sábado, 17 de julho de 2010

Os gestos que valem palavras e passes desconhecidos...


Ao longo destes, quase quatro anos, a transportar pessoas, tenho vindo a aperceber-me que há gestos que valem mais do que mil palavras. Primeiro nos autocarros e agora nos eléctricos, a verdade é que os gestos fazem parte de uma linguagem universal.

Mas em muitos dos casos, ninguém acaba por dar importância a aos gestos e muitos chegam mesmo a perder o transporte por não levantarem o braço, por exemplo.

Mas outros gestos há que nos fazem adivinhar o que se irá suceder. Basta passar uma paragem e ver alguém de repente levantar-se dentro do eléctrico e olhar para trás como quem diz que «era ali que eu queria descer...»

Outros há que embora se esqueçam de ter tocado a campainha, não têm humildade suficiente para reconhecer o esquecimento e quando assim é, a culpa é, claro está, do motorista ou do guarda-freio porque como costumam dizer... «eu toquei, tu é que vais a dormir...»

Mas antes destes que já lá vão dentro do autocarro ou do eléctrico há os que entram timidamente, ou com medo que alguém lhes corte a língua. Estendem a mão com o polegar e o indicador a pressionar duas moedas para pagar um bilhete que teimam em não solicitar.

A saudação não é dada mas já vamos estando habituados, e pedir o bilhete fica também esquecido na paragem. Ora esquecida na paragem enquanto se aguarda a chegada do transporte, é também a procura do passe, nomeadamente pelos mais idosos, precisamente aqueles que têm uma dificuldade de locomoção mais acentuada.

O resultado é um conjunto de gestos de desespero de uma fila que já se forma na entrada do eléctrico enquanto a “D.Maria” procura o passe no meio de tanta coisa que trás na mala. Afinal esteve tanto tempo há espera do eléctrico como faz questão de dizer mal entra, e não teve tempo para preparar o passe. E esta hein?

Os bancos estão todos ocupados e a D.Maria espera que alguém lhe ceda lugar. É então o momento em que se trocam inúmeros olhares entre todos os que estão já sentados. É quase um empurrar da responsabilidade para o vizinho do lado, como quem diz «levanta-te mas é tu que eu estou muito cansado para ir de pé...».

Durante esta semana e também já sentada, ia também uma senhora com a sua filha na carreira 25E em direcção aos Prazeres. De forma descontraída iam trocando palavras enquanto observavam atentamente o percurso talvez em busca de uma paragem pela qual não iria passar.

A chegada ao terminal dos Prazeres ditaria isso mesmo, quando já depois de todos terem abandonado o eléctrico, estas mesmas, terem permanecido sentadas. «Fim de viagem. Esta viagem termina nesta paragem», informo.

Surge então o gesto de indignação acompanhado do discurso que teima sempre com quem sabe do que está a falar...
«Então mas não passou na Avenida da Liberdade!», diz a senhora.
«Pois não. Há alguns anos, e muitos até, que não há eléctricos a passar na Avenida da Liberdade, mas se pretende ir para lá, pode apanhar o 709 ali em frente naquela paragem...», disse-lhe eu, na esperança que a senhora aceitasse a sugestão.
«Desculpe lá, mas se não subia a Avenida, pelo menos cruzava que eu vejo-os lá», teimava com toda a convicção.
Mas tentei ainda assim esclarecer o equívoco da senhora dizendo que «o mais próximo da Avenida e do modo eléctrico tem apenas os Ascensores da Glória e do Lavra e nenhum deles atravessa a Avenida.»

O agradecimento foi simplesmente o virar das costas e pegar na filha em direcção á paragem do 709, mas não sem antes voltar a olhar o destino da bandeira do eléctrico, não fosse eu ter ido para os Prazeres, só por simples prazer meu.
Mas se pensa que os gestos que ditam tudo, se ficam por aqui, engana-se. Na verdade há sempre o aproximar da porta da frente que trás consigo o pedido para sair por aquela porta. E por esta mesma porta se alguém entra num passo mais acelerado é sinal que não tem título de transporte.

Graças aos gestos que muitos destes infractores praticam, podemos também chegar a algumas conclusões. Afinal não é só o «Pague 10, Passe 12» que a Carris pensou para si que usa o transporte público.

