Em 2007, neste mesmo dia 7 de Maio, começava uma nova etapa na minha carreira profissional. Depois de crescer no bairro de Alfama no meio do vai e vem constante dos eléctricos que cruzavam as Escolas Gerais, e de ter escolhido o jornalismo televisivo como formação profissional após o ensino secundário, quis o destino que fosse aos comandos dos eléctricos que viria a passar grande parte do meu dia-a-dia. Interessado desde cedo pelos transportes públicos, nomeadamente os da Carris porque eram os que me levavam e traziam da escola, a entrada da Carris viria a mostrar-me o outro lado da empresa, passava assim a ver como funcionavam as coisas do lado de dentro e passava também eu a representar essa marca centenária.
Inscrevi-me como Guarda-freio depois da passagem pela televisão e de 6 anos no comércio têxtil, mas as vagas existentes eram apenas para motoristas. A falta de trabalho na televisão e o querer mudar de rumo fez com que não ficasse na paragem à espera da próxima chamada e entrei a bordo de uma nova aventura pelas ruas de Lisboa. Concluída a formação, apresentei-me na Estação da Musgueira onde permaneci durante 3 anos efectuando serviço em todas as carreiras afectas nessa estação de recolha e de Cabo Ruivo. Passados os 3 anos surge então a oportunidade de me transferir para a Estação de Santo Amaro, passando assim a desempenhar as funções de Guarda-Freio.
Em 2012, durante a formação de Eléctricos Articulados com o formador Cardoso e com o colega Gaspar... |
Os anos passaram e já vão 9... 9 anos ao serviço da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, com um percurso interessante, na medida em que esta nova aventura levou também à criação deste blogue, onde tenho vindo a partilhar convosco, histórias e situações do dia-a-dia de quem conduz milhares de passageiros por dia. Depois também de forma inesperada surge a oportunidade de editar um livro com as melhores histórias aqui relatadas. E foram muitas. Juntei assim a paixão pela condução do transporte público, ao da escrita.
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Na carreira 15E de autocarro devido à prova do etapa do Rally de Portugal |
Mais recentemente a publicação de um novo livro numa edição de autor, permitiu-me juntar igualmente duas paixões: Lisboa e Praga vistas através do fascínio que uma viagem de eléctrico nos proporciona. Digamos portanto que esta opção de entrada na Carris acabou por ser uma boa opção na altura, no entanto muitos espinhos foram surgindo neste percurso, porque nem sempre é fácil lidar com o público cada vez mais exigente e conduzir um transporte numa cidade onde há cada vez menos respeito pelo transporte público. Depois a conjuntura do país nos últimos 4 anos não foi a melhor e o sector dos transportes foi dos mais penalizados. Greves, cortes, supressão de carreiras e redução do pessoal tripulante, que origina sempre um desgaste aos que permanecem a dar a cara pela empresa.
Não nego que ao longo de 9 anos, não tenha ponderado sair e procurar uma nova carreira lá fora, mas com algum esforço e empenho, optei por ficar e manter-me a representar as cores da Carris, sempre com o mesmo brio profissional que impus desde o primeiro dia, apesar de ter dias melhores que outros, como todos nós tempos, mas afinal de contas até a Carris já teve dias melhores e piores. O ciclo da vida é assim mesmo e resta-nos tentar fazer melhor amanhã e dar o nosso melhor a cada dia. Espero assim, que a situação actual da empresa melhore, e que se volte a apostar no modo eléctrico como tantas vezes se promete em campanhas eleitorais.
Quanto ao futuro, que venham mais 9... 10... 20... Os que sejam, mas acima de tudo com saúde, força e paciência para enfrentar o dia-a-dia aos comandos dos eléctricos (e por vezes autocarros) pelos carris de Lisboa.
1 comentário:
Pode ser que venham novos eléctricos e daqui a nove anos estejas a comentar novas aventuras aos comandos dessas casinhas Amarelas. Parabéns.
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