domingo, 7 de outubro de 2012

Não passou de um susto, perante a insensibilidade de alguns

Quando se está no sitio errado à hora errada, pouco há a fazer e isso mesmo foi o que aconteceu esta manhã, durante o meu serviço de reforço à carreira 15E. Depois de diariamente tentarmos evitar acidentes, nomeadamente quando circulamos em ruas onde poucos são os que respeitam os veículos sobre carris, eis que surge um incidente, imaginem só, estando parado. Com tanta procura a justificar o reforço da carreira, nomeadamente com destino a Belém, lá andei a fazer a ligação entre o centro de Lisboa e a zona dos pastéis, do museu dos coches e do mosteiro São Jerónimo, como muitos fazem questão de dizer. 

Mas na segunda viagem para Belém a viagem acabaria por terminar em Alcântara, apesar da lotação estar quase esgotada a bordo do 555. Inesperadamente e após efectuar a paragem, onde entravam e saiam passageiros, eis que do fundo ouço alguns gritos de aflição. Tento aperceber-me do que se passava e eis que o retrovisor mostra-me uma senhora estendida no chão, já no exterior do eléctrico. Dirigi-me então à porta traseira para me inteirar da situação e segundo a mesma, apesar de bastante queixosa, terá tropeçado num outro cliente que estava junto à porta de saída. 

Com alguma idade e queixas significativas, solicitei de imediato a ajuda médica através do INEM que apesar de parecer ter demorado eternidades, o certo é que demorou 6 a 7 minutos a chegar ao local, afinal de contas para quem espera nestas situações, cada minuto parece uma hora. De uma simpatia extrema o esposo da senhora, confessava-me que iriam celebrar num almoço os 50 anos de casados e que a queda não estava certamente nos planos. 

Em redor muitos foram os curiosos - como sempre acontece -  que tentaram cercar o local, mas sugeri então que seguissem viagem no 714, que passa no Largo do Calvário, alguns metros à frente. Sugestão aceite por uns, recusada por outros, que decidiam aguardar o desfecho da situação. Já perante o INEM e enquanto ajudava os tripulantes da ambulância, a imobilizar a lesada, o eléctrico enchia-se com os passageiros que entretanto tinham chegado no articulado que circulava atrás do meu. Encheu como se de um bar aberto se tratasse. Continuo sem perceber o porquê de quem está de férias, ter tanta pressa e falta de respeito, entrando num transporte público sem a presença do tripulante.

A senhora seguiu para o hospital - felizmente sem nada de grave, após conversa posterior que tive com o esposo, o qual não se cansou de agradecer o apoio dado - e pedi ordens à Central de Comando de Tráfego, que me encaminhou para S.Amaro para os procedimentos internos habituais nestas situações. Ao chegar ao eléctrico nem eu conseguia entrar. Pedi então que todos abandonassem o eléctrico, até porque não deveriam ter entrado sem ninguém aos comandos do mesmo. E lá surge uma passageira insessível, desculpem-me a expressão, que lá reclamou: «devem andar a brincar com as pessoas. Ainda agora entrámos, agora saímos...»

A vontade de lhe responder era muita, mas seria escusado tentar explicar algo. Logo de seguida, um espanhol dizia-me: «mas a porta estava aberta, porque não podemos entrar?» E agora pergunto eu: mas será que lá na casa do senhor, se a porta estiver aberta, sem ele por lá, também devo entrar à grande e à francesa?

Resolvida a situação e feito o transbordo, segui para S.Amaro e depois de preenchida a papelada, lá estava de volta ao reforço num dia que teve de tudo: Começou com um belo dia de sol, com gente simpática a querer desfrutar da cidade, passou a um dia cinzento, com nevoeiro e até mesmo algum frio, junto ao rio e terminaria com um incidente que apesar de não ter algum tipo de culpa, me deixou com alguma pena da senhora que seguia para a comemoração dos seus 50 anos de casamento com o seu esposo. Um casal humilde e que apesar da situação, deu gosto conhecer. Que tenha as rápidas melhoras.

Afinal de contas e felizmente foi só mais um susto, a juntar a tantos outros a que nós tripulantes e nomeadamente guarda-freios estamos sujeitos, muito por causa das características do veículo que muitos ainda teimam não respeitar.

2 comentários:

CR 35 disse...

Pois ! com eléctricos da MTS a circularem vazios em algumas horas porque a oferta é mais que a procura e com mais linhas abertas na cidade não se precisava de assistir a estas cenas .Senhor Ministro ,mude o sistema de transportes onde é preciso.

Jaime A. disse...

Felizmente que tudo acabou em bem e deixe-me felicitá-lo pelo seu profissionalismo.
Quanto aos passageiros... podemos dizer que há de tudo um pouco, não é?

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