domingo, 7 de novembro de 2010

O maior susto da minha vida!

Foi dos maiores sustos que apanhei em 27 anos de vida e tudo por causa da queda da folha! Nos três anos que andei ao volante dos autocarros da Carris apanhei alguns sustos nomeadamente, devido a alguns bairros por onde passavam certas carreiras que estavam afectas à minha estação.

Mas o que eu queria mesmo na Carris, era ser guarda-freio e quando me foi dada essa oportunidade, iniciei uma formação que encarei com garra e determinação, até porque estava apenas a um passo de atingir um dos objectivos. Os formadores prepararam-nos de imediato para os sustos que iríamos apanhar no decorrer da nossa profissão. Entre os quais, a irresponsabilidade dos outros utentes da via e nomeadamente as primeiras chuvas e a queda da folha.

Deram-nos a conhecer os pontos críticos da rede de eléctricos e até tivemos alguns dias de formação com chuva o que ajudou. Na verdade passaram já onze meses (parece que foi ontem) e só hoje apanhei um susto mesmo valente, e porquê? Precisamente: por causa da queda da folha.

E porque nem sempre são boas as histórias, creio que tenho também o direito de partilhar convosco alguns dos percalços pelos quais temos de passar. Decorria então a primeira parte do meu serviço, quando me dirigia para o Largo da Graça. A subida da Calçada de São Vicente, tornou-se um tormento e o que se costuma fazer em segundos levou mais de 10 minutos e muito graças à ajuda do Quitério, o colega que seguia no sentido oposto, e que mostrou uma vez mais o espírito de entreajuda que há entre os guarda-freios e que é digno de registo. (Obrigado pela ajuda Quitério!)

A folha caída das árvores circundantes era abundante e já tínhamos pela manhã alertado a Central de Comando de Tráfego, a fim de ser solicitada a limpeza da via. As vezes que já por lá tinha passado nas viagens anteriores, fizeram-me recuar no tempo e causaram-me saudades de ver pelas ruas os Limpa-vias, que eram uns senhores que andavam com umas pás sobre os carris a limpar os trilhos por onde andam as rodas dos eléctricos, e que tanta falta fazem.

Contudo a limpeza efectuada - ja a meio da manhã - meteu água ao barulho, como se diz na gíria e se já parecia manteiga pela quantidade de folhas caídas, então foi pior a emenda que o soneto e o resultado foi um eléctrico a escorregar pela calçada abaixo, para susto de uns e delírio de outros. Finalmente imobilizado e depois de algumas faíscas lançadas sobre os trilhos, as rodas lá se decidiram a parar de patinar e a galgar a areia que fomos colocando sobre a linha, mas com o cuidado de não isolar o carro.

E nestas situações que nos deixam bloqueados, mas que nos ajudam também a viver e a conviver com as situações, há também os "espertos" que dizem que tudo se resolve de forma simples, e lá surgiu um turista a querer reunir a malta toda, que assistia ao nosso trabalho na tentativa de fazer subir o eléctrico, para que ajudassem a empurrar o eléctrico, como se conseguissem empurrar cerca de 13 toneladas.
Resumindo, hoje apanhei um valente susto, e na 28E que como sabem é a minha carreira preferida. Foi um incidente que até era escusado caso as ruas da capital tivessem a adequada limpeza, nomeadamente nas zonas das árvores por esta altura, assim como se os carris estivessem sem folhas. 

E pegando no slogan do anuncio da operadora de tv por cabo... «Se o guarda-freio podia não apanhar sustos? Poder, podia mas não era a mesma coisa!» 

5 comentários:

trigger disse...

Oi Rafa, hoje fartei me de te ver passar aqui à porta!!

Pena o nosso SLB... ;,(

abraço, R. Trigueiro

CR 35 disse...

Rafael,é nessas alturas que a medicina de trabalho devia medir o ritmo cardíaco dos GF e MSP assim davam valor à profissão ,e se aqueles que deviam prestar serviço comunitário e recebem o RIS andassem a limpar as ruas das folhas e outros dejectos a cidade fazia jus ao nome que os estrangeiros dão "Cidade Branca" boas viagens.

Alexandra disse...

Bom dia,
Só há muito pouco tempo descobri este seu blog, porém o link já se encontra gravado nos meus "favoritos".
Primeira razão para o ter feito: gostei da escrita.
Segunda razão: o meu pai esteve 31 anos ao serviço da CCFL, tendo-se reformado há cerca de 6 anos e sempre ao serviço dos amarelinhos de Lisboa.
Sempre ouvi histórias, boas e menos boas, sobre a profissão que ele "escolheu" - guarda-freio!
Algumas coisas que escreve, agora em 2010, são comuns às que ouvi durante largos anos.
Permito-me desejar-lhe umas óptimas viagens!

Rafael Santos disse...

Olá Alexandra!

Agradeço o seu comentário e respectivas visitas que serão sempre bem-vindas.

Se o seu pai reformou-se há 6 anos talvez ainda o tivesse conhecido, uma vez que me transportava muito de eléctrico, muito antes de trabalhar na CCFL.

Cumprimentos

Alexandra disse...

Talvez, talvez!
Nos últimos anos em que trabalhou, ele esteve sempre na carreira 15(eléctricos articulados), aliás,ele foi para lá logo quando esses eléctricos começaram a circular em Lisboa.
Dedicou-se 31 anos à condução dos amarelinhos, mas aos 55 anos teve que os deixar para trás por questões de saúde. Ele diz que não tem saudades, mas eu sei que as tem.
Boas viagens Rafael

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