terça-feira, 4 de janeiro de 2011

«Antes e Agora» (VI) : Carreira 12E... o "carro de São Tomé"

Onde hoje está o C.C.Mouraria, havia este lindo edifício do Apolo
Pegando uma vez mais nesta rubrica que criei há uns bons tempos atrás, o destaque deste VI capítulo não vai para um local  propriamente dito, mas para uma carreira e um bairro que já não conseguem viver separadamente. A carreira 12E foi inaugurada a 01 de Janeiro de 1915.

Inicialmente ligando o Rossio a São Tomé, esta carreira viu ao longo dos seus tempos o seu terminal ser alterado entre esta praça e a da Figueira(1926), com uma longa passagem pelo Martim Moniz(1947), onde actualmente já só passa, não fazendo terminal.

Conhecido desde há muito como a carreira de São Tomé - ainda me recordo de ouvir a minha avó dizer «vamos apanhar o carro de São Tomé para ir à Baixa...» - esta carreira passou também a servir mais tarde as Portas do Sol e a Sé de Lisboa, quando viu o seu trajecto ser convertido numa circulação, tendo regressado o seu terminal à Praça da Figueira, depois de um vaivém entre o Martim Moniz e São Tomé.

O actual terminal da carreira 12E, na Praça da Figueira
Passados 96 anos é já difícil imaginar a Mouraria sem o 12E, tal como se já não tivesse também a Capela da Nossa Senhora da Saúde, ali mesmo ao lado da Rua do Capelão onde viveu a Severa, num bairro de fadistas e que viu a sua degradação surgir nos anos 40 em nome de um progresso que nunca chegou a aparecer. O que apareceu de novo foi um centro comercial que substituiu o Teatro Apolo por onde passaram alguns dos melhores actores nacionais e de uma beleza que em nada se compara ao actual edifício e que desapareceu com a Igreja do Socorro e o Arco do Marquês do Alegrete.

Inicialmente um carro bastava para ligar o curto trajecto que tinha entre os dois destinos a tarefa de ajudar a subir a Calçada de Santo André e a marcha era invertida na Rua de São Tomé onde o guarda-freio tinha de mudar os manípulos para a plataforma de trás e girar o trolley para depois de ter subido, voltar a descer até ao Martim Moniz, onde os gestos se voltavam a repetir. Mas hoje já não há manobras. O eléctrico já não é bidireccional e já só tem um destino na bandeira - P.Figueira (Circulação / Castelo).

Actualmente o 12E inicia viagem na Praça da Figueira e depois de "abandonado o terminal, o eléctrico segue pelo Poço do Borratem até chegar à Praça do Martim Moniz. A partir daí começa a subir por ruas estreitas até alcançar São Tomé. Do Miradouro de Santa Luzia facilmente se consegue alcançar o Castelo de São Jorge e é a partir deste ponto que se começa a descer até alcançar a Rua da Prata, passando ainda junto da Sé de Lisboa. O percurso final desta carreira de circulação faz-se pela Rua da Prata em direcção à Praça da Figueira" onde se encontra de novo com o terminal que serve também a carreira 15E.
 
Do passado parece restar, «ali, a meio caminho entre a Graça, o Castelo e Alfama, o ambiente que iguala o de uma pequena comunidade onde todos se conhecem, se falam de uma janela para a outra, se encontram na mercearia, no café, na fila do eléctrico...»

Hoje não é um, mas sim dois os eléctricos que circulam nesta carreira, respondendo a um aumento da procura por parte de muitos turistas que preferem uma ligação rápida da Baixa ao Castelo e da população local que tem no assento do eléctrico da 12E a sua companhia da tarde em várias viagens, todas elas com a duração aproximada de 21 minutos em que tudo é igual por onde se passa e onde tudo é diferente a cada volta que se dá.

Fonte: Wikipédia, Livro «Aventuras sobre carris» de Cristina Ferreira Gomes e Livro «Lisboa, 125 anos sobre carris», de João de Azevedo
Fotos: Arquivo Municipal de Lisboa e Rafael Santos

2 comentários:

Anónimo disse...

Tudo acaba.... um dia...

Anónimo disse...

O meu avô também me "enganava"...vamos a S.Tomé, mas de electrico...

Rui Mateus

Translate