntava-me sempre "Já tiraste o cap de formador? O meu lugar vai ficar livre...", sempre sorrindo.

Reformou-se e ligou-me um dia a agradecer a edição do vídeo que fiz com as mensagens de vários colegas em jeito de homenagem. Fomos trocando pontualmente umas mensagens, sobretudo para partilhar o seu estado de saúde. O Sr. Gama era daquelas pessoas que ninguém queria perder o contacto. Foi o rosto da campanha publicitária do Natal no El Corte Inglês com a sua neta Madalena no Natal de 2021. E tinha estado com ele pela última vez no passado mês de Setembro a quando do desfile dos eléctricos do Museu, no âmbito dos 150 anos da Carris. 

Hoje voltei-o a ver como não desejava nunca vê-lo. Mas a vida é assim... nem sempre justa. Mas sei que a imagem que vou guardar para sempre do chefe Gama não é a de hoje, mas sim aquela que o caracterizava no dia-a-dia. Tentarei sempre, na Carris ou por onde quer que passe, transmitir um pouco dos valores que me transmitiu. O mundo ficou mais pobre, o céu ganhou uma grande Estrela. E Lisboa ganharia muito ao ter uma rua com o seu nome, porque afinal de contas, em cada esquina onde haja um amarelo, está lá um pedaço do nosso amigo Gama.

A última acção de formação que me deu em 2019

À D. Alice e ao Ricardo, as minhas sinceras condolências por esta enorme perda. Até sempre amigo Alfredo Gama.


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