E passou 1 mês desde o meu último post, dedicado ao artigo de opinião que escrevi sobre a quarentena, publicada no jornal Público, na rubrica "Diário da Quarentena". Um mês de confinamento e de Estado de Emergência e sobretudo de reflexão. Lisboa já não está tão deserta como nesse dia, mas continua triste. Lisboa começa aos poucos a ver um café que se abre, uma retrosaria que atende à porta numa altura em que todos procuram elásticos para fazer máscaras comunitárias, que passaram entretanto a ser aconselhadas pela DGS. São filas ás portas dos supermercados, são ajuntamentos nas portas dos cafés, talhos ou nas poucas lojas de tecidos que vão também elas abrindo para responder à procura.
E à parte disto lá andam os transportes públicos com aqueles que não podem como nós, parar mas também com aqueles que viram nestes tempos, o eléctrico ou o autocarro como um abrigo que não têm. Uns com ar acanhado, outros como se fossem donos disto tudo, pondo e dispondo mesmo quando não têm título de transporte porque alguém entendeu que as medidas de contenção que levaram à dispensa da validação, tornasse o transporte público gratuito. O que não é nem nunca foi verdade!
Uns com máscara, outros com lenços, outros sem nada. Uns a respeitar o vírus, com todo o respeito que ele nos impõe, outros a desprezá-lo e a deitar por terra todo um esforço de uma grande parte da sociedade que fica em casa. "O Covid a mim não me afecta, sou rijo!" diz um daqueles corajosos e valentões idosos com mais de 70 anos que se desloca de eléctrico porque diz que "não fui feito para estar em casa amigo!". Explico-lhe que era o melhor que fazia, porque o vírus não escolhe quem afecta e sobretudo porque os idosos fazem parte do grupo de risco, mas acrescento eu também, dos grupos dos mais teimosos. Foi o mesmo que falar para uma porta...
As viagens prosseguem, no entanto, e em grande parte do tempo em silêncio, com rostos fechados e desconfiados, ainda que muitos se aproveitem do resguardo de uns para desfrutarem da viagem como nunca o puderam fazer antes e por incrível que pareça, ainda se vão vendo turistas. Um casal para os Prazeres, outro para o Martim Moniz... Não me perguntem como chegaram nem de onde vieram, mas não me digam também que já cá estavam, porque eu vejo-os a chegar de malas e a procurar onde ficar. A pegar na máquina fotográfica e a disparar como se não houvesse amanhã. Sem dúvida umas fotos diferentes de uma passagem pela cidade das 7 colinas.
"Tudo vai ficar bem" é o que se diz e o que se quer, mas certamente que tudo já ficou diferente, a começar pelas rotinas, onde o serviço se inicia com a desinfecção dos veículos para que possamos de uma forma mais segura desempenhar as funções na linha da frente. Mas diferente também no sentido em que é difícil encontrar uma casa de banho, o que para quem anda na rua a trabalhar não se torna nada fácil. E estaria a mentir se lhe dissesse, que quando criei este blogue há mais de 11 anos, que um dia viria a relatar aqui um dia de trabalho marcado pelo sossego e pelo silêncio, sobretudo naquela que é a carreira mais desassossegada e procurada da carris, o eléctrico 28E.
Que tudo isto passe rápido e que voltemos a ter as ruas cheias de vida, ao contrário da imagem que hoje partilho convosco neste texto, de mais um canto da cidade, que normalmente fervilha de gente e trânsito e que por estes dias tem estado deserta. Que voltem os passageiros habituais, que voltem as saudações, que volte sobretudo a normalidade do nosso quotidiano que é hoje marcado por contrastes bem vincados e que nos deixam a pensar se vale mesmo a pena arriscar, no cumprimento da nossa missão...
E porque nunca é de mais aconselhar... Fique em casa e #ajudenosanãoparar
1 comentário:
Fique em casa, será a frase do ano 2020. Mas como portugueses que somos também a frase IRRA QUE É TEIMOSO E ASNO , ficará interligada.
Enviar um comentário