domingo, 17 de novembro de 2013

Amor às voltas na carreira "carrossel", onde a senha de demasia faz milagres!

O frio chegou e congelou as ideias dos nossos passageiros. Esquecem-se que o eléctrico, tal como o autocarro não é uma caixa multibanco, e tentam a todo o custo dificultar ao máximo a tarefa de quem tem de vender um bilhete sempre que solicitado. Da Praça da Figueira para o Castelo poucos minutos são necessários e muitos menos seriam se os nossos queridos passageiros facilitassem os trocos. Mas para quê levar trocado se podemos levar 20 euros?, poderão questionar alguns. 

Assim foi quase toda a manhã, na carreira "carrossel" da Carris. Num vai e vem constante à Praça da Figueira, em muito, idêntico ao jogo do lenço mas com a diferença que ali ando sempre sentado em todas as voltas, lá fui levando os mais corajosos que enfrentaram o frio para rumar até ao Castelo de São Jorge. 

GF: -Bom dia...
TUR: -2 entradas por favor.
GF: -5.70€ se faz favor.
TUR: -Este billete no es válido?(mostrando um bilhete da viagem anterior). 
GF: -Não, esse bilhete já não é válido, pois é apenas para uma viagem.
TUR: -Pero sólo tenemos € 5.50.
GF: -Então terá de arranjar mais 20 cêntimos...
TUR: -Tienes cambio de 50 euros?
GF: -Lamento mas não. 

E de imediato apareceu uma nota de 10€, isto para quem só tinha 5.50€. Mas na volta seguinte, ao mesmo tempo que os trocos iam "voando" ao ritmo das voltas que ia dando, eis que entra determinada e com uma nota de 20€, uma senhora portuguesa que queria apenas "dar uma volta". 

GF: -São 2.85€ por favor.
Cli: -Aqui tem (estendendo-me a nota de 20€)
GF: -Peço desculpa mas não me arranja nada mais pequeno? É que não consigo já ter troco para 20€.
Cli: -Desculpe lá mas não tenho. Mas o senhor tem de ter troco!
GF: -Pois bem, arranjo-lhe troco até 10€ e passo-lhe uma senha de demasia e posteriormente a senhora dirige-se a um posto de venda da Carris e recebe a quantia em falta, se assim preferir. 
Cli: -Não, isso não. Era só o que me faltava. Mas espere lá deixe-me ver se tenho aqui trocado... (abre a carteira repleta de moedas e eis que...) Afinal tenho aqui 2.85€.
GF: -Aqui tem o seu bilhete, muito obrigado.

Ora afinal de contas a senhora até tinha trocado. Afinal de contas a senhora, à semelhança de tantos outros, pensava mesmo é que o guarda-freio que pediu 2.85€ pelo bilhete, era uma voz mais masculina de um qualquer inovador ATM que não diz "retire o seu dinheiro", mas que pouco falta. Que não aceita cheques, mas que por vezes fica sem dinheiro. Que não cospe papel, mas que entrega bilhetes e que ao contrário de anúncios mostra a cidade através das janelas do eléctrico que percorre os carris faça frio ou calor. 

E por falar em calor, esta manhã fria acabaria com um passeio de um casal que comemorava os 60 anos de casamento. Com alguma idade o casal entrava no eléctrico após um farto almoço. A esposa ainda não sendo cliente dos aparelhos auditivos apresentados pelo Júlio Isidro, perguntava em alto e bom som ao marido pelo troco do almoço. O marido sabendo da dificuldade da escuta da receptora, berra-lhe ao ouvido que «troco não houve. Ainda tive de acrescentar 2 euros Alice. Foram 22 euros!» e esta nem queria acreditar. «22 euros o almoço? Não pode ser...» 

Trocavam carícias como se tivessem recuado 60 anos e diziam aos turistas que viajavam no banco de trás que foram até agora 60 anos de muito amor e amizade. «Raramente almoçamos fora, pagámos bem mas comemos bem! comemoramos 60 anos de casados» dizia o marido ao turista que não estava a entender nada... Mas isso não interessava para nada. A felicidade estava estampada no rosto e descrita a cada palavra. «Agora desfruta da viagem», rematava o senhor para a sua amada. E lá prosseguiram para mais uma volta na carreira 12E.

E assim se espalhou o amor na carreira pela qual não morro de amores...

1 comentário:

CR 35 disse...

Ainda não consigo entender onde foram buscar a obrigatoriedade dos funcionários andarem carregados de trocos?será que os neurónios de algumas pessoas deixa de funcionar? sim deixam. Se alguém em movimento levar cem euros em trocos (por opção)e em três paragens os despachar como o fazem...param o eléctrico e vão ao café mais próximo buscar trocos?e aquelas pessoas que antes de entrarem, vieram do café ?porque não se preveniram antes? ou num terminal ou paragem, com uma loja que carrega títulos com tempo de carregar o LV com viagens ou zapping (CONVINHA OS RESPONSÁVEIS MUDARAM O TERMO PARA PORTUGUÊS)é mais fácil estar o eléctrico parado tendo o GF a tentar resolver o problema! cultura portuguesa de chacha!

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