domingo, 7 de junho de 2009

Duas horas e meia real(mente) diferentes do habitual na 22

Três dias passaram desde o último artigo publicado, sinal que nada de anormal constatei nos restantes serviços que fui tendo pela 742, até porque a semana foi praticamente toda nesta carreira com a excepção feita para a quarta-feira, onde andei pela 755. Hoje e para terminar a semana, calhou-me na escala o serviço de ordens das 14h00, ou se preferirem, o plantão das 14h00 para o que der e vier!

Para começar tive de trocar um autocarro na carreira 108 devido a uma avaria no equipamento de venda a bordo. De regresso à estação, restou-me aguardar que surgisse algo, ou melhor, que não surgisse nada para ter um resto de serviço mais descansado porque sabe sempre bem um pouco de descanso ainda que estejamos em serviço.

Comigo estavam outros colegas, também eles no serviço de ordens e outros a pedir ligação, e quando se ouve a fechadura da porta da expedição abrir, é mau presságio...

«Uma hora para jantar» e depois teria de «estar no Areeiro para render a chapa 3 da carreira 22 ás 20h18, num serviço até ás 22h31 a recolher na Musgueira», avisava-me o expedidor de serviço neste domingo.

E quando tudo apontava para ser mais um dia tranquilo e sem nada a registar, até porque na estação, o que haveria mesmo para contar eram as histórias que alguns motoristas já viveram, eis que rendo o colega já no Areeiro e com destino à Portela e me deparo com a primeira situação já na primeira paragem da Av.Gago Coutinho.

Ao aproximar-me da paragem um rapaz com cara meio de gozo olha-me fixamente como que pensando "já vou enganar mais um" e entra no autocarro educadamente dizendo «boa noite, queria um bilhete por favor...» colocando na banqueta 1.40€ em moedas de 5 cêntimos e todas elas muito juntinhas, tal e qual como as peças de um dominó como que acabadas de serem derrubadas.

Preparava-me então para contar as 28 moedas que viriam a dar 1.40€, até porque, a forma estranha como todas as moedas estavam tão juntinhas levava-me a conferir moeda a moeda e a redobrar a atenção, até que, a certa altura da contagem surge uma com um desenho diferente das já conhecidas moedas de cêntimos. Pois lá estava de novo uma da família do Real Brasileiro. 5 CENTAVOS! «Desculpe mas esta não vale aqui...» informei eu o passageiro que para meu espanto e já depois de observar a moeda em questão me questiona o "porquê?"

"Porque é brasileira e o Brasil ainda não faz parte da Europa...", esclareci eu o «distraído» passageiro que de imediato retirou do bolso a 28ª moeda de 5 cêntimos, guardando a de 5 centavos... Se eu adivinhasse o Euromilhões é que era!!!

Mas não iria ficar por aqui as aventuras deste dia e já no final da viagem, aparece uma senhora no terminal da Portela, a perguntar-me «não ficou neste autocarro uma espada esquecida?», desculpe, disse uma espada?... «sim daquelas dos miúdos brincarem, com luzinhas. Liguei para a Carris e disseram-me que estaria no próximo autocarro que havia de passar...», pois como tinha acabado de render no Areeiro e o colega não me tinha dito nada (talvez por esquecimento), e como espada nem via nenhuma, disse-lhe que provavelmente era no seguinte.

Mas já no Marquês Pombal, quando dou a volta ao autocarro para ver se tinha ficado algo esquecido, eis que encontro a dita espada, em cima da plataforma das bagagens, junto ao rodado esquerdo da frente.

E afinal a espada estava mesmo naquele autocarro, pelo que agora se encontra já na estação da Musgueira à espera que o dono a vá buscar...

De regresso à Portela para a última viagem antes de recolher, uma série de passageiros nas paragens á procura de alternativas a um metropolitano que tinha a linha azul interrompida. Uns para rumarem à Baixa e que optaram por ir comigo até à Estefânia para apanharem o 60 e outros queriam ir até ao Areeiro para apanharem a linha verde para o Campo Grande e o curioso que observei em todos eles foi que nenhum disse "boa noite" e entraram no autocarro como que se estivessem em desespero para saírem do Marquês ou da Duque de Loulé.

«Passa no Areeiro?»....
«Como é que eu faço para ir p'o Campo Grande?»...
«O senhor diz-me como posso ir para a Baixa?»...

E a resposta inicial foi igual para ambas as questões: "Boa Noite!" e lá iam dizendo... «Sim, boa noite, tem razão desculpe!», tendo de seguida cada um deles a resposta mais adequada, sendo que à senhora da Baixa ainda sugeri apanhar o 745 no outro lado do Marquês mas a mesma fez questão de ir até à Estefânia porque não queria atravessar o Marquês de Pombal.

Metro a metro lá fui chegando até à Portela, mas não sem antes entrar na Gago Coutinho, o primeiro cliente da noite que me disse boa noite! Era um colega que gozava o último dia de folga desta semana. Com ele entraram mais uns quantos passageiros o que deu para compor um pouco a "plateia" de uma cena que mais parecia teatro!

Uma senhora na casa dos 50 anos entra acompanhada de um amigo também na mesma faixa etária, mas com eles vinham uns «copos» a mais... E nem uma paragem aguentou sentada a senhora que a meio da Gago Coutinho se dirige a mim, já em desequilíbrio e debruça-se na banqueta e diz-me: «Depois não se importa de me dizer para sair quando chegarmos ao Cinema da Encarnação?», mas como nunca tinha ouvido falar em tal... "desculpe, mas não faço ideia onde fica!", ao que de imediato quase que fui agredido com um olhar incrédulo e estupefacto acompanhado da indignação das palavras «Não Sabe?!», era suposto saber tudo ???

Entretanto ligou para uma amiga que já estava no tal cinema, que lá lhe disse que era mesmo na Encarnação, tendo o meu colega que viajava no autocarro tendo esclarecido a senhora que teria de descer na paragem do Mercado Norte. Enquanto isto, já a amiga avisava a senhora que o seu ex-marido estava por lá com a namorada nova...

«Hoje é que vai ser bonito, dar-lhe naquela cabeça perante tudo e todos!... Sr. Motorista não quer ser meu guarda-costas? Vou dar porrada ao meu marido e preciso de guarda-costas», dizia-me ela com um ar de quem já estava a ver 3 ou 4 motoristas num só autocarro. Como já me tinha apercebido da situação, apenas lhe disse que "o melhor seria mesmo a senhora sentar-se para não cair, s.f.f."

Já sentada, lá ia falando alto e maquilhando-se, ao mesmo tempo que dizia «vai ser lindo e nem quero saber da namorada dele. Se ela é a namorada eu sou a marline monroi»[tal e qual como ela disse]

Lá saiu na paragem certa e juntamente com ela alguns passageiros que foram abordados para serem guarda-costas da senhora... Isto realmente é melhor que ir ao teatro!

E pronto para terminar a semana digam lá que há melhor! Até os dois jovens que foram até à Portela diziam «é só personagens...»

Fotos de Rafael Santos / Moeda 5 cêntavos obtida no fórum-numismática.com

2 comentários:

André Bravo Ferreira disse...

Uma espada no autocarro, deviam ser os Jedis em busca do Darth Vader.
Para acabares a semana calhou-te um belo serviço.

Grande abraço.

André Bravo Ferreira

Unknown disse...

Cuidado também com as de 10 centavos, pois são muito parecidas com as de 10centimos

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