Neste mesmo dia, há 25 anos
atrás, o meu dia começava como tantos outros. Com os meus cinco anos de idade,
ocupava as manhãs brincando sobre um tapete no chão da casa onde vivia, com os
carrinhos, sinais e bonecos que juntos criavam uma cidade no meu imaginário e
que era percorrida pelos carros que as minhas próprias mãos conduziam, passando
horas e horas entretido naquele vai e vem de carros sobre a barra de um tapete
que era a estrada. As manhãs eram igualmente acompanhadas pela televisão onde
passavam os desenhos animados que mais gostava, “As aventuras de Tom Sawyer”.
E viriam a ser precisos mais de
10 anos para a reconstrução do Chiado a cargo do arquitecto Siza Vieira. Hoje
completam-se 25 anos após essa manhã devastadora que quem a viveu jamais esquecerá.
Lisboa acordava com um manto de fumo e lavaredas destruindo em cinco horas o
que Marquês de Pombal fez em vários anos e hoje muito mudou. Lisboa acorda com
um novo Chiado. Para uns mais bonito, para outros nem tanto. Mas quer se goste
ou não este é o Chiado que temos e muito mudou ao longo destes 25 anos não só
no Chiado mas na cidade de Lisboa.
Os autocarros deixaram de ser
laranjas e adoptaram o amarelo dos eléctricos e do dia do incêndio parece
permanecer o elevador de Santa Justa, porque o resto em seu redor foi
reconstruido. Onde antes se compravam tachos e panelas, compra-se agora roupas
e livros, e onde começava a carreira 24 restam agora os carris. Hoje temos um
Chiado renascido que continua a ter o 28E como seu principal amigo no vai e vem
de turistas que o procuram, mas a seus pés está também o metropolitano que
surgiu em 1998, juntando as linhas verde e azul, constituindo por si só também
uma das principais alterações da zona após o incêndio de 1988.
A zona continua no entanto caracterizada
pelo boémio estilo onde se cruzam todas as classes e onde as grandes marcas se
juntam às tradicionais casas de comércio que vão resistindo aos tempos difíceis
que se atravessam. O Chiado continua a ser sem dúvida um bilhete postal de uma
cidade que tem vindo a modernizar-se de ano para ano.
E ao longo destes 25 anos, cresci e estudei, cheguei a concretizar o sonho de fazer reportagem através da imagem, que quem sabe, poderá ter nascido também neste dia com a cobertura televisiva deste grande incêndio. Mas as voltas da vida levaram-me a conduzir os autocarros amarelos, no aproximar de uma paixão que vem de infância, a quando das deslocações de casa para a escola. Na prateleira ficaram os carrinhos de brincar e o autocarro de dois pisos da Carris que ainda hoje estimo e passei a ter nas mãos os autocarros à escala real. Mais tarde a possibilidade de exercer uma profissão também ela com história, com a mudança para Santo Amaro onde permaneço ainda hoje, na condução dos eléctricos "amarelos" de Lisboa, que continuam a percorrer o bairro do Chiado, na encantadora carreira 28E , num constante sobe e desce pela cidade de Lisboa.
Eis então, o recuperar da emissão televisiva da manhã de 25 de Agosto de 1988...
3 comentários:
Lisboa continua a ser caótica nos bairros mais antigos ,não existem planos nem acessos para o caso de haver novamente uma tragédia.Reduzem-se ruas, alteram-se sentidos, sem haver concordância com a protecção civil e os bombeiros,prédios em ruínas por causa de burocracias,lixo, falta de bocas de incêndio fiscalizadas, ou tapadas por carros mal estacionados.
lol
o pior nem é isso, sabendo o que sabe, todos os lisboetas deviam ser informados com uma carta geográfica actualizada da cidade com todos os perigos assinalados ou mesmo um livro sobre o que fazer ou para onde ir em caso da terra sentir cócegas. Todas as freguesias deviam ter pontos de fuga obrigatórios. Enfim...
é a minha opinião...
Não recordo o 24 com início no Chiado. A ter havido, foi bem antes do "meu tempo". Recordo o 24 com as bandeiras "Carmo-R.Alfândega", "Carmo-A.S.João" e "C.Sodré-A.S.João, na última fase, quando o 25 deixou de ser "C.Santo-G.Freire" para ser "R.Alfândega-Carmo"...
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