quinta-feira, 16 de abril de 2009

O dia do «sr.funcionário da Carris» na 742...

Se é seguidor deste blogue, já reparou certamente que a carreira 742 é talvez aquela que causou mais histórias aqui relatadas neste espaço on-line, talvez por ser das maiores e por passar em muitas freguesias, com "fregueses" de todos os modos e feitios.

Hoje lá andei de novo na 742 e se este espaço tivesse mesmo linhas e argolas do lado esquerdo - tal e qual aqueles cadernos diários - que normalmente são mais utilizados pelas raparigas nos tempos de escola, hoje poderia escrever como tinha corrido o meu dia não numa mas em duas páginas.




«Pela manhã o sol espreitava pela janela, e tudo fazia prever que a chuva já tinha ido pregar para outras freguesias, mas quando saio da escada, logo enfrentei uma brisa vinda de norte que afinal contrariava o meu pensamento quanto à chuva. As nuvens cinzentas lembravam que talvez seria melhor levar o chapéu de chuva, mas se há algo que detesto é andar com chapéus de chuva. Esqueço-me sempre deles em algum lado...

A minha primeira paragem não é a da carreira, mas sim para beber um café - algo que já não consigo dispensar pela manhã - e comer algo para aconchegar. Ainda na pastelaria, uma idosa pede para embrulhar uma bola de Berlim com creme. Confesso que estavam com bom aspecto, mas nem me passaria pela cabeça por logo um monte de gordura e óleos no estômago pela manhã. A senhora perguntou se era "d'hoje" e o empregado da pastelaria percebeu "duas". A senhora corrige-o e diz que é apenas uma, ao que o empregado responde que talvez fosse "mais fácil vender bilhetes na Carris do que entender quem vai ao café pela manhã", estando certamente a meter-se comigo. A senhora percebeu e disse: "O sr.Pinto está a dizer isso porque está aqui o sr.funcionário da Carris", expressão mesmo à antiga maneira portuguesa.

Mas adiante... Já com o depósito composto, entro no metro rumo ao C.Sodré, onde entrei a bordo do 15E rumo a Alcântara onde iria iniciar o serviço. A passagem do comboio de mercadorias em Alcântara e um carro da 60 avariado na Calçada da Tapada, levaram a que a minha chapa chegasse um pouco atrasada á rendição. Já na P.P.Couceiro, o colega da central pergunta-me se tenho condições de
fazer transbordo em Xabregas para a chapa de trás que estava já junto á minha.


Chegado a Xabregas, e como não haviam muitos passageiros no interior, perguntei se algum dos presentes se importaria de passar para o autocarro de trás pelo facto do meu estar atrasado e estar ali outro para o Bairro Madre Deus. A reacção foi unânime. Todos se levantaram tal e qual como se estivéssemos num estádio de futebol a fazer a onda nas bancadas. Todos pareciam concordar, mas todos ou quase todos também reclamaram que não fazia muito sentido mudar de autocarro e que já era costume ultimamente. Ou seja, primeiro todos concordaram, mas não abandonaram o autocarro sem antes me brindarem com umas palavras num tom mais alto...

Feito o transbordo, informei a Central e dei início à viagem rumo ao Casalinho da Ajuda. A primeira passageira entrou na Av.Afonso III junto ao posto médico e admirada com o facto do autocarro estar vazio, perguntou-me «formou aqui não?! Está vazio!...» Não estava á espera de tal afirmação e por instantes recuei no tempo, lembrando-me de um dos trabalhos que tive na televisão, quando estive a gravar o programa "Primeira Companhia" - o Reality Show da TVI, onde os concorrentes seguiam ordens dos instrutores tal e qual como na tropa e a frase "Tá a formar..." ao som da corneta também não faltava.

Coincidências à parte, o serviço foi decorrendo dentro da normalidade, mas ainda assim cheguei ao Casalinho da Ajuda e uma resistente permanecia sentada na cadeira. Percebi que a senhora não estava a conhecer o local e lá lhe informei que estava no terminal da carreira. Algo descrente em si mesma, disse «que disparate! Já no outro dia me aconteceu o mesmo...Então mas não vai para a Universidade?!" Expliquei-lhe então que alternadamente ia um autocarro 742 para a Universidade e a senhora lá foi dizendo que "pois, e eu pensava que os que vinham para o Casalinho também lá iam dar a volta. Mas pronto agora já sei!"

Voltou a entrar e quando eu pensava que iria sair na paragem onde poderia apanhar o outro que ia para a Universidade, continuou viagem. Vai-se lá entender estas pessoas... De seguida foi a vez de receber a sempre bem-vinda equipa de fiscalização, que apanhou um passageiro sem título válido - daqueles que simulam que passam o passe! Acho que nunca se tinha sentido tão observado o jovem que acabou a viagem na 742 com um recibo de 140 € para pagar, por não
ter pago 1.40 €...


Hoje foi assim o dia, amanhã logo se verá como corre, mas quanto ao tempo, ouvi dizer que ia chover, algo que me deixa chateado, porque já tenho saudades do Sol, do calor e de tudo o que daí advém...»


Hoje para variar foi em jeito de diário, mas o próximo post já será nos moldes habituais. :)

Boas Viagens!

5 comentários:

André Bravo Ferreira disse...

Infelizmente ainda há muita gente que anda de borla nos autocarros mas como costumo dizer muitas vezes, hoje em dia isto está bom é para os bandidos.

Grande abraço.

André João Ferreira

Duende disse...

Tanta vez que eu andei no 742!!! mas com passe social :D

aras disse...

ola ola!
Adorei visitar o teu "diario"! é curioso ver que os teus relatos do dia a dia de trabalho são semelhantes aos meus , com a diferença que relato-os apenas para "os meus lá de casa" quando chego ao final do dia!

Espero que chegue depressa o verão para vires "por uns pontos de corrente"!

he he he

Unknown disse...

Parabens pelo blog esta muito engraçado.

é chover e não chuver

anda assim tanta gente nos autocarros sem pagar???

o motorista é responsável pelo nº de passageiros sem bilhete ou nem por isso?

tg disse...

Eu ate gostava do 742, mas tenho vindo a reparar que esta carreira é um autentico fiasco de eficiência. Para alem de tempos de espera fenomenais, é mestre em fazer a pior coisa possível ao utente... Ou seja 20m de atraso e aparecem 3 742 coladinhos uns aos outros. Aqui há dias aprendi da pior forma possível que se o primeiro autocarro for a abarrotar o segundo nem se digna a parar (se nao houver ninguém para descer), o que é no mínimo: triste ( especialmente com a poupança de AC que caracteriza a Carris). Portanto, posto tudo isto, pergunto: Porque e que tenho que aturar os cartazes a dizer "Empresa mais eficiente" que a Carris espalha por todo o lado?

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