
Também de mau humor estava eu logo pela manhã porque enfrentar um horário de 8h45 de condução com 2h00 de almoço, é no mínimo aquilo a que na escola se chamaria um verdadeiro castigo. Na verdade ninguém merece tamanha carga horária e de castigo devia ficar quem fez tal horário, nomeadamente numa carreira tão trabalhosa e desgastante como a 28E, com o seu percurso sinuoso, trânsito, turistas, perguntas de toda a espécie e até amigos do alheio. Posso desde já adiantar que após este dia de trabalho, parece mesmo que já trabalhei uma semana inteira. Mas deixemos de lamentações...

A certa altura e depois de muitos clicks, perguntam-me se ia para o jardim. Calculando que fosse o da Estrela, disse-lhes que sim. Atrás dessa pergunta vieram outras, até que acabaram por me dizer que estavam encantadas com Lisboa. Vinham de Istambul, na Turquia e queriam levar muitas fotos para aconselharem mais amigos a virem até cá. No final, acabaram por sair nos Prazeres e fizeram questão de tirarem os 4 uma fotografia comigo para mais tarde recordar.
Mas se até aqui a paciência ainda ia sendo compensada com a boa disposição dos turistas e troca de ideias sobre a cidade, já da parte da tarde e com o cansaço a apoderar-se da minha paciência perante a algazarra que os putos fazem quando saem das escolas, eis que na paragem do Canas, com destino ao Martim Moniz, um senhor com alguma idade e dificuldade na sua locução, pergunta-me se poderia pedir-me um favor. Queria que lhe alterasse o toque do telemóvel, mas apesar da vontade em ajudá-lo, o facto de não conhecer o menu do telemóvel, poderia levar algum tempo até que chegasse ao pretendido, o que não era viável sobretudo para quem estava a conduzir. Disse-lhe portanto que não poderia ajudá-lo.
Entretanto o semáforo tinha acabado de mudar para o verde, e uma senhora talvez incomodada por não lhe dar a atenção que estava a dar ao senhor idoso, ou talvez zangada com o patrão porque o dia não lhe terá corrido bem, também quis ela, não mudar o toque, mas dar o toque aqui ao senhor guarda-freio... «Está verde! Avance se faz favor...» Confesso que é das piores coisas que me podem fazer. Pois se eu não em meto no trabalho de ninguém porque é que se querem meter no meu? Olhei sobre o espelho e vi que não estava com cara de muitos amigos para comigo. Mas como por esta altura a paciência já estava esgotada depois de tanta hora, lá lhe perguntei se pretendia trocar de posição comigo, passando ela a levar o eléctrico. Lá me disse que «era bom, para ver se não perdia o 713...»
Do meio do eléctrico, alguém incrédulo com a situação diz-lhe de imediato «vai a pé ou vem mais cedo para a próxima pá. O sinal ainda agora abriu...» E o rosto da senhora corria todas as cores do arco-íris, porque tinha acabado de perder uma oportunidade para ter ficado calada, até porque não teve por exemplo tanta pressa em validar o título de transporte ou de chegar à porta da traseira para sair na paragem pretendida a poucos metros à frente.
Na verdade o que acho mesmo é que muita gente adorava conduzir um eléctrico ou um autocarro, porque esta situação, fez-me também lembrar situações idênticas que vivi antes da minha mudança para Santo Amaro, quando quem ia sentado no primeiro lugar dava toques com os pés, mal o sinal mudava para o verde, como se estivessem a acelerar o carro. Um stress que é cada vez maior, porque as pessoas acabam por estar cada vez mais impacientes, para com as viagens após os tempos de espera também eles serem maiores e depois tudo recai naturalmente sobre o tripulante que é, digamos assim, o "pai da criança".
2 comentários:
Eu desde puto que adorava conduzir um eléctrico, tantas vezes fiz a viagem de pé ao lado esquerdo do guarda freio no 25 e no 28, a observar todos os movimentos que já tenho a teoria toda.
Se está verde....o melhor era deixar amadurecer!Boas viagens a bordo da CCFL
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