sexta-feira, 13 de março de 2020

COVID-19: A Hora de lutarmos pela nossa sobrevivência

Covid-19! É a palavra na ordem do dia. A palavra que nos preocupa e que obrigatoriamente nos leva a mudar hábitos, por muito que possam custar. É sobretudo a designação para o coronavírus que tem espalhado o medo e o pânico um pouco por todo o Mundo. Foi identificado pela primeira vez em Dezembro de 2019 na China, na cidade de Wuhan. Este novo agente nunca tinha sido identificado anteriormente em seres humanos. A fonte da infecção é ainda desconhecida, estando ainda em investigação a via de transmissão. A transmissão pessoa a pessoa foi confirmada e já existe infecção em vários países e em pessoas que não tinham visitado o mercado de Wuhan. 

Carris
Em Portugal são já mais de 100 os casos confirmados, na altura em que escrevo este post, em casa porque estou de folga. Mas nesta mesma altura, ao mesmo tempo que se aguardam resultados para muitos mais casos suspeitos, estão também nas ruas de Lisboa a circular autocarros e eléctricos, conduzidos por tripulantes, que continuam expostos ao vírus. Ando há semanas a evitar escrever sobre o tema, dado ser um tema delicado, que considero, deve ser debatido e explicado pelos profissionais e agentes competentes. Contudo, não consigo ficar indiferente ao problema e à preocupação que me leva todos os dias a acordar com o receio de enfrentar mais um simples dia de trabalho, sensação esta que considero ser a mesma sentida por todos os meus colegas. 

Contactamos com milhares de pessoas por dia, num entra e sai constante de pessoas, que não sabemos a sua origem, nem se estão ou não, infectadas com Covid-19, porque muito provavelmente nem essas pessoas o sabem também. Vendemos bilhetes a bordo em troca de dinheiro que anda de mão em mão. Respondemos a questões, sobretudo de turistas que teimam em não querer cancelar as suas viagens, talvez porque ainda não mediram o perigo que é este surto. E lidamos com pessoas que continuam em muitos casos a pensar única e exclusivamente no seu próprio umbigo, que parecem nem sequer ouvir as noticias e os conselhos da Direcção Geral de Saúde.

Medidas tomadas em Praga, devido ao Covid-19
Há dois dias, confesso que tive de fazer algo que nunca tinha feito em 13 anos de serviço na condução de um transporte público. Após pedir que os passageiros chegassem o mais possível para a rectaguarda do autocarro, não passando da marca vermelha no chão para  a frente, os mesmos pareciam não estar nem sequer a ligar ao que solicitava. Ao mesmo tempo, na paragem do Cais do Sodré continuavam pessoas do lado de fora a insistir na entrada do autocarro, que estava já com mais de 4 passageiros na zona da porta da entrada à frente da marca vermelha, aquela marca que deveria sempre ser respeitada. Alertei que iria fechar a porta, mas continuaram a ignorar e a forçar a entrada. Tive portanto de ignorar também a vontade de todos em querer entrar e fechar a porta literalmente na cara dos passageiros. Do lado de fora, só não me chamaram Santo ao mesmo tempo que mandavam murros na porta do autocarro. 

Em Bratislava

Por aqui se vê, o respeito pelo próximo. Sabemos da importância do transporte público numa cidade como Lisboa, onde as pessoas têm se deslocar para os seus serviços, quando os mesmos não são imprescindíveis, mas esses mesmos transportes públicos são conduzidos por seres humanos, que também eles estão sujeitos a ser contagiados, se é que muitos já não estão...

E agora pergunta o leitor: Então mas e não foi feito nada para vos proteger? E respondo eu: Não! Foi dado um Kit? Foi, mas esse kit não é de prevenção, mas sim de contenção, porque como o próprio folheto do kit informa que "é para uso exclusivo do próprio no âmbito das suas funções e em caso suspeito...", sendo o mesmo composto por três máscaras cirúrgicas, um par de luvas descartáveis, quatro toalhetes de álcool e dois pacotes de lenços. Mas e a prevenção? Onde estão as medidas de prevenção? Foi anunciado o reforço da limpeza dos veículos diariamente, mas será isso o suficiente? ....

Em Berlim
Empresas congéneres um pouco por toda a Europa, tomaram medidas nos seus meios de transporte, de forma a evitar o contacto próximo com o motorista, casos como os de Bratislava, Morges, Praga, Berlim, Luxemburgo, entre muitos outros mais, limitaram o acesso dos passageiros apenas pelas portas traseiras, barrando o acesso à porta da frente e limitando o espaço da frente com fitas de separação, ao mesmo tempo que suspenderam a venda de bilhetes a bordo. E por cá? Aguardamos... (á hora da escrita deste post ainda não tinham sido tomadas medidas de prevenção para os tripulantes, pelo que se entretanto foram apresentadas, fica desde já o nosso agradecimento).

Sabemos igualmente que muitos poderemos não ser considerados de risco, contudo podemos ser o meio de transmissão do vírus para aqueles que, mais velhos ou mais novos partilham do mesmo espaço que nós em casa. E só por isso já é preocupante. Acho que devemos de uma vez por todas, seguir as palavras que já ontem foram proferidas pelo primeiro-ministro, António Costa: "Esta é uma luta pela nossa sobrevivência!" e por isso mesmo, está na altura da Carris pensar um pouco mais naqueles que são a cara da empresa, naqueles que conduzem milhares de pessoas por dia, e de provar que é capaz uma vez mais de marcar a diferença, por muito tarde que já possa parecer. Já diz o ditado, "mais vale tarde que nunca", porque temos de "prever o pior para esperar o melhor", porque só juntos neste barco em que estamos todos enquanto sociedade, iremos conseguir vencer esta batalha. Não é hora de palavras, é hora de agir! 

No Luxemburgo

Este artigo apresenta algumas imagens das medidas tomadas pelas empresas um pouco por toda a Europa, que poderiam e deviam ser desde já adoptadas pela Carris. Ainda assim, acreditamos ou queremos acreditar que algo estará a ser estudado de forma a prevenir o mais rápido possível quem diariamente continua a ter de conduzir quer seja, autocarros, eléctricos ou elevadores, ou quem está igualmente exposto, nos postos de atendimento e venda, assim como os colegas do apoio às vendas. 

Está na hora de pensarmos primeiro na saúde de todos e depois nas receitas, está na hora de todos juntos vencermos este vírus que se tem revelado forte e cujo os números falam por si. Não basta restringir o desembarque de passageiros dos cruzeiros em Lisboa, quando centenas e centenas desembarcam no Aeroporto de Lisboa sem qualquer tipo de rastreio, estando horas depois a bordo de um eléctrico 15 para Belém, ou num eléctrico 28 no sobe e desce pelas colinas de Lisboa, cidade que está mais vazia, mas ainda assim com muito por fazer para travar esta pandemia. Rezemos então para que tudo se resolva pela melhor forma possível, para travarmos este numero crescente de casos de Covid-19.

E termino com um apelo também aos passageiros. Evitem os transportes lotados, mantenham a margem sanitária com o próximo sempre que possível, evite o contacto com o tripulante e mantenha sempre as mãos limpas e desinfectadas. Siga os conselhos da DGS e não se esqueçam, estamos todos na mesma viagem! 

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