terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"Retratos" de um dia de trabalho em Lisboa...

O Natal aproxima-se a passos largos e talvez por isso, a simpatia dos nossos queridos passageiros, esteja também ela, mais próxima da relação passageiro/tripulante, quer seja a bordo de um eléctrico ou de um autocarro, porque acredito que neste mês a percentagem de quem nos cumprimente, aumenta substancialmente.

Com muito frio à mistura, muitos procuram no transporte público forma de se "aquecer", nem que seja com uma simpática troca de palavras com o passageiro do lado ou com o condutor, em quem vêem um amigo. Diariamente entram pela porta do eléctrico pessoas que, se não fosse aquela viagem, não teriam com quem desabafar os problemas com que se deparam diariamente, não podendo deixar de referir os “reumáticos”, as “artroses” ou os “bicos de papagaio”.

Viagem para cima, viagem para baixo, vejo ainda assim, rostos que tentam resistir a uma crise que também não é esquecida nos dias que correm. Numa das paragens, em frente a uma pastelaria, vejo as mesas vazias à frente de um empregado que parece contar o pouco dinheiro facturado ao longo do dia. Ao meu lado direito entra uma senhora que me pede um bilhete.

“- São 2.85€, por favor...”, digo-lhe.

Apanhada de surpresa, diz-me que «o melhor mesmo é ir a pé, até porque é só uma paragem». Na verdade os tempos não tão para estes comodismos, em que para se andar 50 metros, se apanha um eléctrico. As ruas também elas estão com menos luz e só as montras fazem-nos lembrar que estamos na época do Natal.

Mas se a crise afecta uns, outros nem dão por ela. As ruas da Baixa estão cheias de carros, em filas intermináveis que tiram a paciência a qualquer santo. Na zona do Chiado, os “piscas” dos automóveis indicam mudança de direcção à direita, mas os carros esses permanecem parados. Na Rua da Conceição, um conjunto de buzinas parecem querer fazer concorrência ao coro de Santo Amaro de Oeiras. Toco também eu na campainha porque tenho um horário que tento, sempre que possível, cumprir.

À esquerda passa um agente da Polícia Municipal, passa um minuto depois um carro da PSP, mas ambos parecem ter mais com que se preocupar... Afinal é só um pesado de mercadorias que não consegue subir a rua Nova do Almada porque alguém só pensou no seu umbigo. O eléctrico atrasa. O suficiente para no chiado alguém dizer que «há uma hora que estou aqui à espera!» É sempre uma hora! Porque para quem espera parece sempre uma eternidade.

«Na próxima paragem dá-me um jeitinho aqui na porta da frente?», pergunta uma senhora já na paragem da Estrela, e numa fracção de segundos, dou comigo a pensar na quantidade de jeitinhos que tenho de dar na porta da frente ao longo de um dia de trabalho.

A noite cai em Lisboa e com ela vem o final do serviço e de mais uma semana de trabalho. Chego ao Martim Moniz e no destino da bandeira procuro a inscrição “Sto. Amaro”. O eléctrico fica quase vazio. Quase porque restam três turistas que não percebem o porquê de todos terem saído. Explico-lhes que é o final da viagem. «Oooooooohhhh», dizem em conjunto e eu com uma vontade enorme de dizer “yeeeeeeeeehhhh”, mas só mesmo vontade, claro. Explico-lhes que para regressarem ao local inicial, têm de se dirigir à paragem no lado oposto da praça. Agradecem-me efusivamente e felicitam-me pela viagem que lhes proporcionei.. «Is Fantastic this tram! Nice driving!»

E não havia certamente melhor forma para terminar este dia, e claro está, esta semana. Agora vou ter a recompensa – as folgas. Estou de volta na quinta! Boas viagens.

4 comentários:

Pedro C disse...

2,85€ é, de facto, muito, demasiado mesmo. Com muita pena minha, porque sempre gostei de eléctricos, é rara a vez que agora ando num, exactamente pelo preço do bilhete.

Rafael Santos disse...

Pedro C,

Agradeço desde já o seu comentário, mas deixe-me que lhe diga que isso não é desculpa para andar menos de eléctrico. Ainda são válidos os bilhetes pré-comprados que ficam por 1.10 €.

Um abraço e boas viagens!

Anónimo disse...

Vivam os motoristas que fazem jeitinhos!...:-)
PS: no fundo, no fundo... eu acho que os srs. motoristas até acham graça.

Anónimo disse...

como não se pode achar graça!? ! "oh senhor motorista! pode abrir á frente?", - " oh sr. motorista pode abrir atrás !?" lol

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