domingo, 21 de setembro de 2014

Quando as chamadas são grátis até as francesinhas são tema de conversa no 706

Todos gostarão certamente dos planos que as operadoras móveis oferecem nos dias que correm. De chamadas a mensagens ilimitadas, há de tudo e para todos os gostos. Mas se estes planos trazem vantagens há também o outro lado da medalha que era dispensável, aquele que leva pessoas a falarem por falar, deixando muitas vezes de socializarem pessoalmente só porque as chamadas são grátis. 

Durante este período de ausência da rotina diária do trabalho, e durante uma das deslocações ao médico, optei por usar o transporte público, até porque o braço não está ainda a 100% para condução numa cidade cada vez mais congestionada em que o pára-arranca é constante. Nessa deslocação entre a Clínica de Todos os Santos e a Penha de França, optei pelo 706 e se a viagem parecia ser curta é distância, tornou-se longa por causa de quem quis usar ao máximo as chamadas grátis e ilimitadas.

Como se não bastasse o uso desenfreado que o rapaz decidiu dar ao telemóvel, todos os que viajavam naquele autocarro tiveram de ficar a saber o que se passava naquele tema de conversa que mais parecia para "encher chouriços". Do outro lado da linha estava a namorada e ambos desempregados. Tinham chegado à conclusão que o melhor seria abrirem um negócio próprio. Ele com uma pronuncia vincada do norte do país falava como se fosse conhecedor de toda a actividade profissional, dando a entender ser o perfeito sócio para qualquer sociedade futura.

Ela do outro lado, e a julgar pelas respostas dele, parecia mais cautelosa e receosa em querer arriscar nos dias que correm. Ele não tinha dúvidas, o ideal seria abrir um «snack-bar que não tem de ser igual a outros snack-bar's, ponto.» E acrescentava que «o que dava bem era um restaurante de francesinhas porque em Lisboa não comes uma francesinha de jeito.» Ela parecia continuar hesitante quanto à aceitação por parte dos clientes, mas ele estava convicto de que «tem de ser uma francesinha em condições. Vivi treze anos no Porto e estás a querer dizer-me que não sei o que é uma francesinha? Para já tens de pensar bem no que queres fazer, porque num snack-bar tens de servir no mínimo pequenos-almoços, almoços, lanches e fechar no máximo dos máximos às oito da noite!»  

O entusiasmo era tanto para trazer as verdadeiras francesinhas para Lisboa, que o rapaz falava cada vez mais alto e cada vez mais convicto ao ponto dos restantes passageiros começarem a inevitável troca de olhares. «Para servires pequenos-almoços tens de abrir as portas no mínimo às 7h00 que é quando começam a aparecer pessoas nas ruas e para jantares tens de aguentar que as pessoas acabem de jantar pelo que tens de fechar às 23h00», esclarecia ao mesmo tempo que já se contrariava a si próprio porque tinha dito minutos antes que tinha de fechar às oito da noite. A conversa prosseguia ao ritmo da viagem daquele autocarro, mas com a diferença que o 706 ia percorrendo vários locais e a conversa não passava do mesmo. 

Depois seguiram-se os tipos de molhos e acompanhamentos, ao ponto de deixar qualquer um enjoado de tanta francesinha, e tudo isto quando nem o local para o negócio estava escolhido, porque segundo aquele sócio, o lugar é a última coisa a escolher-se. Primeiro faz-se o horário e depois escolhe-se o local, como se o local fosse depender daquele estabelecimento. Entretanto e sem conclusão aparente naquele futuro negócio, saí na minha paragem de destino e creio que a conversa continuou até Santa Apolónia sem que tenham chegado a qualquer tipo de conclusão, até porque as chamadas são grátis e podem a qualquer instante voltar a debater o assunto.

Espero no entanto que escolham outro local para o assunto ser discutido, porque quem segue viagem num autocarro merece ter uma viagem mais tranquila e sem qualquer tipo de francesinha. 

1 comentário:

CR 35 disse...

Basta entrarem num terminal já a falar e saírem no outro terminal sem acabarem a conversa...IRRA!também existem aqueles que pensam que estão num estádio de futebol,berram,falam mal etc.....ou os que ouvem música de batuque africana,rap brasileiro esquecendo-se das suas raízes.

Translate