terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O orgulho da marca Carris de outros tempos em semana atípica...

Há muito que por aqui não tenho passado e não porque não hajam histórias para contar. Apenas porque vou sendo vencido pelo cansaço e porque o tempo disponível não é o de outros tempos, porque voltei a estudar checo e as aulas acabam por ocupar parte desse tempo, à semelhança de outras actividades entusiastas ligadas aos eléctricos. Depois das viagens românticas dos dias dos namorados em que inúmeros casais aproveitaram a tarde para ir comer um pastel de Belém, veio o meu regresso à 28E nestes últimos dias em que a carreira tem andado como se diz na gíria... "insuportável". A Páscoa está à porta mas as enchentes da época já se fazem sentir e não há carros que cheguem para tanta gente.

Se no Martim Moniz, continuam as filas a aumentar porque a maioria quer lugar sentado, já ao longo do trajecto as filas vão diminuindo porque há sempre lugar para mais um. Empurra aqui, aconchega ali e lá se vai andado tipo sardinha em lata. Quase amassado, lá vou prosseguindo no movimento constante da manivela ora para ligar, ora para cortar a corrente aos motores, para que se vá vencendo os declives desta cidade de colinas.

Confesso que gosto muito do que faço, mas não posso esconder que ando a ser vencido pelo cansaço e pelo turismo de ponta a ponta. E perguntam vocês o que é esse turismo de ponta a ponta... Pois bem é aquele que vai do Martim Moniz aos Prazeres e dos Prazeres ao Martim Moniz com um único fim. Dizerem que andaram no tram 28 e que viram toda a Lisboa quando nem viram um terço. Dizerem que ficaram com os bolsos mais vazios ou que tiveram a sorte de não serem sorteados. Os amigos do alheio falam cada vez menos português mas tiram qualquer português do sério, mesmo aqueles que conduzem todas as nacionalidades com um horário pré-estabelecido que não se consegue cumprir, muito graças aos tampões criados por estes na entrada dos eléctricos. 

Os atrasos sucedem-se e se quem está do outro lado a gerir a carreira perde o fio à meada, então temos pano para mangas, sobretudo quando nos fazem perguntas do género «porque é que anda atrasado?», não vale a pena responder, porque quem não entende um atraso de um eléctrico dificilmente vai compreender o porquê do mesmo se atrasar... Resta-nos como dizia o actor português António Silva na rábula «A culpa é da Carris», ajudar e colaborar...

Mas deixando o presente de parte, vamos ao passado à boleia da passageira que esta tarde se transportou no 28E. «Boa tarde ò senhor.. diga-me lá uma coisa... que sabe, eu era mulher de um colega seu graduado da Carris, que infelizmente já faleceu de repente....» Sim diga... «Sabe se a Sé está aberta? É que venho com estas três amigas da Figueira da Foz que somos de lá, mas ainda temos casa cá mas não venho cá há tanto tempo que não sei como está isso dos bilhetes...»

Dos bilhetes? Questionei eu. «Sim, tenho o passe de mulher do graduado da Carris, mas esses ladrões que lá estiveram disseram que iam tirar... Afinal não sabemos porque esta amiga está manca. Não pode andar, também lhe morreu o filho há pouco tempo coitada. (ao mesmo tempo que a amiga reportava "esteja calada com isso senhora, vamos lá noutro dia...) e gostava de lhe mostrar a cidade, está a ver?»

A senhora parecia ligada à corrente e na distância entre a paragem de São Vicente e das Escolas Gerais, já me tinha contado a vida toda sem que lhe tivesse perguntado nada. «Foram bons temos os que o meu marido viveu nesta companhia. Desejo-lhe saúde e a mesma felicidade aqui que o meu marido teve. Muita saúde é o que lhe desejo...» 

E lá foi ela dar a conhecer a Sé e a Igreja de Santo António, «aquela onde casam as noivas...», dizia.

E assim vão as viagens no presente e ao passado a bordo das "casinhas" amarelas da Carris...

3 comentários:

CR 35 disse...

Se chegarem a prolongar o eléctrico até Santa Apolónia, talvez alivie um bocado,tanto nas carteiras como na lotação

WhySpacer disse...

É sempre um prazer ler as tuas crónicas da viagens. Continua!

alfacinha disse...

Gostei de ler os artigos pois ,adoro de viajar com os elétricos de Lisboa
abraços

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