quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Em dia de acompanhamento na 25E... surge alguém para nos surpreender com a sua paixão de morte

Acompanhando o novo guarda-freio na 25E (foto: Duarte Gomes)
O tripulante hoje não esteve aos comandos do eléctrico, mas nem por isso deixa de ter algo para contar. De facto esta profissão e este contacto com o público tem sempre algo a cada dia que nos surpreende quando menos esperamos. O dia de hoje, à semelhança dos anteriores, foi de acompanhamento a novos tripulantes. Contudo o colega que me calhou hoje, já não era novo na Carris e tal como eu há uns bons anos atrás, decidiu trocar a borracha pelo ferro. Mas veículo diferente requer sempre cuidados diferentes e como tal à semelhança dos recém entrados nesta família que é a Carris, também ele teve direito a ser acompanhado durante estes primeiros dias na sua nova função. 

Ao longo do dia fui-lhe dando alguns conselhos e sugestões, cabe agora a ele decidir o que deve ou não interiorizar. Por isso o dia estava a ser igual a tantos outros da semana, até que alguém já bem perto do final do serviço surge no terminal dos Prazeres com um inglês assim arranhando no francês a questionar se nos poderia colocar algumas questões. 

Acedemos ao pedido, enquanto aguardávamos a hora da partida. Solitária na Praça de São João Bosco, onde para além dela estava apenas o eléctrico que se preparava para fazer a última partida do dia rumo ao descanso, questionava se era dali que saía o 28E. após resposta afirmativa por parte do guarda-freio, a jovem agradeceu e mostrou vontade de perguntar algo mais e vendo que o eléctrico ali permanecia, lá soltou a questão... "Isto em frente, é um cemitério?"

Respondemos uma vez mais que sim. Ela esboçou um sorriso de orelha a orelha e disse. "J'adore les cimetières!" ao mesmo tempo que parecia algo constrangida com a afirmação que nos dava a conhecer a sua paixão de morte. O Elísio, sentado aos comandos, sorriu e disse "já eu não gosto nada de cemitérios!" O diálogo ficou algo animado embora o tema fosse de morte. E a jovem solitária numa noite de Lisboa lá continuava a dizer no seu francês convicto, que "são espaços lindíssimos e com uma calma profunda"

De facto há mesmo gostos para tudo. Sugerimos então à jovem que voltasse amanhã durante o dia para o visitar porque do seu interior até tinha umas boas vistas sobre o Tejo e a ponte. E ela lá nos contou um pouco mais deste seu carinho pelo espaço onde se descansa a alma eternamente. "Todos os países que visito, faço questão de visitar cemitérios e o mais bonito que já visitei fica em Nova Iorque..."

Fica assim provado que de facto o eléctrico de Lisboa pode mesmo levar alguém aos Prazeres, mesmo que a morte seja o foco desse prazer, porque dá realmente que pensar, mas acima de tudo respeitar estes gostos de quem nos visita e procura lugares tranquilos para passar parte das suas férias, nem que para tal seja necessário passear pelas ruas de um cemitério perto de si. 

Boas viagens a bordo dos veículos da CCFL. 

1 comentário:

CR 35 disse...

Existe um turismo próprio , muitos estrangeiros pagam para visitar cemitérios ,pode ser para nós um choque mas para muitos é como se fossem visitar um castelo, uma igreja,um museu . E há edifícios lindíssimos no seu interior bem desenhados e com uma "carga simbólica" muito perspicaz,sobre este tema.

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