Todos gostarão certamente dos planos que as operadoras móveis oferecem nos dias que correm. De chamadas a mensagens ilimitadas, há de tudo e para todos os gostos. Mas se estes planos trazem vantagens há também o outro lado da medalha que era dispensável, aquele que leva pessoas a falarem por falar, deixando muitas vezes de socializarem pessoalmente só porque as chamadas são grátis.
Durante este período de ausência da rotina diária do trabalho, e durante uma das deslocações ao médico, optei por usar o transporte público, até porque o braço não está ainda a 100% para condução numa cidade cada vez mais congestionada em que o pára-arranca é constante. Nessa deslocação entre a Clínica de Todos os Santos e a Penha de França, optei pelo 706 e se a viagem parecia ser curta é distância, tornou-se longa por causa de quem quis usar ao máximo as chamadas grátis e ilimitadas.
Como se não bastasse o uso desenfreado que o rapaz decidiu dar ao telemóvel, todos os que viajavam naquele autocarro tiveram de ficar a saber o que se passava naquele tema de conversa que mais parecia para "encher chouriços". Do outro lado da linha estava a namorada e ambos desempregados. Tinham chegado à conclusão que o melhor seria abrirem um negócio próprio. Ele com uma pronuncia vincada do norte do país falava como se fosse conhecedor de toda a actividade profissional, dando a entender ser o perfeito sócio para qualquer sociedade futura.
Ela do outro lado, e a julgar pelas respostas dele, parecia mais cautelosa e receosa em querer arriscar nos dias que correm. Ele não tinha dúvidas, o ideal seria abrir um «snack-bar que não tem de ser igual a outros snack-bar's, ponto.» E acrescentava que «o que dava bem era um restaurante de francesinhas porque em Lisboa não comes uma francesinha de jeito.» Ela parecia continuar hesitante quanto à aceitação por parte dos clientes, mas ele estava convicto de que «tem de ser uma francesinha em condições. Vivi treze anos no Porto e estás a querer dizer-me que não sei o que é uma francesinha? Para já tens de pensar bem no que queres fazer, porque num snack-bar tens de servir no mínimo pequenos-almoços, almoços, lanches e fechar no máximo dos máximos às oito da noite!»
O entusiasmo era tanto para trazer as verdadeiras francesinhas para Lisboa, que o rapaz falava cada vez mais alto e cada vez mais convicto ao ponto dos restantes passageiros começarem a inevitável troca de olhares. «Para servires pequenos-almoços tens de abrir as portas no mínimo às 7h00 que é quando começam a aparecer pessoas nas ruas e para jantares tens de aguentar que as pessoas acabem de jantar pelo que tens de fechar às 23h00», esclarecia ao mesmo tempo que já se contrariava a si próprio porque tinha dito minutos antes que tinha de fechar às oito da noite. A conversa prosseguia ao ritmo da viagem daquele autocarro, mas com a diferença que o 706 ia percorrendo vários locais e a conversa não passava do mesmo.
Depois seguiram-se os tipos de molhos e acompanhamentos, ao ponto de deixar qualquer um enjoado de tanta francesinha, e tudo isto quando nem o local para o negócio estava escolhido, porque segundo aquele sócio, o lugar é a última coisa a escolher-se. Primeiro faz-se o horário e depois escolhe-se o local, como se o local fosse depender daquele estabelecimento. Entretanto e sem conclusão aparente naquele futuro negócio, saí na minha paragem de destino e creio que a conversa continuou até Santa Apolónia sem que tenham chegado a qualquer tipo de conclusão, até porque as chamadas são grátis e podem a qualquer instante voltar a debater o assunto.
Espero no entanto que escolham outro local para o assunto ser discutido, porque quem segue viagem num autocarro merece ter uma viagem mais tranquila e sem qualquer tipo de francesinha.
1 comentário:
Basta entrarem num terminal já a falar e saírem no outro terminal sem acabarem a conversa...IRRA!também existem aqueles que pensam que estão num estádio de futebol,berram,falam mal etc.....ou os que ouvem música de batuque africana,rap brasileiro esquecendo-se das suas raízes.
Enviar um comentário