quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Eléctrico nocturno para o médio oriente...

Quarta-feira, 06 de Setembro de 2017, são 20h57 e preparo-me para iniciar a segunda parte do meu serviço, na carreira 15E que viria a terminar pelas 01h27. Saio da estação com destino a Algés pela Rua da Junqueira já deserta porque na minha frente seguem dois autocarros e um eléctrico articulado que provavelmente vai recolher de Algés para Santo Amaro. Chego a Algés na hora prevista e para a partida rumo à Praça da Figueira ainda faltam 6 minutos. Giro a manivela que permite rodar a bandeira e pelo espelho procuro o meu próximo destino. Avanço com o eléctrico até à paragem e abro a porta da frente, dando assim, início a a mais uma viagem.

«Boa noite senhor guarda-freio», diz-me uma senhora que de imediato valida o seu título de transporte e se senta no primeiro lugar individual do lado direito do eléctrico. Chega a hora da partida sem mais passageiros. Prossigo viagem até à paragem seguinte onde já se encontrava mais passageiros à espera do eléctrico. Uns com ar cansado outros com ar mais fresco. Aqui ninguém saudou à entrada. 

A viagem e a noite seguem calmamente rasgando as ruas por onde estão os carris que permitem a certa altura cruzar com os eléctricos que vão no sentido contrário. São rasgos de luz pela escuridão de Pedrouços. "Plim!", ouve-se no interior. Alguém quer sair no Largo da Princesa e a luz indicadora de "PARAR" a piscar no corredor não engana. Pouco mais a acrescentar numa viagem rumo ao centro de Lisboa, sempre com o olhar atento da Lua hoje especialmente brilhante.

Chegamos à Praça da Figueira, com esplanadas cheias de turistas à porta de um hotel. Trocam-se gargalhadas, bebem-se uns copos, conversa-se e degusta-se boa comida portuguesa. Faço a revista ao eléctrico para ver se nada ficou esquecido, e preparo nova viagem rumo a Algés. A paragem está composta e se encontro um português lá no meio, poderei mesmo dizer que é um achado. Há passageiros oriundos de toda a parte. Com a hora de fecho dos restaurantes indianos, nepaleses, o eléctrico vai-se enchendo com uma multiculturalidade bastante diversa. 

Cheira a fritos, chamuças ou até a sushi nesta viagem. Não se entende nada daqueles idiomas, mas curiosamente são os que mais saudaram com um "Boa noite" ou com sotaque enrolado oriundo da língua, "boa noite chefe!" De repente a viagem para Algés parece ter como destino o Médio Oriente. Os poucos portugueses que viajam com eles, vão entretidos com o olhar sobre as janelas por onde vamos passando, ou a ouvirem música. No meio do eléctrico cheio, só consigo ver pelo espelho um ramo de rosas lá no alto. 

Seguro na pega para não cair com o balançar do eléctrico, o indiano que leva o ramo de rosas, espera certamente ter uma boa venda na noite que se inicia. Afinal de contas quem não se lembra do famoso "Ké Frô?" Sai na Infante Santo e sobe em grande ritmo as escadas que dão acesso ao outro lado da linha do comboio.  

A noite vai avançando e para muitos é o regresso a casa, mas para tantos outros aquelas viagens são o ponto de partida para mais uma noite de trabalho. Cozinheiros, padeiros, seguranças, motoristas, operadores de telemarketing, mulheres de limpeza, entre tantas outras profissões, todos partilham do mesmo desejo. Que a viagem seja rápida, tão rápida quanto eu desejo que chegue ao fim o serviço. 

São já 01h07. Está na hora da recolha e afinal até passou rápido. Amanhã é outro dia. Boas viagens a bordo dos veículos da Carris. 

1 comentário:

CR 35 disse...

É sempre bom, ver que o nosso cantinho também é o cantinho de outros povos.

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