quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Quando o turista chega e quer mandar no país dos outros..."Não pago e não saio!"

"Oh filho isto já não é como antes..." desabafa uma das passageiras habituais do 28, queixando-se que antes, as enchentes do eléctrico eram por épocas e que agora "é um martírio para conseguir entrar no eléctrico o ano inteiro". Na sua rotina diária o 28 faz parte do trajecto entre casa e o trabalho e por norma apanha o carro sempre à mesma hora e esta semana calhou-me a mim transportá-la porque estou na semana em que faço aquele horário todos os dias. Trocamos uns dedos de conversa porque não dá para mais. Já há mais gente para entrar na paragem seguinte e como ela própria fez questão de gritar... "chega atrás que há mais gente para entrar!"

Passageiro a passageiro o eléctrico lá vai enchendo paragem após paragem até que minutos depois chega ao terminal. Com muito custo os turistas lá saem do eléctrico não sem antes fazer um rol de perguntas como "e ahora como hace para volver?" ou "pour retorné au martim moniz?..."

Mas tal como a passageira habitual nos diz também eu posso dizer que já nada é como antes, nem o turismo. Esse mesmo, o tal que é muito benéfico para a nossa economia, o tal que enche os carros como se não houvesse amanhã, o tal que quer fazer turismo no serviço público, o tal que quer ser ele a fazer as regras, ou a viajar muito por pouco, resumindo... "o turismo pé descalço" que também ele está pior no pós-pandemia.

Ontem foi um desses dias difíceis. Prestes a iniciar mais uma viagem rumo ao Martim Moniz, abri as portas e fui acolhendo os passageiros que iam solicitando o bilhete para a viagem que se iniciava, entre os quais entra um casal francês que parecia dono e senhor do eléctrico 28. Entram, dirigem-se ao banco e sentam-se. Solicito que validem o título de transporte. Revoltado, o senhor levanta-se com um cartão "viva viagem" e valida duas vezes. 

Eu: Desculpe mas não é permitido viajarem duas pessoas com o mesmo título de transporte.

Turista: É, é! Eu comprei dois bilhetes, paguei 28 euros e vou-me transportar assim.

Eu: Lamento, mas se comprou dois bilhetes, tem de ter dois cartões, um para cada um dos passageiros. Assim como está, tem de pagar uma tarifa de bordo para se transportar de forma legar neste transporte público. 

Turista: Eu paguei 2 dias para duas pessoas, não tenho culpa que a máquina do metro só me tenha dado um cartão.

Eu: Quem não tem culpa sou eu. Se pagou dois cartões e a máquina só deu um, devia ter resolvido no imediato na estação respectiva. Aqui tem de pagar para viajar. E escusa de gritar e ser indelicado porque não o estou a tratar mal e estou a ser cordial. 

Turista já aos gritos e esmurrando a cortina de protecção do condutor: Você é mas é um ladrão que quer cobrar 3€ quando eu já paguei. Não pago e não saio! Vou seguir viagem.

Eu: Então, vamos ter de chamar a Polícia para resolver esta situação e interferir na vida dos restantes passageiros?

Turista: Pois bem, então chame!

E assim foi... Ao fim de 15 anos ao serviço desta companhia, tive de solicitar a ajuda da PSP, porque nem falando francês para lhe explicar tudo, ele deixava de me injuriar e gritar dizendo que lhe queria cobrar indevidamente um titulo de transporte. Não é pelos 3€ mas é! Não é pelo bilhete, mas pelo respeito e por tudo o que daí advém. 

É pelo respeito de quem está aos comandos, é pelo respeito para com os restantes passageiros, é pelo saber estar, é pelo que poderá acontecer em caso de acidente, não tendo titulo de transporte válido. Valeu então a ajuda dos elementos da 4.ª Divisão da PSP, que os convidaram a sair do eléctrico após uma hora de imobilização do carro no terminal, sugerindo que fossem ao metro resolver a situação. O turista alegou que em França era permitido viajar com o mesmo cartão duas pessoas e o Agente da PSP, lembrou: "Mas o senhor neste momento está em Portugal e as regras são diferentes. Se o condutor o alertou que não é válido e é o trabalho dele, o senhor deve acatar e respeitar, assim como devia ter-se informado antes, sobre as regras do transporte público em Portugal." 

