O frio que se tem sentido pela manhã a contrastar com o calor que se instala durante a tarde, faz-nos crer que a Primavera que virá será quente até porque o provérbio deste mês, isso mesmo o diz... «Em Fevereiro neve e frio é de esperar calor no estio». Talvez por isso mesmo, as manhãs têm sido mais tranquilas que o habitual nos transportes, porque o frio que se abate na cidade nem deixa as pessoas reagirem, como tanto gostam, a um atraso por mais pequeno que ele seja.
Mas se o Sol dá um ar de sua graça, lá se esquece por instantes o frio e voltam os rostos alegres e as roupas coloridas, mas com isto vem também aquelas reclamações habituais, seja pelo transporte chegar atrasado, ou pelo bilhete ser caro. Hoje por exemplo, foi a vez de uma idosa ser apanhada de surpresa pelos 2.50€ da tarifa de bordo que quando confrontada com o valor, suspirou e disse «bolas é assim tão caro? Aumentou muito...», ao mesmo tempo que me dava 5 euros para a mão, dado que os trocos que trazia, não eram suficientes para perfazer o preço do bilhete. O bilhete é impresso e entrego-lhe, ficando a faltar o troco, que estava também já estava a fazer.
Contudo quando vou para entregar o troco, a senhora já estava sentada, talvez com receio de ter de viajar de pé depois de pagar aquela quantia. Mas é então a altura em que fico na dúvida, se de facto lhe custou a dar os 2.50 € ou se quis lamentar-se apenas por lamentar-se... «Então a senhora vai-se sentar e nem espera que lhe dê o troco? Olhe que assim ainda faz a vida mais cara porque deu-me 5 euros», disse-lhe. Percebi então que a senhora tinha mesmo ficado fora de si porque como me disse depois... «Sabe é que não ando há tanto tempo de carro eléctrico [expressão muito utilizada pelos idosos], até fiquei parva com o valor do bilhete. Não faça caso e desculpe-me sim?» . Não tem de quê minha senhora.
A senhora lá seguiu viagem tranquilamente sentada de olhos postos nas colinas, umas mais bem cuidadas que outras, mas todas elas encantadoras para duas espanholas que me entraram na Rua da Conceição com destino à Graça.
«Señor, tenemos que estar aquí de nuevo las 13.30 horas. Crees que tenemos tiempo de ir a la Gracia y volver?», começam por me perguntar mal entram no eléctrico. Fiz as contas por alto e até dava tempo. Digo-lhes que sim era possível, mas se tudo corresse bem, como é óbvio. «Y por dónde vá el tranvía?» E cá temos uma pergunta que trás pano para mangas porque vai por muitos sítios, mas resumindo... «Agora subimos à Sé, depois paramos perto do Castillo, vamos a Alfama, passamos São Vicente e terminamos na Graça...», e contrariando o que é hábito, entenderam-me à primeira mesmo falando em Português. «Muy bueno. Entonces nosotros vamos a la Gracia y volvemos». Pagaram 5 euros e foram todo o caminho a desfrutar dos magníficos monumentos que iam encontrando pela cidade e da fantástica luz que só existe em Lisboa, como dizem os grandes cineastas.
Ambas, na casa dos 40/50 anos estavam de facto maravilhadas com a vista que se tinha do Miradouro de Santa Luzia, ou com o "rasgar" do eléctrico pelas ruas estreitas de Alfama onde os estendais com roupa estendida dão um colorido único até chegarmos à imponente fachada da Igreja de São Vicente de Fora. Chegamos então à Graça e ai tiveram a reacção de todos os turistas que por lá costumam passar. «Ya terminado? Pero queremos volver...»
Explicar-lhes que têm de sair por ser o terminal é quase como que um parto arrancado a ferros, mas aos poucos lá se apercebem e saem. Dou a volta ao carro para ver se não ficou nada esquecido e chego à paragem para iniciar nova viagem. Faltam quatro minutos para partir e lá entram de novo as duas amigas espanholas. Contentes da vida por andarem de tranvia por Lisboa, até que o telemóvel de uma toca. Pelo retrovisor vejo que ninguém atende um toque que nem era sequer agradável de se ouvir.
Pára de tocar, mas um minuto depois volta a tocar. Era então uma chamada indesejada para uma delas que talvez inspirada na Luz da cidade, que inspira os grandes realizadores de cinema, decide despachar de imediato a chamada. «Perdóneme, pero usted y yo estamos gastando mucho dinero. Estoy en los Estados Unidos, y no puede hablar. Adiós.»
E por instantes vi como é tão fácil mentir-se ao telefone e senti-me um guarda-freio à americana, a viajar turistas pelas ruas de Nova Iorque ou São Francisco, mas depressa vi que de São Francisco só temos mesmo a calçada que liga a Rua da Conceição ao Largo das Belas Artes.
Continuação de boas viagens a bordo dos veículos da CCFL!
Foto: Peter Ward on Flickr
4 comentários:
Somos tão latinos!e hermanos !não podemos renegar as nossas origens salvo erro castelhanas,por isso não é de admirar que para enganar meio povo somos os melhores .Boas viagens!
Que maravilha! que vivacidade!! e essa esperteza salerosa!!
ótima história! até breve!
na vimeca um bilhete custa 2 euros e ninguem se queixa. parece que os funcionarios da carris sao uma especie de ''saco de areia''. culpados de tudo. os frustrados quando apanham os transportes gostam de descarregar em quem anda a trabalhar e tem contas para pagar. as vezes apeteceia me saber onde esses frustrados trabalham e dirigir-me ate la e trata los com o mesmo desrespeito para saberem o que custa.
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