quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A bordo da 28E com saudades das plantas no outro lado do Atlântico

Imagine uma linha de eléctrico numa das ruas de Lisboa, no caso mais concreto, imagine o largo da Praça São João Bosco, nos Prazeres. Ora tratando-se de um terminal de duas carreiras de eléctricos, difícil é não se ver por lá eléctricos, mas que há quem não os veja... isso há. Quando cheguei ao terminal, ainda do outro lado da praça, já lá estavam estes dois eléctricos parados e o meu primeiro pensamento foi que tinha havido um acidente, mas na verdade, tratava-se apenas de um estacionamento. Exactamente.... um estacionamento.

Esta é por excelência uma das zonas por onde passo e verifico que há um abuso da via pública por parte de automobilistas que pensam apenas e exclusivamente em si e nos seus filhos. Mas um estacionamento como este que a foto prova, confesso que só pensava ser possível numa série qualquer de apanhados para uma estação de televisão. Resolvida a interrupção com a chegada do automobilista após a presença da PSP, lá iniciámos viagem para o Martim Moniz, transportando como é habitual muitos turistas que todos os dias, nos causam situações no mínimo hilariantes.

«Não tá vendo qui somos turistas, pô?...»

Mas se a tarde foi tranquila e mais calma que o habitual já o final de tarde prometia uma cena hilariante com a partida do Martim Moniz para a minha penúltima viagem do dia com destino aos Prazeres. Acabo de largar os passageiros junto ao hotel mundial, quando um senhor brasileiro me pergunta «como faço pr'á pegar o bondinho que faz o tour pelos bairros antigos?» 

Expliquei-lhe que era na paragem mais à frente e que seria aquele mesmo eléctrico (28E), dentro de 5 minutos. Surge então a esposa, correndo em direcção da porta da frente, alçando a perna para entrar. "-Desculpe, mas a entrada é naquela paragem da frente onde inicia a carreira...!", disse-lhe indicando o ponto de partida. Arranquei de seguida em direcção à paragem e de imediato a senhora grita... «espera por nóis moço!»

Já na paragem de embarque - expressão então utilizada pelo povo irmão - entram os primeiros turistas, uma senhora portuguesa e o tal casal de brasileiros, com os seus 65/70 anos aproximadamente. O marido pergunta «quanto custa a passagem?», enquanto que a senhora corre em direcção de um lugar na janela como se que o mundo acabasse no próximo minuto, até porque acabou por puxar o marido para o lugar da frente. Já comodamente instalados, e com 5.70€ na mão para pagar os dois bilhetes, o senhor levanta-se e aguardava a impressão do bilhete, enquanto uma outra senhora entrava e ocupava o seu lugar.

A cena começa então ao mais alto nível, com a turista brasileira exaltada com a ocupação do lugar que até então "era" do seu esposo. Com um estilo idêntico ao da personagem Valéria e com uma voz idêntica à personagem Janette do programa brasileiro "Zorra Total", ela diz: «Esse lugar é do meu marido pô!! Chegou e sentou, sua jacará!», tendo a outra passageira reagido mal e não tendo cedido o lugar, mesmo após a insistência da turista que dizia «não tá vendo qui somos turistas, pô? Mal educada!»

A gritaria instalou-se por instantes e acalmou com o arranque do eléctrico para a «viagem fantástica desse bondinho», que a cada esquina, a cada subida ou descida tinha a dita turista a comentar «nossa que lindo, olha só...». Encantada e até eufórica, a turista de São Paulo, Brasil tirava fotos a tudo o que via e dizia que o «bondinho» devia anunciar por onde passava. Mas perante a zona de São Bento uma varanda com uma planta fez-lhe recordar as plantas que havia deixado no Brasil, provocando um momento de saudade das suas plantas, não deixando de comentar com o marido... «Será que a Valquíria foi regar as plantinhas?»
Chegámos então ao terminal e a vontade do casal era de voltar, de novo a andar no 28E e assim foi. Voltaram até à Rua da Conceição onde se despediram dizendo «tchau moço. Valeu!»

São situações como estas e turistas como estes que me fazem cada vez mais, gostar daquilo que faço diariamente. Quando assim é, até o serviço corre melhor...

4 comentários:

BRUXA disse...

...bem, pelo preco dos bilhetes, os turistas deveriam realmente ter sempre um lugar sentados, á janela e uma bebida oferecida pela Carris!

CR 35 disse...

Vale! valia a pena deixar um livro de bordo para estes passageiros expressarem a sua opinião ,indignação ,por existirem meia dúzia de eléctricos e fotos daqueles que já percorreram as mesmas linhas espalhados por esse Portugal ,alguns ao abandono outros estimados para alertarem a quem de direito que o senhor que os mandou abater tivesse hoje remorsos "se ainda for vivo".

Sandro Castro disse...

Boas, sou da sua opinião "BRUXA" deveriam ter sempre um lugar sentado pelo preço pago pelo bilhete, no entanto em relação à bebida só se fosse agua, por que não é permitido outro tipo de bebida abordo... No entanto é sempre bom de frisar que; "quem vai ao ar perde o lugar", obrigado.

BRUXA disse...

@Sandro Castro,

Desculpe mas, tenho de o corrigir, diz-se: " Quem vai ao mar perde o lugar" e nao ao "ar"

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