Em resumo, dois turistas vêm de férias, querem ser eles a fazer as regras, interferem com a vida de outros turistas e locais que usam um transporte público, porque alegam ter comprado dois bilhetes e que a máquina só lhes deu um [a PSP verificou depois que o número de série do cartão viva viagem não correspondia aos dois impressos no recibo] e como se não bastasse tudo isso e todos os equívocos e erros, já dizia o outro... a culpa é da Carris.

E assim vão as alucinantes viagens com o turismo que visita Portugal. 

7 comentários:

CR 35 disse...

Esta é a imagem que têm de nós na Europa o país dos pobrezinhos, disse brutos etc... depois quando cá vêm a realidade é outra, podemos ter ainda serviços do tempo da idade da pedra, mas ninguém nos tira o bem receber, mas nunca ter que rebaixar perante gente arrogante .

António Carloto disse...

Li tudo com atenção. Talvez tenha razão excepto do "ver o que se passa na estação do metro". Não de é profissional.
Da mesma forma que o Sr. é profissional há 15 anos, eu sou utente há mais de 40 e sempre paguei o meu passe social.
Em Fevereiro o meu passe começou a trabalhar mal, pese embora ter menos de um ano de trabalho efectivo, se descontarmos a pandemia. Funcionava no comboio e no metro, mas não na Carris. Pensei com os meus botões pedir um novo no fim do mês, já que tinha o respectivo recibo da aquisição.
Naquela manhã apanhei no Cais do Sodré o 58 para o meu emprego, já vinha do comboio, cujas cancelas aceitaram o meu passe e abriram. Estavam dois fiscais na paragem também (de uma empresa de segurança privada), sendo que um deles, uma jovem me pediu o meu passe, o qual diligentemente lhe passei para as mãos, juntamente com o recibo da aquisição.
Espante-se que fui multado e não me devolveram o dito, mesmo com o comprovativo da aquisição. Alegaram que poderia recorrer da multa se fosse a S. Amaro.
Nesse mesmo dia lá fui; disse que queria reclamar da multa, bem como reclamar um passe novo.
A resposta foi: -Só pode pedir um novo após pagar a multa!
E agora, onde estão os meus direitos???

Joaquim Alves disse...

Muitos parabéns Rafael pela atitude. Bem haja! De facto devemos tratar bem quem nos visita, mas eles também têm de nos respeitar. Ainda por cima sendo mal educados. Esqueceu-se que estão noutro país e o Rafael apenas está as cumprir ordens da empresa. Nunca hesite em tomar sempre que necessário a mesma atitude.

Anónimo disse...

Infelizmente é assim. Então os franceses são do pior acham-se superiores e que mandam em tudo. Também sou assim já chamei várias vezes a PSP e lá saem a refilar.

Anónimo disse...

É pelo respeito. Pelo respeito que os dirigentes das empresas de transportes não têm pelo passageiro... Metem máquinas inadequadas, cobram o que querem e quanto querem como querem e o passageiro não bufa. Os frutos desse senhor são a amplificação do grito abafado e sufocado de todos os q utilizam os transportes públicos e são sistematicamente abusados com avarias e atrasos e greves... E tudo começa quando se compra o bilhete

Anónimo disse...

Como a regra criada em Portugal em cada pessoa é obrigada a saber inglês ou francês. Etc. Pq os turistas vêm para Portugal sem aprender o mínimo de português. Quando alguém vai à Espanha são obrigados a aprender espanhol. Pq eles mesmo falado inglês ou francês não o falam no seu país.
Se uma pessoa vai ao Reino unido ou a um país em que a língua oficial é o inglês. A pessoa é obrigada a saber inglês. Pq em Portugal éa regra é diferente?

Anónimo disse...

Parabéns, Rafael! Agiste em conformidade!

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