domingo, 24 de abril de 2022

Bem vindos à selva!

Com o passar do tempo, a pandemia vai dando sinais de abrandar e a guerra na Ucrânia toma conta dos blocos noticiários. Lisboa regressa à normalidade no meio desta anormalidade que se vive na Europa em 2022. Mas regressa de uma forma estranha, pior do que era antes da pandemia, onde tudo parece valer neste pedaço de terra à beira mar plantado.

O turismo "pé descalço" está de volta e também ele voltou pior. Trabalhar em Lisboa torna-se tão arriscado e difícil como o trabalho dos trapezistas na pista do circo. São tvde's, são trotinetes, são bicicletas, são os estafetas da entrega de comida, são os peões, enfim, é como que uma salada de frutas onde anda tudo ao molho e fé em Deus.

Uma vez mais trago aqui o retrato do turismo que transportamos, o tal que todos glorificam o seu regresso, o tal que todos recebem de mão beijada, porque dizem.. vem safar a economia. É certo que contribui, mas será este o turismo que pretendemos para Portugal?

A fila do Martim Moniz, já não é novidade, assim como também não é novidade que a fila é longa porque os turistas querem apenas um lugar sentado. E ontem uma vez mais essa paragem deu pano para mangas...

Entrou um casal brasileiro sem máscara e pediu dois ingressos...

Tripulante: Boa tarde. Tem máscara?

Cliente: Não foi já liberada?

Tripulante: Nos transportes públicos continuam a ser de uso obrigatório... Dois bilhetes, são 6 euros por favor.

O passageiro entrega-me 6 euros certos, imprimo o bilhete e entrego. Seguem-se os próximos clientes... Até que o passageiro em causa volta atrás inicia um novo diálogo com o tripulante.

Cliente: Moço, tem de me devolver o dinheiro porque não tem lugar sentado.

Tripulante: Peço desculpa, mas não posso devolver o dinheiro, uma vez que o bilhete está impresso e retirado da máquina.

Cliente: Como não? Eu não tenho lugar sentado e quero ver a vista.

Tripulante: Mas o senhor entrou e pediu dois bilhetes. Isto é um transporte público e não turístico, logo não é garantido o lugar sentado.

Cliente: onde é que isso está escrito? Me devolve o dinheiro porque eu estou sendo lesado.

Tripulante: Já lhe informei que não posso devolver o dinheiro. 

Cliente: E posso pegar o próximo com este ingresso?

Tripulante: Não, o bilhete só é válido para uma viagem no veículo onde foi adquirido.

Cliente: Mas quem faz essas regras é você?

Tripulante: Não, eu apenas as cumpro e estou a informá-lo...

Cliente: Então como vamos resolver a situação, sendo esse um transporte público turístico que não tem lugar para ver a vista?

Tripulante: Ou seguindo viagem até arranjar lugar, ou saindo sendo que o bilhete deixa de ser válido ou se não quiser sair nem deixar fechar a porta, teremos de solicitar a presença das autoridades para resolver, visto que o senhor está a atrasar a partida do veículo.

Cliente: Então vamos fazer isso...

Pego então no telemóvel para solicitar a presença da PSP, quando o turista em causa, rasga o bilhete e joga no chão, depois de o mandar contra a cortina de protecção covid (o melhor que a pandemia nos deu) acompanhado de todos os insultos e mais alguns, com agressões verbais e injuriando enquanto entravam os restantes passageiros que manifestavam interesse em entrar.

Portanto temos um turista que quer pagar 3 euros por uma viagem e quer um lugar sentado, ele como tantos outros que depois chegam ao terminal dos Prazeres e não querem sair do carro, pensando que os 3 euros o bilhete são apra uso ilimitado.

Tudo isto num dia caótico na cidade de Lisboa, onde o 28 continua de longe a ser o mais procurado eléctrico do mundo, e que agora como se não bastasse leva com o entupimento dos turistas que usam o circuito das colinas que agora é fechado, ou seja, agora inicia e acaba na Praça do Comércio, não tendo paragens ao longo do trajecto o que faz com que após o circuito, venham descobrir Lisboa no sobe e desce do 28...

Resultado do dia de ontem, uma enorme dor de cabeça num serviço que é cada vez mais desgastante, numa cidade onde não há policia a ordenar o trânsito, onde o respeito é uma miragem, onde o eléctrico deixou há muito de ser um veículo prioritário. Sejam então bem vindos à Selva! Boas viagens e bom 25 de Abril.

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