domingo, 29 de agosto de 2010

Um dia de trabalho na primeira pessoa...

"É Sábado, estou na Estrela e são 21h05, acabo de chegar da estação de Santo Amaro, depois de ter recolhido com um eléctrico na primeira parte do serviço. Tive uma hora para jantar e 25 minutos para me deslocar até à Estrela. Mas depois do dia quente, a noite parece ser bem fresca e ainda faltam 14 minutos para eu render. Sentado à porta do quiosque, vejo alguns casais a chegarem aos poucos. Dois a dois, cada um no seu carro. Devem ter combinado encontrarem-se ali ainda antes de escolherem o local onde iriam jantar. Um rapaz lembra-se que o jogo do Benfica está prestes a começar. Já nem eu me lembrava. Tenho já os braços gelados, mas já falta pouco para o eléctrico chegar...

Mas enquanto o eléctrico não chega, ligo o rádio para tirar as dúvidas sobre quem iria defender as redes «encarnadas» frente ao Vitória de Setúbal. Confirma-se, Roberto fica no banco, mas por pouco tempo. Ainda tive tempo de ouvir o primeiro golo do Benfica. O eléctrico surge finalmente da escuridão que cobre a Rua Domingos Sequeira. Desligo o rádio e dirijo-me para a paragem. As luzes do seu interior deixam um rasto pelas calhas enquanto os turistas tiram fotos à Basílica da Estrela. Lá vou eu para o Martim Moniz. Olho para a chapa do horário e vejo que afinal só tenho de fazer 3 viagens. Passa num instante!

Um senhor entra na Graça e diz-me que o «Roberto é o maior!». O Benfica venceu por 3-0 disse-me, deixando-me a pensar como um guarda-redes passa de besta a bestial... tão rápido quanto o tempo que demorei a chegar ás Escolas Gerais. O sinal está verde e os flashes começam a disparar quando o eléctrico roça os prédios de Alfama. Mais à frente, um táxi impede-me a passagem nas Portas do Sol.

Toco à campainha, mas ninguém aparece. Toco novamente e lá aparece o senhor do táxi saindo do café. São sempre os mesmos! Chateado por ouvir a campainha do eléctrico, aparece a reclamar. Diz que «já ouvi pá. Tas com pressa, passa por cima», e num instante, penso na reacção que o mesmo teria se eu tivesse aceite o seu convite. Bastava ligar a corrente e passar, mas... não era a mesma coisa.

No Chiado, muitos assistem aos truques dos mágicos que por estes dias têm trazido a magia ás ruas de Lisboa. Ouvem-se aplausos, mas no eléctrico a música é outra. Ouvem-se espanhóis, italianos, franceses, todos querem ir experimentar a noite do Bairro Alto, mas nenhum tem coragem de perguntar qual a paragem onde devem descer. Afinal havia um corajoso, mas quando perguntou pelo Bairro Alto, já o eléctrico subia a Calçada da Estrela.

A viagem termina e logo de seguida começa outra. É a minha última viagem do dia. E lá os trouxe de volta até ao Bairro Alto. Daqui ao Castelo o eléctrico para apenas duas vezes. E poucos são os turistas que andam pelas ruas até à Graça. Pelas janelas do casario vê-se gente atenta à novela da noite. E são as próprias janelas que vão dando um colorido diferente ao caminho até ao final da linha. Chego ao Martim Moniz, encho os pulmões e digo «Terminus.... Finish....»

Amanhã há mais!"

Boas Viagens!

1 comentário:

Anónimo disse...

Fantasticas as tuas descrições, Rafael. Podias recuperar uma coisa antiga e em vez de gritar "Terminus Finish" gritares "MARTIM MONIZ!!! FIM DA LINHA!!!!!!". Era mais Português! :)

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