Antes da Páscoa ainda virá o Natal, mas pela quantidade de passageiros que hoje procuraram o eléctrico 28, hoje bem que se podia dizer que estava pior que por altura da Páscoa. Ora carregado de gente para os Prazeres, ora para o Martim Moniz, o que todos queriam era mesmo andar no 28 nem que para isso fosse preciso esperar que chegasse um eléctrico que pudesse parar para fazer entrar passageiros, missão difícil, sobretudo entre a Estrela e o Castelo.
Parecia mesmo que a tempestade que varreu o país recentemente, fez descarregar todos os turistas em redor da baixa lisboeta. As filas nas paragens chegavam mesmo a atravessar a rua, como aconteceu no Martim Moniz e na Praça Luís de Camões. Já o interior do eléctrico, o ruído provocado pelas inúmeras troca de opiniões, conversas e reclamações quanto ao tempo de espera, mais parecia ser um galinheiro repleto de galinhas onde todos tentavam fazer-se ouvir.
"-Feira da Ladra!! Free Market!", grito na esperança que o eléctrico se esvazie. Tal não acontece, mas ajuda a ganhar espaço para levar mais turistas em busca da alucinante viagem que tanto leram nos guias turísticos. Aos poucos ia prosseguindo a viagem porque a cada paragem efectuada eram mais de 5 minutos parado porque por muito que vejam que o eléctrico excedeu a capacidade, tentam sempre forçar mais um bocado.
O dia parecia não ter fim, e assim seria se não tivesse rebentado uma conduta de água na Estrela. Ia com destino ao Largo do Camões quando de repente vejo pedras por todo o lado e água em quantidades que só tinha mesmo visto na televisão, a quando das diversas cheias. A linha deixou de estar visível devido à terra, água e pedras.

Aos olhos de todos, ou quase todos, a Calçada da Estrela virou cascata e nem assim fez com que surgissem os chamados "engenheiros das obras feitas". Passageiro habitual das carreiras 25 e 28, lá surgiu perante o cenário que era visível, para chatear claro está, o Rafael Santos. Gostava ainda de saber se tenho algo inscrito na testa para que estes artistas venham sempre ter comigo. Dizia-me então: «Isto é incrível. Há anos que ando de eléctrico, já choveu muito mais água que esta que aqui está e os eléctricos nunca pararam por causa da água!»
Primeiro deixei-o falar, desabafar, o quer que seja. Mas caí uma vez mais na asneira de querer ser simpático e explicar-lhe o porquê dos eléctricos estarem parados. Disse-lhe então que "além da linha estar cheia de terra e de em alguns casos não ser sequer visível, correndo-se o risco de descarrilar graças às pedras que saltaram com o rebentamento da conduta, ainda se podia dar o caso dos eléctricos ficarem isolados por não fechar o circuito", no que diz respeito ao contacto das rodas com o carril.
Mas a resposta do senhor não poderia ser melhor. Diria mesmo que foi a melhor para o poder classificar como «engenheiro das obras feitas». Responde-me ele então que: "Isso não faz sentido nenhuma amigo, porque a electricidade vem de cima. Está a querer dar-me música?... Nunca vi em tantos anos uma coisa assim. É incrível..."
Nada mais poderia acrescentar, pelo que decidi terminar ali a minha tentativa de ser simpático com alguém que não foi certamente nem minimamente simpático, logo pelo simples facto de não ter dito 'boa noite' e por estar a presenciar toda aquela situação em que só se conseguia atravessar a rua de galochas, provando-me uma vez mais que a única missão dele era desconversar e chatear o guarda-freio. E logo tinha de me sair na rifa a mim.
Condescendentes e compreensivos foram os turistas que mesmo tendo comprado bilhete na paragem imediatamente antes da interrupção, compreenderam tudo o que se estava a passar.
E assim foi um sábado em tudo diferente e em tudo igual na carreira 28E.
4 comentários:
Pois, a electricidade é como o exemplo, vem de cima! eheheh :)
fazias sorriso amarelo (carris) e dizias que tinha toda a razao,costuma dar resultado
marques
Só uma correcção, não é Free Market, mas sim Flee Market!
Abraço
Também não é Flee Market. A forma correcta é Flea Market!!
Abraço
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