sexta-feira, 27 de maio de 2011

«ohh lá lá... le Sable!»... dans le Service Occasionnel

Hoje dedico a página deste post aos serviços ocasionais, mais conhecidos como "alugueres", e que tanta revolta deixam nos passageiros que anseiam a chegada do eléctrico nas paragens por onde vai passando o eléctrico com a inscrição na bandeira "Aluguer", ou "Reservado - Serviço Ocasional". Com partida habitual da Estrela, estes serviços alugados por particulares ou agências turísticas, acabam por dar a conhecer a quem vem de fora e com a comodidade de um lugar sentado, a beleza arquitectónica de Lisboa, aliando monumentos, igrejas, ruas e ruelas, cheiros e uma luminosidade que só Lisboa tem.

Seleccionado como uma das mil experiências de viagem mais importantes do mundo, já não se estranha, que o percurso mais desejado seja o do famoso eléctrico 28 que ao longo do seu trajecto vai espreitando zonas nobres e bairros históricos, e por vezes ao som do fado vadio que sai da «Tasca do Jaime» ali na Rua da graça, ou do cheiro a Sardinha assada do «carvoeiro», na Calçada de São Vicente.

Por vezes acompanhados do tradicional Pastel de Belém e vinho do Porto, servido por simpáticas senhoras envergando o tradicional traje minhoto, o serviço decorre habitualmente com a presença do guia que ao longo do trajecto vai referindo os principais pontos de interesse como a casa do Primeiro Ministro que está ligada ao Parlamento através de um jardim - the Prime Minister's house that is linked to the Parliament through a garden - ou o Ascensor da Bica que ajuda a vencer a inclinada subida da colina - Bica Funicolare per aiutarvi a superare la ripida salita della collina - não esquecendo claro está, a estátua de Camões, um grande poeta e autor de obras como Os Lusíadas - la statue de Camões, le grand poète et auteur d'œuvre littéraire tel que Os Lusiadas - entre outras coisas mais.

Os  «Alugueres» dão-nos também a vantagem de aprendermos um pouco mais de estrangeirismos, digamos assim. Através dos guias - uns mais simpáticos que outros, como aliás acontece com todas as profissões - conseguimos captar novos termos para determinadas coisas que não só dizem respeito à cidade em si como ao próprio eléctrico, no caso dos guias que fazem questão de explicar como funciona o eléctrico - strassenbahn, tramway, tram, tranvia, etc... - desde o freio manual à manivela passando pela famosa Sable.  

Hoje o dia, foi dedicado ao francês, com um aluguer da parte da manhã da Estrela para o Martim Moniz e outro da parte da tarde, da Estrela para a Praça do Comércio, ambos via carreira 28E e ambos com turistas franceses. Uns em passeio, outros em deslocação empresarial, todos ouviram falar na Sable que é, nada mais nada menos, que a areia que ajuda a obter a aderência necessária entre os rodados e o carril, permitindo melhor travagem e melhor arranque, no caso de subidas mais íngremes. 

«Alors bienvenue au tramway de Lisbonne Votre conducteur - en portugais s'appele Guarda-Freio - s'appele Raphael, et nous guidera tout au long de l' emblématique 28...», estava dada as boas-vindas a bordo com autorização de seguida para a partida rumo à Praça do Comércio. Abrindo a caixa da areia sobre o primeiro banco do lado esquerdo do eléctrico e pegando em grãos de areia o guia que seguia a bordo do meu eléctrico explicava que a areia servia para ajudar na aderência do eléctrico aos carris, causando o espanto e admiração por todos os passageiros que em coro entoaram um caloroso «Ohh lá lá... le Sable!»

Da Sable à chave de agulhas foi só descer um degrau e explicar-lhes que servia para comandar as agulhas de direcção para seleccionar a via consoante o percurso. Com tanta pormenorização sobre o eléctrico, num instante chegámos ao topo da Calçada de São Francisco de onde se obtém uma vista fantástica sobre «le château São Jorge, que nous visiterons demain...», dizia o guia. 

Dali ao Castelo e desta feita, sem terem direito a pastel e vinho, foi rápido e num instante cruzávamos as ruas estreitas de Alfama onde se pode até cumprimentar directamente do eléctrico, quem esteja à janela. O fumo no virar da esquina anuncia o cheiro a sardinha assada e é-lhes explicado que o Santo das Festas de Lisboa é Santo António, e que na noite de 12 para 13 de Junho as ruas enchem-se de gente para os tradicionais arraiais populares. Passamos entretanto a fachada do mosteiro de São Vicente de Fora - o padroeiro da cidade -  e subindo a Voz do Operário, atingimos a outra colina da cidade, a Graça.

O trânsito de uma sexta-feira, fazia-se também sentir na Rua da Graça e em slow motion lá íamos cruzando as lojas do comércio tradicional que ainda vão resistindo neste bairro de Lisboa, com o guia de serviço a desafiar-me para cantar o fado, dizendo em voz alta que «notre conductor me dit qu'il va chanter un peu du fado, desafio este não superado como é óbvio, apesar do «Brravoooo» que se ouvia de alguém curioso por ouvir fado, mas não certamente com a minha voz. 

A animação estava portanto garantida com um grupo bem animado à semelhança do que apanhei no dia anterior e em contraste absoluto com outros que por vezes nos surgem. Sem efectuar-se paragens ou ouvir-se queixas sobre o preço do bilhete, um serviço ocasional acaba sempre por ser menos cansativo, que um serviço em carreira regular, mas há também guias que para gerirem o seu tempo, querem que façamos milagres como o de demorar 15 minutos da Rua da Conceição à Estrela, dando a volta na Graça... milagres estes que creio, nem em Fátima serem possíveis de se realizar.

Contudo, este é sem dúvida dos serviços que mais gosto de fazer, pelo contacto com novas línguas, culturas e claro está com uma recordação que ficará para sempre na memória de quem nos visita.  
 

1 comentário:

CR 35 disse...

Bem ainda estou à espera que passes o video "Rafael Guarda-Freio ,cantou num Aluguer uns fadinhos para gáudio de uns turistas franceses ,...Madames e Monsieurs silence !Rafael vá chanter Le Fado que s'apelle...Desculpem o meu francês que já está muito desactualizado.Boas actuações a bordo do eléctrico que precisa de areia nos carris .

Translate