Em conversa com uma colega há uns meses atrás, ela perguntava-me se eu já conhecia os 8 passes novos utilizados nos autocarros e eléctricos da Carris e num aprofundar da questão, lá me foi explicando quais eram...

Tínhamos então:
Passe Raspadinha - Esfregam o passe desesperadamente na maquina na esperança talvez de ganhar um prémio.
Passe familiar - Entra um grupo e só um valida o passe.
Passe saudação - Entra, cumprimenta o guarda freio e vai-se sentar.
Passe analfabeto - Encosta o passe sendo que a maquina informa repetidamente que o titulo é inválido e mesmo assim diz ao guarda - freio que as maquinas estão avariadas e vai se sentar.
Passe surdo - Encosta a carteira vazia à maquina e vai se sentar.
Livre transito - Compra tarifa de bordo e acha que pode usar 24 horas.
Passe deixa te de modernices - Traz meia dúzia de cartões juntos, a maquina informa titulo desconhecido e leva um murro.
Passe espanhol - Carrega em todos os botões da maquina antes de validar o passe porque os outros não percebem nada daquilo.

E com esta me despeço, agradecendo à colega em questão a referida colaboração para este post e na esperança que na próxima viagem que tiver na nossa companhia esteja mais atento aos gestos que valem muito mais que as mil palavras...

Boas Viagens!

7 comentários:

Anónimo disse...

para esse " gesto ", de não pedir um bilhete se faz favor,já arranjei remédio, já nem preciso do se faz favor, mas enquanto não o pedir bem que fica a fazer de estátua junto a mim.
e depois se reclamar que não podia vender outra coisa ainda lhe mostro uns rebuçados não fosse ser isso que quisesse comprar.
marques.

Angelo disse...

Eu não sei se conseguiria andar para trás e para a frente e não educar essa gente toda!
Haja paciência!

CR 35 disse...

Os Magalhães que o Sócrates distribuiu e as Novas Oportunidades pelos vistos não deram bons resultados o povo continua a viver na ignorância prefere ver a Júlia Pinheiro ,o Goucha a Fátima Lopes,dizer mal do governo do País, da Selecção,dos transportes, da crise mas com argumentos do tempo da outra senhora e quando vêem estrangeiros com formação ocupar lugares de portugueses incompetentes criticam o governo de deixar entrar os poucos mas bons e viram-se para o Santo António ou a nossa Senhora de Fátima a pedir milagres em vez de fazerem andar este pequeno País à beira mar plantado.Boas viagens a bordo dos veículos da CCFL

Anónimo disse...

e vão continuar a vir estrangeiros mais formados ocupar o lugar que podia ser de portugueses porque a formação que se tem hoje neste país minha nossa senhora, há quem tire uma licenciatura sem saber ler e escrever basta verem o " falar em bom português", acho que é assim que se chama, na rtp1.
em vez de haver preocupações em que haja educação sexual nas escolas, ( coisa que hoje em dia ninguém ensina nada a ninguém ), se houvesse uma disciplina de civismo e cidadania ficaríamos todos a ganhar e já não se verificava o belo exemplo que essa senhora do topo de gama está a dar.

Pedro Pinto disse...

Excelente a compilação dos passes :D! Está extremamente irónica, parabéns!

Anónimo disse...

Quem tem esta opinião, fazendo de todos os utilitários do passe da carris, certamente que não entra no autocarro e passa o passe, certo? Apesar da ordem ser para o fazê-lo, mas acham-se finos demais para tal, não se querendo comparar á ralé que anda de autocarro.

Sempre, mas mesmo sempre, o meu passe nunca passa à primeira. Que fazer? Entrar e sentar?
Não sei o que vocês pensam - que somos todos idiotas ou que não pagamos o passe - mas eu cá sei da minha vida e sei que o meu passe esstá sempre válido, mesmo que dê sempre vermelho.

Um pouco mais de respeito, não vos fazia mal.

Anónimo disse...

se so seu passe dá sempre vermelho é porque não é por causa dos validadores certo? portanto já teve mais que tempo para ir ao sitio correcto tratar dessa situação, se por acaso aparecer a fiscalização e o passe continuar a dar inválido vai ver que os fiscais não se vão importar que saiba da sua vida e passam-lhe uma multinha, pelo menos já vai ter motivo para ir tratar do passe se não quiser pagar a multa.

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