segunda-feira, 2 de abril de 2012

Invasão espanhola na 28E e com o rendimento mínimo à mistura

A Páscoa parece já ter chegado ao eléctrico 28E. Com o aproximar da data, nuestros hermanos invadiram uma vez mais Lisboa e claro está, os tranvias voltam a andar cheios para cima e para baixo. E se de repente no meio de franceses e sobretudo espanhóis lá se ouvir alguém perguntar «were is the stop for de Castle?» então poder-se-á dizer que foi alguém que se infiltrou na invasão espanhola a Lisboa e suas colinas. Sejam bem-vindos ao universo da carreira 28E.

Perante um tempo que prometia muita chuva pela manhã cinzenta, que fazia lembrar o provérbio popular que diz que «em Abril, águas mil», o certo é que a chuva acabou por não aparecer, deixando espaço para o Sol dar um ar de sua graça. E se muitos eram os que passeavam entre os Prazeres e o Martim Moniz, outros haviam que tentavam a todo o custo entrar no eléctrico para regressarem a casa após mais um dia de trabalho num ano que já por si não é fácil para quem trabalha.

Na minha última viagem do dia, com destino ao Martim Moniz preparava-me para sair da paragem do Largo da Graça, quando avisto uma senhora a correr em direcção ao eléctrico com ar cansado e de quem já não conseguia dar mais um passo. Quase sem fôlego, agradece-me o facto de ter esperado por ela. E já dentro do eléctrico e com a porta fechada para seguir viagem, lá foi desabafando...

«Obrigada filhote. Deus te dê saúde que é o que peço também para mim. Venho tão cansada do trabalho...», dizia enquanto lá do meio alguém dizia que «hoje não há fados rapariga», dando a ideia que nos tempos livres a senhora gosta de cantar fado. Ela não se conteve e continuou... «Ai vais aí também? Epah, venho do trabalho tão cansada. Fartinha de esfregar escadas. Anda uma pessoa a trabalhar para essas p**** do rendimento mínimo. Dizem que não têm trabalho. É mentira! Não há é empregos...» dizia quando já tinha mais alguns passageiros a darem-lhe razão.

Entre a Graça e a Rua da Palma não faltaram temas de conversa naquele eléctrico e quando chegou ao seu destino, não deixou de voltar a agradecer ter esperado por ela. Assim vão as viagens pelo eléctrico mais emblemático da cidade de Lisboa!

2 comentários:

Marta disse...

Boa noite,

O meu irmão é seu colega o que faz com que respeite ainda mais a vossa profissão. Não é fácil e sei que muitas vezes custa não receber pelo menos um bom dia e ainda ter de ouvir certas coisas. Mas é uma profissão bonita e um contacto bonito com o povo português e lisboeta. Costumo olhar para os motoristas com admiração e aqueles que mais "apanho" vejo-os como amigos... divirto-me muito a andar de autocarro.

Um abraço e força, tem aqui um belo cantinho!

Patrícia disse...

curioso. comentou ontem numa nota que deixei na página da Carris por causa de uma situação que presenciei no 28. também estava cheio de espanhóis e penso que foram eles que deram a ideia de desviar a carrinha para deixar passar o eléctrico. o 28 é todos os dias um mistério.

Translate