segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Uma viagem "reservada" à reclamação com boa disposição.

Os nossos passageiros por vezes dirigem-se a nós num tom mais agressivo e por outras num tom mais simpático, e tudo depende do estado de espírito, do tempo de espera, dos problemas que viveram no trabalho ou em casa, porque vêem no tripulante da Carris um bom muro de lamentações, seja para o bem, seja para o mal. E se enquanto motorista vivenciei muitos casos deste tipo, sobretudo de pessoas solitárias que encontravam em quem estava ao volante, uma voz amiga, nos eléctricos dada a proximidade entre tripulante e passageiro, estas situações acabam por ser ainda mais frequentes.

Mas claro que as reclamações não ficam de parte e para isso raramente entram num tom simpático. Muitos entram já a reclamar sem uma saudação dar, ora porque tiveram muito tempo à espera, ora porque os eléctricos passam cheios e não param ou até porque passam vazios, sem parar claro está.

Ora nestas situações que me irritam sempre porque o português não sabe reclamar, começo sempre por responder com um "boa tarde" ou um "boa noite" vincado para que percebam que não somos nenhuns bonecos que ali estamos. E muitos perguntam "diga?" ao que volto a responder, "primeiro boa tarde...". Mas há umas semanas atrás retive uma reclamação, no meio de tantas que diariamente fazem, umas com nexo, outras sem nexo. 

A certa altura numa viagem da carreira 28E, uma senhora entra e de forma cordial, cumprimenta-me e valida o seu título de transporte. Mas reparei logo que a vontade que trazia para comunicar era muito superior à que tinha para esperar pelo transporte público. E confirmei isso depois de ela me dizer, «sabe, já ali estava à espera do carro há uns 25 minutos...», ao que lhe respondi na altura que tal atraso se devia à falta de civismo de um senhor que tinha ido ao supermercado e tinha parqueado mal o carro, impedindo a passagem do eléctrico. 

A senhora aceitou a justificação, mas acrescentou «pois também é sempre o mesmo problema, mas sabe, chateia-me nestes 25 minutos terem passado quatro eléctricos reservados...» 

«Talvez fossem alugueres...», afirmei eu ao que ela me responde ironicamente mas sempre de forma muito cordial. «Não sei se eram alugueres. Sei que adorava morar naquele bairro que tem pelo nome de Reservado. Vejo imensas vezes carros a passarem com esse destino e melhor ainda é que vão sempre vazios ou com pouca gente.» Sorri e disse-lhe que se existisse esse bairro, transportes não faltariam por esse ponto de vista, entrando assim também na ironia com que ela me abordava. E ela prosseguia ao ritmo que o eléctrico avançava pela Calçada do Combro rumo à Bica. «Sabe é que esse bairro ainda por cima tem carreiras por todo o lado porque não é só aqui no 28E, no Cais do Sodré vejo imensos a passarem lá para o Reservado...» dizia sorrindo.

Num instante e sem estarmos a viajar "Reservado" chegámos ao Chiado onde saiu, desejando bom serviço e boas viagens. E eu prossegui a viagem até ao Martim Moniz, a pensar como de forma irónica e simpática se pode apresentar o descontentamento ou reclamação para com o serviço prestado. Esta reclamação ficou-me na memória e certamente que numa próxima viagem que a encontrar a vou reconhecer até porque ainda na subida um jovem sentado nos primeiros bancos do eléctrico perguntou à senhora se não se queria ali sentar, ao que ela respondeu: «Agradeço jovem, mas esses lugares são reservados para idosos, grávidas ou passageiros com crianças de colo» 

Afinal de contas esta viagem estava reservada a vir aqui parar ao blogue nestes últimos dias de 2017. Boas viagens a bordo dos veículos da CCFL e Boas Festas. Não se esqueçam dos horários deste natal...






1 comentário:

CR 35 disse...

Se fossem todos assim , mas seria bem melhor se não fossem se realmente o Presidente e os automobilistas fossem apoiantes do transporte público,mas como o nosso atraso ainda vai nos 20 anos.....até lá reservem um lugar

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