Os nossos estimados passageiros continuam a brindar-nos com situações inéditas. Se a tarde foi calma na carreira 28 de eléctricos, o mesmo se passou à noite. Poucos turistas, poucas paragens o que permite ganhar mais tempo para cada viagem. Ainda assim lá tive uma viagem em que um grupo de 30 pessoas provenientes da Rússia, entrou na Estrela com destino ao Martim Moniz, enchendo o eléctrico que só conseguiu receber mais passageiros na Sé de Lisboa.
E é precisamente nestes dias mais calmos, que algumas situações nos chamam mais à atenção. Talvez aproveitando a pouca afluência ao muito concorrido 28E, um casal português chegou ainda a tempo da última partida do Martim Moniz com destino aos Prazeres. Compraram duas tarifas de bordo e tiveram direito a escolher o lugar que mais lhes agradou, com vista à obtenção de algumas fotos no decorrer da viagem.
Durante a viagem um senhor, levanta-se e questiona o funcionamento do Eléctrico e a distância média entre S.Bento e a Graça. Ao que parece queria experimentar fazer a caminhada entre Casa e a escola, ao invés de esperar pelo 28. Disse ser gestor de empresa no desemprego, estando actualmente a tirar o curso de restauro de madeiras. Das madeiras passou ao ferro dos eléctricos e quis saber quantas carreiras haviam ainda em circulação por Lisboa. Lá lhe disse que por enquanto eram cinco, até porque o Governo pretende excluir a 18E do mapa.
Mas politicas à parte, o tal casal que prosseguia atento ao que as janelas do eléctrico lhes mostrava e encantados pela forma como o eléctrico 561 galgava as colinas da cidade sem se recusar a qualquer esforço, lá chegaram aos Prazeres. «Fim de Viagem!»
-"Não se importa que tire uma fotografia na sua cadeira?", pergunta-me o rapaz, acrescentando que "há anos que tinha o sonho de um dia tirar uma foto na cadeira do condutor do eléctrico". Pediu então à namorada que lhe tirasse a foto. E como não há uma sem duas, a namorada depois de ter tirado a fotografia, também não quis desperdiçar a oportunidade. Trocaram de posições, mas no momento em que o rapaz ia tirar a foto à sorridente rapariga, eis que deixa cair a máquina ao chão. A rapariga permanecia intacta no lugar do guarda-freio, na esperança que a máquina não se tivesse estragado.
Mas num instante a viagem deixou de ser inesquecível pela viagem do Martim Moniz aos Prazeres, mas sim pela avaria na objectiva da máquina que recusava trabalhar, para tristeza da rapariga que já não levou para casa uma recordação sua desta passagem pelo eléctrico da carreira 28E.
E se no 28E foi uma foto que se perdeu e uma máquina fotográfica que se avariou, por outras bandas, nomeadamente na carreira 735 houve também quem tivesse perdido uma bota, como relata o colega Rogério Dias que gentilmente cedeu a imagem à esquerda. Não se sabe se ficou uma das botas por apertar, ou se alguém terá mudado de calçado durante a viagem, tendo esquecido de uma das botas. O que se sabe é que a pessoa em questão devia mesmo gostar do referido par de botas, porque terá contactado a Central de Comando de Tráfego da Carris, que prontamente enviou uma mensagem para todos os autocarros da carreira, em busca, não da bota Botilde, mas da bota castanha de senhora.
Resta saber se alguém terá encontrado a dita e terá entregue ao Motorista, ou se terá levado como recordação de uma viagem num dos autocarros da cidade de Lisboa, onde por certo, alguns tripulantes tiveram de ler duas vezes a mensagem para ver que era mesmo real.
[n.d.r.] O «Diário do Tripulante», agradece a colaboração do tripulante da CCFL, Rogério Dias.
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