Escreveu Fernando Pessoa a certa altura no seu «Livro do Desassossego» que "(...)Amo, pelas tardes demoradas de verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos - tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto(...)".
Tal como Fernando Pessoa, também nós tripulantes amamos trabalhar nos meses em que a maioria goza férias, uma maioria que dá um vazio à cidade, permitindo que se ande com um à-vontade pelas ruas de Lisboa, transportando os que se passeiam, os que trabalham, ou simplesmente os que nada mais têm para fazer se não, distrair-se durante as horas mortiças que a vida lhes reservou.
Todos os dias iguais, mas todos os dias diferentes. Mas hoje foi realmente um dia diferente. Diria mesmo, que foi um dia atípico, no meu regresso à 25E. Talvez um dia normalíssimo, ou não estivesse eu há muito tempo sem andar pelos carris que ligam a Rua da Alfândega aos Prazeres. Acostumado já à confusão do «chega para lá só mais um bocadinho», da 28E, o serviço de hoje foi na carreira da Lapa que continua igual a si mesma. Gente de bem, que só conta com o seu umbigo. Quem vier atrás que espere, porque o importante é comprar o jornal, dar um dedo de conversa com o senhor do café, ou comprar um bife para o jantar. E se o carro estiver a estorvar.... não faz mal o eléctrico espera!, pensam estes senhores e senhoras que se julgam superiores a tudo e todos.
Mais uma carrinha e mais uns minutos de espera, foi assim hoje... é assim sempre na 25E. Na Estrela, 5 eléctricos esperam turistas num aluguer, entre os muitos que voltaram a surgir tal como o calor que voltou a dar um ar de sua graça. A falta de eléctricos para satisfazer a todos da melhor maneira possível, levou-me ainda a fazer uma viagem na 28E, onde registei a foto que acompanha este texto.
A confusão do trânsito aqui não marca presença até porque a polícia municipal estava por perto e atravessar o Martim Moniz foi coisa rápida, já depois de ter apanhado os passageiros que aguardavam um 28 para os levar à Graça, ao Castelo, à Sé ou para uma volta pela cidade. Mas se a confusão não está na estrada, ela está no passeio, à semelhança da que se vivia no interior do eléctrico e olhar para aquele monte de caixas foi como se estivesse a olhar pelo espelho retrovisor interior, como se, de uma hipérbole perfeita se tratasse para comparar o amontoado de caixas ao amontoado de pessoas que pareciam não ter mais eléctricos durante o dia.
E assim foi o regresso à 25E com um desvio pela 28E...
2 comentários:
Pois foi !havia uma operação Stop ,e as caixas foi um camião que descarregou para uma loja de chineses com um mitra a espalhar e a Ming a conferir!
Is that the castle? Amazing...Saint George build a castle of boxes. Can we stop to take a picture?
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