segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Troca de galhardetes por causa da muleta no salve-se quem puder a bordo do 28

Gostava de ter presenciado os gloriosos anos em que os eléctricos eram abertos e entrava-se e saia em andamento, em que se empoleiravam em busca de um lugar ou simplesmente de uma boleia, do tempo em que o cobrador aparecia ou fiscal era respeitado, do tempo em que os senhores de cartola e as senhoras de chapéu eram respeitados e davam-se ao respeito, mas o certo é que longe vão esses tempos e hoje é o salve-se quem puder porque quem vem atrás que feche a porta. Assim vão os dias a bordo do transporte público na capital portuguesa, como em qualquer outro lugar do Mundo.

E nem a teoria de que os velhos devem dar o exemplo permanece válida porque hoje na 28E o clima esteve aceso entre São Bento e a Calçada do Combro e tudo porque uma senhora já com alguma idade, tocou sem querer com a sua muleta numa outra senhora de idade que estava sentada no lugar em frente que não gostando do descuido lá disse: «Bolas, que a senhora é bruta. Tomara eu aguentar com as minhas dores, quanto mais levar com a sua muleta...»

Indignada, por não ter sido desculpada pela referida senhora, a passageira da muleta, pediu desculpa e fez questão de frisar que não tinha sido propositado. «A senhora não vê que foi sem querer? Não tive a culpa de me desequilibrar e cair para o seu lado, tocando-lhe com a muleta...» E a outra voltava a queixar-se da falta de cuidado, mas o certo é que viajava já comodamente sentada quando a outra lhe tocou ao sentar-se. Mas a segunda não se ficou por ali. «Já lhe pedi desculpa, mas a senhora é muito parva. Apesar de eu ser velha, preferia desequilibrar-me para cima de um cavalheiro do que para cima de si, sua velha jarreta...» E mais não respondeu a "ofendida".

A viagem prosseguia com algumas trocas de palavras entre ambas, chegando mesmo a causar algumas gargalhadas na retaguarda. Mas a cena terminaria já na Calçada do Combro quando a passageira da muleta saiu mas não sem antes recordar à outra passageira que «sou velha e bem sei, mas tu ainda és mais velha que eu, minha rançosa, eeehhhiii», e lá foi com alguma dificuldade descendo os estribos do eléctrico enquanto a outra penetrava o rosto no folheto do Lidl fazendo que não ouvia nada do que vinha já do lado de fora da porta.

E assim foi mais uma viagem na carreira das histórias, a mítica 28E que apesar de tudo continua a fazer parte das minhas preferências.

2 comentários:

CR 35 disse...

Isto é mesmo do melhor....a malta dos bairros sem preconceitos!língua afiada e salta do chinelo ....BADALHOCAS!

nmom83 disse...

Tenho de apanhar o 28 e fazer um vídeo ehe

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