sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Um serão na 15E: Aqui há botas!

Se há algo que não me canso de dizer, é que quem fez serviços acima das oito horas de trabalho de condução num transporte público em Lisboa, devia no mínimo andar lá duas vezes por semana para ver o que custa entrar perto da hora do almoço e sair muito para lá da hora do Jantar sendo obrigado a fazer as duas refeições fora de casa. Mas a vida é assim mesmo e nos tempos que correm o importante é mesmo ter trabalho. Com o final da semana à porta, hoje o serviço marcou o regresso aos serões, a segunda vez esta semana, o que acabou por descontrolar completamente o organismo, algo com que os tripulantes estão já acostumados, nomeadamente os supras como é o meu caso.

Ora de manhã, ora de tarde e até à noite, o certo é que o serviço tem de ser feito por alguém e esta quinta-feira andei pela 15E. Se na primeira parte do serviço só consegui ir uma única vez à Praça da Figueira, das três vezes que estavam previstas e tudo por causa de carros mal estacionados ou avarias, já na segunda parte do serviço as viagens conseguiram ser todas feitas. Mas se há carreira pela qual não morro de amores é mesmo esta carreira 15E que faz perder a paciência a qualquer um, primeiro pela linearidade do seu trajecto quase sempre recto e depois pela quantidade de interrupções que surgem quando menos se espera. 

Mas se a uns faz perder a paciência, outros há que perdem as botas e por se encontrar está o dono de quem as esqueceu penduradas no balaústre do eléctrico 504. Apercebi-me do esquecimento durante uma das interrupções, quando muitos tiveram de optar por seguir o resto da viagem a pé ou de autocarro. Provavelmente aquelas botas seriam um segundo par, pronto para o que desse e viesse. E ali ficaram até ao resto da viagem à espera que o dono as viesse reclamar. Aparentemente seriam de um dos romenos que entrou com a "casa" às costas no Largo da Princesa, mas de princesa as botas tinham muito pouco. 

Já na viagem seguinte uma senhora bateu à porta da cabine e pensando eu que vinha procurar pelas botas, dizia-me: «olhe estão ali umas botas esquecidas...» Agradeci a atenção da senhora e disse-lhe que não as poderia guardar porque não apresentavam condições mínimas de higiene. Dei no entanto, comigo a pensar o porquê das pessoas repararem num par de botas esquecido num transporte e não repararem no destino do eléctrico/autocarro ou no botão que faz abrir as portas ou até mesmo solicitar a paragem. Afinal tudo isto é bem mais importante que um par de botas que, ao que parece nem ao dono faziam tanta falta. O certo é que ao fim de duas viagens as botas já lá não estavam porque ou o dono terá aparecido ou alguém terá dado corda, não aos sapatos mas às botas que só faltavam ter uns óculos e uma boca para virarem botas Botildes a bordo do eléctrico 15E, porque famosas foram durante quase toda a tarde.

Terá sido hoje o fim do mundo para aquelas botas? É que por enquanto nós vamos por cá andando, quase descalços é certo, mas enfrentando as dificuldades que nos vão surgindo. E esta hein?!

2 comentários:

BRUXA disse...

Felizmente que, nao foi uma cabeca perdida...:-))))

CR 35 disse...

Botas à muitas seu ....palerma ! diria Vasco Santana!
Realmente não lhe fazem falta, o pior será o odor que as ditas exalam ou não.Mas como hoje dá para vender tudo na net ,porque não as pôr à venda?sempre dariam uns cobres para o pastel de nata em Belém!Boas viagens e um feliz Natal para todos os leitores do "Diário do Tripulante".

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