quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A palermice do lugar sentado

São por norma os últimos lugares sentados a serem ocupados, mas quando são necessários, já não estão vagos. Depois entre passageiros, gera-se uma troca de olhares, soltam-se comentários e por fim - em alguns casos - a inevitável discussão. De costas para a rua e de frente para frente os bancos vermelhos estão «reservados para passageiros inválidos, doentes ou idosos e senhoras grávidas ou crianças de colo», mas na ausência destes qualquer um se pode lá sentar.

O pior mesmo, é quando entra alguém no eléctrico já com o olhar fisgado naqueles primeiros quatro lugares, como que quem diz "qual destes é que se vai levantar para eu me sentar?!" Apelidados por muitos como o «banco dos palermas», sabe-se lá porquê, estes lugares são como a primeira fila do Cinema. E porquê? Porque há pessoas conscientes, outras nem tanto e há os que se julgam mais espertos que os outros. 

Ora esta tarde em plena hora de ponta, na carreira 25E, assisti a uma discussão como há muito não via sobre esta temática. Uma senhora entrou e solicitou o lugar a um dos passageiros que estava sentado nesses referidos bancos revestidos de napa vermelha. «Desculpem, mas alguém tem de me ceder o lugar porque já não tenho idade para ir de pé». A forma talvez não tenha sido a mais correcta de o fazer, e foi o suficiente para um dos senhores responder de imediato. «Que idade é que a senhora tem? É que não sabia que isto agora era por idades...» 

A troca de palavras ia aumentando enquanto os restantes passageiros iam entrando. Num instante já se falava em próteses no joelho e operações à coluna vertebral, tal e qual como se estivéssemos numa sala de espera de um qualquer posto médico do país. Passados alguns segundos lá chegaram a um consenso e pelo que me apercebi pelo espelho, um outro passageiro idoso limitou-se a trocar de lugar «para pôr ordem no galinheiro que já não vos posso ouvir com a conversa do lugar e da idade», dizia de forma convicta.  

Posso dizer-vos que a troca de palavras entre a senhora e os restantes chegou a palavras menos bonitas que dispenso aqui transcrever, mas que me provaram que por vezes quem anda de vestido e sapato de salto alto, mais parece andar de chinelo na mão e avental pela rua fora, tal o nível a que conseguem descer por causa de um lugar.

Talvez por estas e outras discussões, alguém diga que este é o lugar dos palermas, até porque por vezes a palermice na discussão do lugar é tanta que o guarda-freio ou motorista tem de intervir. E neste campo, confesso que me irrita bastante por exemplo andar numa carreira movimentada como a 28E, estar o carro quase lotado, entrar alguém com uma criança ao colo e todos os que estão sentados, limitarem-se a olhar para fora da janela, como se estivessem completamente distraídos. 
Ainda assim registo alguns comentários por vezes ouvidos nestas discussões e que são dignos de uma verdadeira palermice, se não vejamos... 

«Só me sentei porque venho cansada de trabalhar...», ai é? Então e os outros? [...]«Desculpe mas o que não faltam aí é lugares, peça a outro», mesmo à lei do salve-se quem puder. É caso para dizer, "lugares há muitos seu palerma"!


8 comentários:

Carla Nunes disse...

As lutas pelo banco dos palermas é recorrente, principalmente entre os mais velhos que se julgam sempre no direito de os ocupar.
A melhor cena a que assisti foi a bordo desse mesmo eléctrico. Foi de tal maneira hilariante que nunca esqueci...mas de ta maneira ordinária que infelizmente não poderei reproduzir aqui!

Um grande abraço e continuação de boas viagens!

Carla Nunes

Luís Santos disse...

também já ouvi algumas por ir sentado nesses lugares (nos autocarros principalmente). tantas k actualmente, apesar de me equilibrar mal quando vou em pé, prefiro nem sequer me sentar do k tar a ouvir bocas. parece k temos k trazer escrito k temos problemas físicos...
e por acaso sao os mais idosos k mais reclamam comigo por isso...

