quinta-feira, 30 de junho de 2016

Cerveja de graça, o bilhete de criança e o estouro que parecia atentado. Tudo isto no regresso ao trabalho...

O que é bom acaba rápido, e depois das férias eis o regresso ao trabalho e cada vez mais com menos vontade, mas como o que tem de ser tem muita força, lá regressei aos carris de Lisboa com um serviço na carreira 15E das 14h30 às 24h09. O calor convidava a um belo dia de Praia ou a um passeio pelo campo, mas esqueçamos as férias que para o ano há mais, vamos lá fazer mexer Lisboa. O dia começava com um encurtamento a Belém devido a uma avaria técnica junto ao CCB. 

Mas como poucos são os que lêem os destinos das bandeiras já era de prever o primeiro contacto com os estimados passageiros que sempre alegam o mesmo: «Mas dizia Algés!» Quando ainda era visível a inscrição "Belém". Esclarecidos lá prossegui nova viagem de volta à Praça da Figueira. Lisboa fervilha de turistas e os eléctricos continuam iguais a si mesmo, repletos como sardinhas em lata. O caos das obras continuam a causar atrasos, mas pouco importa para quem não usa o transporte público. A primeira parte do serviço estava assim a decorrer dentro das normalidades até que já prestes do final da viagem, um senhor bate-me na cabine querendo fazer uma questão.

Aproveitei o sinal vermelho, para abrir a porta e mostrar-me disponível para responder (só provava que vinha de férias :) ) e o senhor de imediato pergunta: «-É neste eléctrico que estão a oferecer as cervejas Carlsberg?», ao que numa primeira fase tentei perceber se estaria a brincar ou a falar a sério, até que ele acrescenta: «-É que já deixei passar dois à sua frente e esperei por este verde porque ali na Praça do Comércio disseram-me que estavam a dar cerveja neste como promoção ao Euro2016...»

"-Pois então enganaram-lhe porque nem é permitido o consumo de bebidas alcoólicas no transporte público, quanto mais oferecer..." disse-lhe. E pouco convencido lá se sentou não deixando de dizer que «lá fora tem o anuncio e tudo da cerveja e do euro...»
Bebidas e futebóis à parte lá chegámos à Praça da Figueira. Prontos para mais uma viagem rumo a Algés, embora para mim fosse apenas até ao Calvário porque já estava entretanto na hora da pausa para o jantar.

Como é habitual nos serões da carreira 15E, a segunda parte do serviço é com um eléctrico remodelado, conhecido entre os passageiros pelos mais "antigos", "pequenos" ou até mesmo "tradicionais". De Santo Amaro saí para Algés, quando o Sol partia já, também ele para outras bandas. Carro cheio para um lado, carro cheio para o outro, o certo é que há sempre lugar para mais um e ora aperta daqui, ora encosta ali e já estava novamente na Praça da Figueira. Nova interrupção levava a que a Central me ordenasse terminar a viagem em Belém. Parti então da Figueira e já na Praça do Comércio, uma senhora com a sua mãe e o seu filho pede-me «-um bilhete para mim, um para a criança e um para a minha mãe»

"-Portanto três bilhetes, dá 8.55€ por favor...", disse.
«-Não desculpe lá, mas a criança paga metade.»
"-Não, é tarifa única e é 2.85€ cada pessoa"
«-Então não, desculpe lá mas a criança paga metade no Barreiro e o meu tio trabalha na Carris e sem bem que não é tudo igual. Abra a porta que saímos e esperamos pelo próximo...» Enquanto isto a mãe da senhora dizia: «Então mas se o rapaz diz é porque é», mas a senhora insistia: «Não falamos já com o tio e apanhamos o próximo...»

Afinal ainda foi confirmar com o tio... para quem tinha tantas certezas, dá que pensar.

Segui então viagem mas não até muito longe. Na Av.24 de Julho, o eléctrico decide pregar-me um susto a mim e aos passageiros, após um estouro no controller, talvez causado por um pico de corrente, bloqueando o eléctrico de imediato. Assustadas as pessoas foram saindo calmamente após lhes informar que seria impossível prosseguir até chegar a manutenção. Até que do fundo do eléctrico vem um senhor aos gritos a dizer que eu tinha descarrilado e que não tinha metido areia. Disse-lhe que tinha de se acalmar porque todos os passageiros estavam a sair de forma compreensiva e que ninguém tinha descarrilado. E ele insistia «Isto não pode ser assim todos os dias a avariarem e a deitarem fumo!» mas tudo isto aos gritos...

Pedi uma vez mais que abandonasse o eléctrico e tomasse outro transporte como alternativa e ele responde-me: «Mas eu já trabalhei na manutenção e se você tivesse metido areia isto não acontecia...», até que percebi pelo tom, pelo conteúdo e pelo disparate que só podia ter alguma perturbação. Sai e atrás dele sai o último passageiro que diz: «vocês têm de ter uma paciência e um coração de ferro. Eu até pensei que era algum atentado!» E por instantes só me veio à cabeça a história do presidente Manuel de Arriaga quando viajava no eléctrico, tendo o disjuntor disparado e ele ter saltado pela janela. Sorte que desta vez ninguém se lembrou de o fazer...

E assim foi o regresso agitado à agitada cidade de Lisboa e ao trabalho. Boas viagens a bordo dos veículos da CCFL  

2 comentários:

CR 35 disse...

São nestes pequenos pormenores que se vê a o analfabetismo do Português. Não admira pois ,que os estrangeiros nos vejam como saloios cá e nos Países de origem. A nova geração continua a tradição.

Edgar disse...

Não podias por areia porque estava toda dentro da cabeça do senhor...

:D

Santa paciência.

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