sábado, 14 de agosto de 2010

O poliglota da 28E

Quando falamos de Paris, lembramos-nos da Torre Eiffel. Se a conversa Chegar a Praga, recordamos a passagem na Ponte Carlos, ou se der-mos um pulo a Barcelona queremos andar nas Ramblas. E ir a Roma e não ver o Papa é a mesma coisa que vir a Lisboa e não andar de eléctrico. Tudo isto são cartões de visita das diversas cidades, são memórias, lembranças, são locais e até pessoas que nos ficam na retina.

Ora agora que tenho andado todos os dias na 28E, chego também à conclusão que no Universo do modo eléctrico da Carris também há pessoas que associamos de imediato à carreira. São daquelas pessoas que têm lugar cativo todos os dias na carreira, e que até um supra
(tripulante que corre todos os serviços de escala), consegue memorizar.

Há a já aqui abordada "D.Odete" da 25E que nos trata a todos como amigo/a. Há a senhora da Ajuda que todos os dias pergunta o mesmo e sempre na mesma viagem... «Falta muito para sair, chefe?»


Depois há também a carreira 12E que é a sala de convívio de muitos idosos que lá passam os seus dias e depois temos a 28E que no meio de tanto turista lá se consegue igualmente destacar uns passageiros habituais desde o homem do casaco cor-de-rosa ao poliglota. Em todos os casos, existe um tanto ou quanto de cromo, no bom sentido da palavra como é óbvio. Pois não é objectivo deste blog, provocar ninguém, até porque também eu tenho a minha parte croma como todos nós temos.

Mas depois de terem passado mais de duas semanas de serviço na carreira 28E, creio que é altura para aqui vos falar daquele que considero o maior "cromo" da 28. E a minha escolha vai sem dúvida alguma para o poliglota.


Sempre com um livro na mão, o senhor na casa dos 70 anos, com óculos de massa pretos e com graduação elevada, não perde oportunidade para treinar as diversas línguas que fala. Não consegui ainda entender se o seu sonho era ser guia turístico, mas o que é certo é que, se ele entra pela porta do eléctrico, já sei que escuso de gritar «castelo, castle, chateau, castillo...», mas o que sei também, mal o vejo entrar pela porta do eléctrico é que vou ficar a saber, mesmo que não queira, qual a origem do turista que entusiasmadamente tira fotos com a namorada na janela do eléctrico, tal o à vontade com que se mete com os turistas.

«Speak english? Speak French?» Na maioria das vezes acerta à primeira e daí até saber de onde vieram, quantos dias cá estão e o que já viram, é um instante. Hoje por exemplo foi desde a Estrela até à R.Conceição a falar com uma jovem emigrante portuguesa que está a viver na Suíça, mas que tem origens em Évora e que está cá em Lisboa a passar férias. Pior foi mesmo quando a rapariga lhe disse que estava a preparar um trabalho sobre Fernando Pessoa.

O poliglota contou-lhe logo a história toda, desde o Martinho da Arcada à Brasileira, no Chiado e indignada a jovem perguntou-lhe: «mas como é que o senhor sabe isso tudo?» E lá lhe respondeu o senhor: «Fui estudando ao longo da vida e também sei falar japonês...», dizia ao mesmo tempo que se punha a falar com as turistas Japonesas que tinham acabado de entrar no Camões.

Até ao Martim Moniz, ainda falou italiano, espanhol e alemão que segundo ele é o que mais gosta de falar... Será esta a distracção do senhor? Ou será que gosta mesmo de conviver com outros povos e dar-lhes a conhecer o que a nossa cidade tem de bonito, como faz questão de dizer.... O certo é que sempre que ele entra, as viagens são mais animadas, tendo em conta a alegria que se estampa nos rostos dos turistas que ficam encantados por ver o idoso a falar com o seu à vontade característico, que o torna no meu ver, no maior cromo da carreira 28E.

Imagem retirada do blog: http://cronicadumbloguotico.blogspot.com/

9 comentários:

Anónimo disse...

cultura não lhe falta por isso também é muito bem vindo a bordo dos veículos da carris.
marques

Angelo disse...

Mas ao menos é um belíssimo cromo!

André Bravo Ferreira disse...

É poliglota enquanto outros assassinam a sua própria língua!

JB disse...

deve ser a carreira nº 28 a mais divertida de conduzir não?

Rafael Santos disse...

Para mim é sem dúvida a melhor carreira....

Filipe disse...

Acho que estou a ver quem é o senhor. Encontro-o frequentemente por Algés e Belém. Deve viver por lá e dirige-se para a Baixa para ajudar os turistas.

Rafael Santos disse...

Sim filipe, segundo fontes próximas da carreira 15E (lol) mora para Algés

m.f. disse...

Que delícia de texto!
Parabéns.

Pratos de Ouro disse...

Se possivel divulga estenovo blog. Aventuras de um Vendedor gourmet.

http://ohpirussas.blogspot.com/

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