Anónimo disse...

esta semana nos autocarros tambem assisti a cenas " fixes ":
cena 1 : na carreira 36,ia eu atrás do articulado, na carreira 701, encostámos " ambos os dois " ( para ter piada ), á paragem e o 36 nunca mais andava já me estava a passar e apitei ( talvez o colega tivesse adormecido), só depois de apitar ele liga os quatro piscas e de repente olho um bocado mais para cima para o vidro de trás e vejo dois " blacks " á batatada, desvie-me e ultrapassei o colega que também não se foi lá meter, deve ter chamado a policia.

cena 2 : mais batatada, na tua carreira favorita, a 35 que agora está um luxo e sabado estou lá outra vez, uma jovem e um velhote, mas a conversa entre os dois já tinha começado antes de entrarem para o autocarro, sei que de repente olho para o espelho e estão os dois " engalfinhados ", e o velhote ainda levou 2 socos antes de eu lá chegar e separar estas duas pessoas civilizadas, já que mais ninguem o fazia, deviam estar a gostar do espectaculo triste, um já tinha idade para ter juizo e outra devia ter vergonha de bater num homem que tinha idade para ser avô dela, em relação aos outros que estavam a assistir nem vale a pena falar, ter que parar o autocarro em plena rua washington para resolver o problema!!
se tivessemos regras mais rigidas na empresa a viagem acabava ali para todos e que se "desenmerdassem", enfim...

Marques.

Filipe disse...

25...carreira da Lapa, é preciso dizer e sublinhar.
Depois dizem que os bairros foleiros são outros.

N1981S disse...

marques que tal ...travasses a fundo?!

Vasco Lopes disse...

Os lugares reservados geram sempre grande discussão entre alguns passageiros. Já assisti a situações em que foi necessária a intervenção policial para resolver essas situações.
Mas a maior discussão a que assisti num transporte público foi na carreira 34. Uma passageira entrou à frente da uma outra no terminal do Martim Moniz e ambas resolveram iniciar um diálogo interessantíssimo que só terminou quando o motorista decidiu parar na Rua Maria Andrade, avisando as "senhoras" que não arrancaria dali se continuassem com o espectáculo.
Ninguém pode sequer fazer uma pálida ideia do que ali foi dito. Para além de conseguirem esgotar a lista das piores asneiras existentes, uma delas ainda fez referência às partes íntimas do corpo da sua adversária, enquanto esta se deitava a adivinhar como era a vida sexual da outra, também com pormenores que me recuso a reproduzir aqui. Já a chegar à Graça, uma delas tentou agredir a outra, sem sucesso.
Para acabar o filme, sublinhe-se que ambas faziam já parte da chamada terceira idade.

CR 35 disse...

Eu proponho ,que os utentes peçam à Ministra da Saúde autorização para que sejam introduzidas no cartão Lisboa Viva as listas das operações,doenças e outras maleitas para que os utentes ao passarem o cartão no validador seja dado prioridade aos que tiverem a lista mais extensa a fim de se sentarem nos lugares reservados ,e também à CCFL que disponha mais bancos vermelhos que azuis, que a faixa etária utilizadora dos transportes se situa acima dos 65 anos de idade não justificando mais azuis que vermelhos.Quem quiser apoiar esta proposta utilize o Facebook para cativar mais apoiantes.NR só se aceitam proponentes reformados ,inválidos,grávidas,.....Boas viagens a bordo dos amarelos da CCFL decorados interiormente com cores azuis e vermelhas.

helder disse...

Para pessoas com crianças ao colo: lanço um berro bem sonoro para toda a gente ouvir..."a/o senhora/senhor com a criança ao colo è favor de se sentar se faz favor!!!", de modo intimidante e com cara de poucos amigos.
Se fizeres isso um dia destes, diz-me qual foi o resultado... :-))) um abraço do: helder reis semi da 22

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