sábado, 21 de novembro de 2009

Dia escuro na 36 com direito a passeio e muito mais...

Quando entrei para a Carris e nos primeiros meses de trabalho, sempre que me calhava na escala um serviço em carreiras como a 36 e 745 por exemplo, ficava sempre muito satisfeito, porque ao serem carreiras suburbanas, automaticamente são mais longas - o que ajuda a passar o tempo. Contudo o passar do tempo e a regularidade com que as tenho feito, têm vindo a esclarecer-me que estava profundamente enganado e mesmo correndo um grande risco (porque se o escalador sabe que não gosto destas duas carreiras, coloca-me sempre lá), a verdade é que cada vez gosto menos de andar pelos subúrbios.

Contudo, um motorista «supra», que é o meu caso, não tem direito a escolha a não ser que faça troca com um colega o que por vezes já é complicado também. Hoje lá me calhou novamente uma quantidade de viagens para Odivelas. Confesso que não é o facto de vender mais bilhetes que me satura, mas sim a má disposição daqueles que ali se transportam. Obviamente que há excepções, mas talvez por morarem longe do trabalho, o cansaço seja maior e acabam por descarregar em quem lhes aparece á frente - o motorista, logo que abre a porta.

Uns é porque o autocarro está atrasado, outro é porque só passam uns para o Sr.Roubado, outros é porque está muito calor, outros porque têm frio e hoje até da luminosidade se queixaram. Não é que o autocarro fosse ás escuras como é óbvio, até porque a noite já começava a cair, mas um toque sistemático na campainha "Stop" e ninguém a sair pela porta da retaguarda é no mínimo suspeito e só há três hipóteses:

1) O passageiro honesto que se engana e pede
desculpa...

2) Alguém que não tem nada para fazer e decide
brincar com quem está a trabalhar e com os restantes passageiros...

3) A passageira que vai tocando até ver que é
realmente o local indicado para sair... porque tá escura a rua.



Pode parecer irónico e até anedótico mas não é. Hoje foi mesmo a 3ª hipótese a vencedora e á terceira paragem sem ninguém sair, aguardei mais uns instantes a ver se alguém se acusava, até que lá se ouviu o «desculpe sr.motorista. Enganei-me. É para a próxima... É que a rua está escura e não sei bem onde estou!»

Também por ser fim-de-semana há sempre quem não tenha nada para fazer e decida entrar num autocarro sem destino. Assim foi com o senhor que ao chegar ao terminal de Odivelas, me questionou se era ali o final da linha.

Passageiro: «Desculpe, mas é aqui que acaba?»
Motorista: «É isso mesmo. Termina aqui!»
Passageiro: «Muito bem. Então e não sabe onde se pode beber aqui uma imperial?»
Motorista: «Experimente ali no Café em frente»
Passageiro: «E acha que tenho tempo de o voltar a apanhar para regressar? É que eu estou em passeio para me distrair sabe!?...»
Motorista: «Se conseguir beber a imperial em 9 minutos ainda apanha este, se não vai no próximo que também não tem pressa não é verdade...»
Passageiro: «É verdade amigo. Então e não vai uma imperial ou um cafézinho
Motorista: «Não, muito obrigado, mas quando conduzo não bebo»

E entretanto lá foi o senhor ao café onde entrou com um pé e saiu logo de seguida com o outro, talvez com receio de perder o autocarro. Abriu o chapéu de chuva e lá correu a atravessar a rua para se dirigir á paragem onde voltou a entrar dizendo que «afinal nem bebi a imperial. Depois estaria aqui muito tempo á espera do próximo e assim vou já consigo...», e lá veio o senhor de novo até ao Cais do Sodré, numa viagem onde voltei a ver uma vez mais que.

E assim foi a manhã, a tarde e quase a noite, dada a extensão do serviço, num dia onde uma vez mais alguns taxistas decidem deixar mais uma nódoa em todo um sector, ou porque não facilitam a saída da paragem ao autocarro ou porque aceleram para depois travar á frente do autocarro só para apanhar um passageiro e como prova a foto deste post, para estorvar a paragem do autocarro como acontece habitualmente nesta paragem em Odivelas na Rua D.Diniz e no centro de Lisboa, no Rossio. Haja paciência!

Boas Viagens!

6 comentários:

Condutor do TXXI (actualmente suspenso por uma semana) disse...

Boas!

Embora não saiba qual o autocarro em questão calculo que seja um Mercedes-Benz OC500 LE com carroçaria Irmãos Mota Atomic Urbis (vidros escuros) que em dias com fraca luminosidade é obrigado a andar com as luzes interiores ligadas o dia quase todo, e quando já noite, refletem nos vidros, e custa imenso a ver para a rua. Eu que vejo bem, tenho dificuldade em ver em que zona do percurso estou, o que fará uma pessoa que vê mal e que até possa não conhecer muito bem o local. Provavelmente foi esse o problema da passageira.


Quanto aos suburbios e ambiente e regalias de trabalho/empresa, dá graças a deus não trabalhares na RL, Vimeca, TST ou Barraqueiro e sabes bem porquê.

Cumprimentos

André Bravo Ferreira disse...

"(...) e lá veio o senhor de novo até ao Cais do Sodré, numa viagem onde voltei a ver uma vez mais que. (...)". Desculpa Rafael mas termina assim?

De facto os taxistas dão muita água pela barba a todos os outros condutores, ainda na 6ª vi uma cena que só visto. Parecia mesmo filme!

Grande abraço.

Anónimo disse...

Caro Rafael, aposto que não sabia mas sou leitor assíduo do seu blog e como pude constatar, o caro amigo gosta muito das carreiras 745 e 36, pois bem seja feita a sua vontade, sempre que puder vou colocar o meu caro amigo nas suas carreiras preferidas, bem haja.

SR.Escalador

Rafael Santos disse...

Lolada! Sr.Escalador

Bem haja também para si, que há muito que não o via por cá. Pois só o tenho visto lá pr'o comércio...

José disse...

Ainda há mais uma hipótese para a razão dos toques e que eu era especialista nas minhas primeiras viagens de Carris nos tempos mais recentes: Agarrar-me ao varão em cima do botao de pedido de paragem. Agora já é raro isso me acontecer mas repeti a gracinha na minha última viagem. É claro que fiquei a rezar a todos os santinhos para que houvesse alguem que quizesse sair na paragem seguinte.

Angelo disse...

Sr Escalador, não seja assim!

Essa história da imperial é genial!

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