terça-feira, 7 de julho de 2009

745 - Do Prior Velho a Santa Apolónia, muita língua se fala... e muita coisa se vê

Há dias e dias e hoje foi daqueles dias que nem me custou muito sair de casa. O pior mesmo é que numa profissão como a de motorista ou até guarda-freio, como tantas outras, nunca se sabe o que poderá acontecer porque cada viagem é diferente e com pessoas diferentes. Podem dizer que é mania minha, mas um facto é que se consegue distinguir as pessoas pela carreira ou se preferirem, as carreiras através das pessoas.

Num serviço de médias já se apanha pouca gente que vai a caminho do trabalho, a não ser os que tenham empregos que permitem a entrada mais tarde. O que é certo é que se apanha o regresso a casa de muita gente. Uns mais bem dispostos que outros... Uns educados outros nem tanto!

Hoje tive uma média na 745, ou seja, mais precisamente entre as 9h30 e as 19h11 com a respectiva pausa para almoço. A parte da manhã até passou bem e as duas viagens que fiz do Prior Velho para Santa Apolónia, provaram-me que embora possa parecer estranho, o Verão está aí, dado o elevado número de turistas que este ano escolheram Lisboa como destino de férias.


«Hola, passas en el Rossio?», pergunta uma espanhola, já depois da italiana ter perguntado «Questo autobus è al Restauradores?», é uma mistura de línguas no terminal de chegadas do Aeroporto de Lisboa e todas elas com pressa de chegar ao centro da cidade, como que se fosse o último destino de férias das suas vidas. Ainda estou a terminar um troco a um inglês que me tinha pedido cinco bilhetes e já tenho um francês "colado" na banqueta com um mapa a perguntar-me se «Je peux aller au château S.Jorge, dans ce bus?», apontando-me com o seu indicador para o castelo de São Jorge desenhado num mapa que deve ter recolhido no posto de informações do Aeroporto.

Uma manhã multilingue que contrastou com uma tarde em que foi necessária apenas uma língua para se perceber que um passageiro não havia ficado satisfeito com o troco que lhe tinha dado. Também entrou no Aeroporto e pediu-me «um bilhete para Entrecampos», ao mesmo tempo que colocava na banqueta 1,50€... "Tecla 1" na máquina de venda, "OK" e "Imprimindo Bilhete"! Troco: 0.10€ em moedas de 1 e 2 cêntimos que ainda nem tinham tido tempo de entrar na bolsa, porque tinham sido dadas pela passageira anterior que tinha comprado bilhete.

«Desculpe lá mas não me vai dar esse troco com essas moedas pois não?!»... "Sim é o seu troco. Não é dinheiro?"... «Mas essas moedas não dão pr'a nada»... "Se não quiser pode deixar, mas olhe que é dinheiro!"... «Vou ter de comprar bilhete na máquina em Entrecampos e não aceita essas moedas!»... "E já viu se eu dissesse isso a todos os passageiros que se apresentam a comprar bilhetes com estas moedas?! Não vendia bilhetes!"... E lá se foi sentar com as moedas no bolso porque lá deve ter chegado à conclusão que não tinha razão nenhuma e que só ali estava a empatar os restantes.

E porque não há uma sem duas nem duas sem três, chego ao terminal de Santa Apolónia, faço a folha no final da viagem e dou a habitual volta ao autocarro para ver se não havia ficado nada esquecido! Num primeiro olhar parecia que tudo estava como devia ser, mas um pequeno pormenor no banco do meio da última fila, leva-me a redobrar o olhar e a verificar que estava mesmo algo esquecido. Propositadamente, talvez por alguém que ainda não saiba o real significado do objecto. Talvez para gozar com o motorista ou até mesmo com os restantes passageiros, mas o que se espera realmente é que o artigo (preservativo - ver foto) deixado na ultima fila do autocarro, sabe-se lá por quem, não venha ainda fazer falta a essa mesma pessoa que o deixou lá!


E assim andam os passageiros da 745 uma carreira onde os opostos se atraem...


Boas Viagens!

7 comentários:

Vasco Lopes disse...

Realmente só contigo...
Da outra vez foi uma dentadura, agora um preservativo? Os teus passageiros são um bocadito para o estranho ;)

André Bravo Ferreira disse...

Realmente, os passageiros são um tanto ou quanto estranhos.

Ao fim do ano, se juntares esses objectos todos dá para vender na Feira da Ladra.

Grande abraço.

André Bravo Ferreira

Anónimo disse...

Tal como tu dizes, conhecemos os passageiros pelas carreiras e vice-versa, sendo uma carreira que sai do prior velho não é de admirar deixarem isso no banco, é só para o gozo,se fosse há uns anos atrás ainda devia chocar alguem, mas agora isso é tão banal que nem vejo a piada de brincarem com isso, enfim...
fica bem.

Lagrill disse...

Isso de teres uma manhã multilingue, acho melhor ires te habituando, para quem vai para os electricos. Lá apanhadas de tudo, menos portugues.

Pereira disse...

Vou-te deixar aqui um convite se estiveres interessado.
Quando tiveres oportunidade convido-te a fazeres umas viagens na carreira 750, mas aos domingos e com bom tempo.
Podes crer que vais achar.....didáctico.

André Bravo Ferreira disse...

Já o fiz uma vez e desde miúdas a soltarem gases, fecharem as janelas todas do autocarro, as pessoas a abrirem-nas por causa do mau cheiro e elas a fecharem novamente, duas imigrantes a discutirem uma com a outra cada uma na sua língua acho que vi um pouco de tudo.

Grande abraço.

André Bravo Ferreira

Boboquinha disse...

Brincadeira de adolescente... esperemos!

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