Fundada em 1872 no Brasil, a Carris – Companhia de
Carris de Ferro de Lisboa, trouxe para a capital portuguesa no ano seguinte, o
transporte «americano» com carros puxados por animais, que vieram assim
substituir as carroças até então muito utilizadas. A primeira linha foi entre a
Estação da linha Férrea Norte e Leste (Stª. Apolónia) e o então extremo Oeste
do Aterro da Boa Vista (Santos).
Os alfacinhas acotovelavam-se para ver aqueles «32
carros elegantes, sólidos, de boa construção», que prometiam alívios a
muitos pés e rapidez nas deslocações. E se o sucesso foi enorme, logo no
primeiro domingo de serviço, com 6000 passageiros transportados em 7 carros,
maior seria o sucesso dos eléctricos que vieram substituir «os americanos» a 31
de Agosto de 1901.
No princípio foi o susto, mas depressa os lisboetas
acalmaram. Renderam-se aos encantos práticos dos amarelos que entraram assim na
história da cidade, que viria a crescer em redor das novas linhas de
eléctricos.
Dia e noite, os operários trabalharam nas ruas da
cidade, abrindo valas, desviando canalizações e instalando carris, abrindo
assim caminho a uma nova era do transporte público em Lisboa, com a chegada dos
eléctricos que já tinham chegado às instalações da Carris em Junho. Ao todo
eram 80 carros abertos, com uma lotação de 36 passageiros sentados e 5 de pé, e
de 75 carros fechados, que levavam 24 passageiros sentados e 14 de pé.
“Os guarda-freios, de fato azul-escuro, calças com lista
vermelha e galões dourados no boné de pala direita, e os condutores aperaltados
com uniforme idêntico, mas com listas douradas nas calças e galões prateados no
chapéu, estavam prontos para levarem os eléctricos no seu primeiro passeio
oficial. Às 6 da manhã do dia 31 de Agosto de 1901 foi inaugurado o serviço de
eléctricos, na linha entre o Cais do Sodré e Algés. Ao longo do caminho,
juntou-se gente para admirar os carros, comentar as modernices do letreiro
luminoso que indicava o destino do veículo, o fender, designado como
salva-vidas na versão portuguesa, encurvado na dianteira do eléctrico como
protecção contra atropelamentos, a campainha estridente que avisava os
distraídos para se afastarem do meio da rua.”, lê-se no livro «Aventuras sobre Carris».
Rapidamente foram esquecidos os americanos e os medos
respeitantes aos choques eléctricos que dizia-se que estes iam causar, mas
ainda assim havia quem “aconselhasse a formação de uma Associação dos
Fluminados dos Carros Eléctricos, não fosse o Diabo tecê-las...”
Mas a frota da Carris foi crescendo à semelhança das
carreiras e com o passar dos anos já ninguém dispensava os eléctricos que em
1910 tinham já uma extensão de 114 Kms. Vinte anos mais tarde foram atingidos
os 147 Kms, mas actualmente são apenas 48Kms divididos pelas 5 carreiras
actuais. Muitos foram os modelos que compuseram a frota ao longo dos anos e
muitos foram também as alcunhas que os eléctricos foram tendo. Do «São luís»
aos «Caixotes», não esquecendo o «Afonso Costa» ou os «Almaranjas», eles foram
os antecessores dos actuais «Remodelados» e «Articulados» que efectuam o
serviço público regular de passageiros 112 anos depois da inauguração da
tracção eléctrica em Lisboa. Hoje os eléctricos “lutam” tenazmente pela sua
sobrevivência!
E se na época poucos foram os que ficaram indiferentes
ao aparecimento dos eléctricos, hoje ainda muitos são os que dão
preferência a este transporte típico da cidade de Lisboa, mesmo que haja
carreiras de autocarros sobrepostas nos percursos dos carris. Hoje como há 112
anos, os eléctricos fazem parte do quotidiano da capital portuguesa e é o
delírio para muitos dos turistas que nos visitam. A importância desta data, não
podia deixar de ser referida neste “Diário do Tripulante” que hoje apresenta
algumas imagens sobre os nossos eléctricos.
[n.d.r]: Fotos de arquivo "Diário do Tripulante" / "jhm0284" / "postais" e outros autores desconhecidos.
1 comentário:
Parabéns Santo Amaro,Guarda Freios e manutenção por ainda os manterem ao serviço.QUEREMOS MAIS CASINHAS AMARELAS.
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