quarta-feira, 6 de junho de 2018

Percurso do 28E finalmente restabelecido: "Habemus 28E em Alfama!"

Suspensa entre o Largo da Graça e o Largo das Portas do Sol, desde 19 de Janeiro de 2018 devido ao rebentamento de uma conduta nas Escolas Gerais, a carreira de eléctrico mais procurada do mundo - o 28E, voltou hoje à sua normalidade, concluídas que estão as obras naquela artéria histórica da cidade de Lisboa. A manhã foi portanto de festa para os moradores que batiam palmas e acenavam ao regresso do 28E às ruas de Alfama. Na primeira viagem que fiz com destino aos Prazeres, mesmo a meio do estreito da Rua das Escolas Gerais, duas idosas nem queriam acreditar. Ao verem o eléctrico deu para perceber pelos lábios o desabafo: «Até que enfim!» ao mesmo tempo que me faziam sinal a perguntar se também já havia para a Graça. Disse-lhes que sim e o sorriso dizia tudo!

Apenas a chuva miudinha estava a atrapalhar esta manhã com a linha a ficar muito escorregadia, mas como se costuma dizer referente aos casamentos, digamos que este regresso do 28E a estas ruas é também um casamento perfeito e por isso mesmo, poder-se-á dizer que "regresso molhado, regresso abençoado". Cinquenta minutos depois da primeira partida lá cheguei aos Prazeres sem grandes percalços mas com muita areia gasta pelo caminho porque a aderência aos carris assim obrigava. Os turistas mais madrugadores, encantados com o trajecto não dispensavam qualquer motivo para fotografar, até mesmo o virar da bandeira do destino que passava então a ter a inscrição "M.Moniz", local de onde tinham partido.

No regresso ao centro, desço com todo o cuidado a Rua Domingos Sequeira que mais parece a Amazónia numa manhã primaveril com chuva como a de hoje, com a copa das árvores a invadirem o terreno do eléctrico, o que tem impossibilitado o uso do sistema de contacto com a rede aérea utilizado pelo 25E - o Pantógrafo. A causa é o facto das ramagens estarem demasiado próximas da rede aérea onde correm os 600V de corrente contínua que dão vida aos amerelos da carris, que são autênticos postais vivos da cidade de Lisboa. E tudo porque o corte de árvores passou a ser uma competência das Juntas de Freguesia e neste caso a Freguesia da Estrela, que embora já tenha conhecimento há mais de uma semana da situação, continua por proceder ao corte das mesmas. Esperemos que não venha a causar nenhum acidente ou constrangimento na circulação dos eléctricos. 

Mas voltando ao 28E e às ruas de Alfama, já depois de subir a colina de Santa Catarina e mergulhar no Chiado e Baixa, a primeira passagem trouxe a experiência de utilizar o traçado novo colocado em São Tomé, que passa agora a ter uma via dupla ao contrário do que acontecia até então, onde o eléctrico com destino ao Marim Moniz tinha de aguardar que uma alma caridosa lhe desse passagem, não porque não tivesse prioridade ao circular sobre carris, mas porque cada vez mais o automobilista na cidade de Lisboa, pensa única e exclusivamente no seu próprio umbigo. Assim perde-se na história do percurso e seu simbolismo, mas ganha-se em velocidade comercial, apesar da zona não ser propícia a grandes velocidades. 

A passagem pela subida para São Vicente quase que se parecia a uma bancada num estádio de futebol quando se festeja um golo. Sentadas sobre uma travessa de madeira apoiada nos gradeamentos do passeio, como sempre se fez naquele bairro, 3 moradoras levantam os dois braços. Não gritam "golooo", mas gritam "Aleluia!! 28 voltou!", porque foram mais de 4 meses privados ou condicionados ao uso do transporte público. Recorde-se que para a Graça apenas havia o 734 em São Vicente. Agora é altura para se festejar o Santo António e desfrutar deste regresso que traz igualmente algum (pouco) descanso mental aos tripulantes desta carreira que sofreram fortemente com estas alterações causadas pelas obras. É tempo de respirar e ganhar fôlego porque depois das festas mais obras estão para vir na zona da Sé e o 28E poderá sofrer novamente alterações.

Já a chegar à paragem de São Vicente uma inglesa solta um "Oh my goodd!" e levanta-se na minha direcção e pergunta o porquê de tantas reacções à passagem do eléctrico. Expliquei que se devia a uma ausência do eléctrico há cerca de 4 meses e a senhora lá entendeu e terminou dizendo "Fantastic!"

Portanto termino assim de forma fantástica este fantástico regresso ao 28E e do 28E às ruas de Alfama, por sinal o bairro que me viu crescer, onde passei grandes momentos da minha infância que recordo a cada passagem.  


1 comentário:

CR 35 disse...

Demorou mas fizeram algo de jeito e não descobriram as ruínas de alguma igreja porque senão como local abençoado acabavam com a carreira.

Translate