sábado, 2 de novembro de 2013

Madrugadas na 15E... «Chamem a polícia, que eu não pago...»

Mais uma madrugada daquelas de arrancar os cabelos. Tudo bem que o horário não era de longe dos melhores. Poucos terão até ideia do que é sair de casa às 04h30 e chegar a casa às 16h30, porque claro que não podemos esquecer das deslocações casa-trabalho e trabalho-casa. Eis um dos espinhos desta profissão que outrora foi respeitada e que hoje vai deixando de ser. Como é do conhecimento geral, sobretudo de quem segue este blogue desde 2008, as madrugadas são por mim dispensadas, contudo, por vezes não as consigo evitar, apesar de serem sempre muito procuradas por grande parte da tripulação da minha estação. 

É bom sair cedo? Claro que sim, mas para tal temos de acordar muito cedo e nada melhor que poder desfrutar de um bom sono e não ter de enfrentar situações que já foram diversas vezes relatadas, inclusive na comunicação social, e que me fui habituando a presenciar mais na rede da madrugada quando ainda era motorista na estação da Musgueira.

Ainda assim esta manhã cheguei mesmo a colocar em causa se estaria numa capital europeia minimamente civilizada ou se estaria numa selva. Cheguei de imediato à conclusão que a segunda hipótese era a mais plausível. Só me vinha à cabeça a música dos "Trabalhadores do Comércio", que convido agora a ouvirem enquanto lêem o resto do texto...


Desgraçadas das 4 clientes que seguiam já viagem comigo desde Algés. As paragens do Calvário e Infante Santo, foram um autêntico epicentro de um abalo da maior escala possível, e dizem colegas que por lá costumam andar que nem era dos piores dias. O certo é que parar naquelas paragens fez-me sentir uma revolta interna que se fazia agitar a cada entrada, fosse pela janela, pela porta de trás que forçavam para não fechar ou pela porta da frente que por pouco não caiu.

Fui em minutos, engolido por uma multidão de seres que após gozarem a noite ao som de música e com uns copos na mão, decidem fazer um prolongamento num transporte público, mesmo que sem título de transporte algum. O eléctrico abanava como se uma ventania se fizesse sentir no exterior, e escusado seria pedir calma ou o que fosse, porque a excitação de quem não sabe o que é viver em sociedade era bastante elevada. Por mim passavam ambulâncias em direcção do Cais do Sodré. Polícia? Nem vê-los. Mas afinal onde está a prometida segurança a quem trabalha neste eixo lisboeta? 

Depois da Infante Santo, apenas tive condições de segurança para parar no Cais do Sodré e desejoso estava eu de entrar na 28E que apesar de cansativa e muito procurada por turistas que o enchem a toda a hora, é de longe a melhor carreira que posso fazer, mas antes ainda tinha pela frente uma ida a Algés e respectivo regresso. Solicitei junto da Central que fosse pedida a presença da PSP no local, mas o certo é que nas esquadras o ambiente estava bem mais agradável e certamente sem tantas chatices. 

Lá entrei finalmente às 07h38 no Martim Moniz na carreira 28E, perante um sossego tremendo comparando com as viagens anteriores. Bem dita seja a carreira 28E, onde houve ainda lugar a uma interrupção por quem decidiu ir comprar o jornal Expresso que sai habitualmente aos sábados para a banca. De expresso teve pouco, o senhor que deixou o carro a impedir a passagem do eléctrico. Após tocar insistentemente à campainha  ninguém surgia junto do mesmo e muitos foram os que tiveram de seguir o resto da viagem a pé, pelo menos até Sapadores, porque 15 minutos depois lá aparecia o dono do carro, a dizer que «eu estava só ali a comprar o jornal, nem reparei...», pois claro está. Não reparou nem ouviu a campainha tocar. Cheguei mesmo a pensar que terá ido buscar o jornal à gráfica. 

E lá prossegui então viagem neste dia de trabalho que custou e muito chegar ao fim. Agora o merecido descanso e o regresso amanhã ao circuito das colinas...

    

1 comentário:

CR 35 disse...

De facto a democracia está demasiado abandalhada neste País,a falta de respeito pelo trabalho dos outros é uma constante.Só mesmo uma ditadura é que faz funcionar estes portugueses pobres de tudo.

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